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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A esperança

Ao meu amigo Massano Cardoso, no seguimento do sofrido post que ontem editou, Uma questão de tempo.

Pandora foi esculpida em barro por Hefesto, filho aleijado de Zeus, e recebeu de Atena o sopro da vida. Educada no Olimpo, teve nos deuses os melhores mestres das artes e da sabedoria. Chamada à presença de Zeus, este não resistiu à sua beleza, escolheu-lhe um marido, Epitemeu, e ofertou-lhe uma bela caixa de cobre reluzente. Mas ordenou-lhe que nunca, mas nunca, a abrisse. Pandora teve muitas vezes a natural curiosidade de abrir a caixa, mas, lembrando-se da ordem de Zeus, e para melhor resistir à tentação, entregou a chave ao marido, que muito desconfiava dos presentes dos deuses. Um dia, foi maior a curiosidade e, apanhando Epitemeu a dormir, tirou-lhe a chave e abriu a caixa. Num sopro medonho, dela logo saíram todos os males do mundo, a pobreza, a velhice, a inveja, vícios, paixões, desconfiança, o sofrimento e a doença. Desesperada e revoltada, Pandora tentou fechar a caixa, mas era tarde de mais. Todavia, num último olhar desolado para a caixa entreaberta, viu que lá no fundo, bem no fundo, muito escondida e silenciosa numa prega do forro, alguma coisa ia reluzindo. Pegou-lhe, com cuidado. Era a esperança!...
Um abraço



8 comentários:

Bartolomeu disse...

Porque terá Zeus oferecido a Pandora, uma caixa onde eram guardados todos os males?
Para que eles se espalhassem pelo Mundo; ou para que Pandora descobrisse a Esperança e a forma de minimizar os males do mundo, fazendo dela bom uzo?
Será a Esperança o produto da fraternidade e da solideriedade humana?
Será a comunhão? Será quando choramos e o nosso choro é sentido e comungado pelos nossos semelhantes, a esperança redobra de tamanho?
Se assim é, aquilo que aquele Rapaz que faz anos a 25 deste mês, nos deixou dito, faz todo o sentido « Amai-vos uns aos outros...»
Mas não podemos amar-nos, ou pensar que nos amamos e em seguida fartar-nos uns dos outros, afastar-nos uns dos outros, olharmos com desdem, uns para os outros, olharmos com superior atitude, uns para os outros.
Amarmo-nos uns aos outros, exige acima de tudo que nos consideremos convictamente, iguais uns aos outros, peregrinos, caminhantes num caminho difícil, que só atingirão o destino com sucesso, se dando as mãos se ajudarem mutuamente a ultrapassar os obstáculos.

Massano Cardoso disse...

A Esperança tem um sabor e significado muito poderoso, sem dúvida, e só tem sentido no contexto dos males do mundo. Para que possamos senti-la, apreciá-la, desejá-la e saboreá-la, os deuses fizeram o que fizeram e criaram a última palavra que os homens conseguem compreender. Depois dela, não existe mais nada...
Um abraço

MM disse...

Costumo dizer que nao ha nada que chegue a um "ombro amigo" para ajudar a suportar as mas surpresas da vida. Felicito o Prof Massano pelo "ombro amigo" que tem, bem expresso no post, e o Sr. Dr. Pinho Cardao pela forma elegante como conseguiu explicitar os seus afectos. Animo, Prof Massano!

JotaC disse...

Caro Drº Pinho Cardão:
Excelente post

Nunca, até agora, tinha pensado na palavra "esperança" como sendo a palavra mais presente e importante das nossas vidas!.
Antes de nascermos, já as nossas mães estavam de esperanças(!); quando viajamos ou quando padecemos de um mal é, ela, que nos ocorre como antídoto aos nossos medos, de acidente ou de morte insperada; e é também ela que nos faz prosseguir no sofrimento...

Suzana Toscano disse...

A parte mais conhecida da lenda fica-se pelos males à solta, o fundo de esperança não foi o que passou para a memória colectiva e, no entanto, é o que dá sentido à lenda, sem esperança não há forma de combater o sofrimento. excelente inspiração, caro Pinho Cardão, a ajudar a manter o ânimo!

Ilustre Mandatário do Réu disse...

a esperança é a antecâmera da fé.

[já agora era uma jarra e não uma caixa.]

Pinho Cardão disse...

Caro Ilustre Mandatário:
Tudo bem, mas a jarra tem chave?

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Meu caro Pinho Cardão, a versão que refere é a de Hesíodo nos "Trabalhos e Dias". Citando a tradução de José Ribeiro Ferreira:

"Mas a mulher, levantando com a mão a grande tampa da jarra,
dispersou-os e ocasionou aos mortais penosas fadigas.
E ali só a Esperança permaneceu em morada indestrutível
dentro das bordas, sem passar a boca nem para fora
sair, porque antes já ela colocara a tampa na jarra,"

Por outro lado é feita referência numa nota de rodapé ao final da Ilíada onde se escreve (tradução de Frederico Lourenço),

"Pois são os jarros que foram depostos no chão de Zeus,
jarros de dons: de um deles, ele dá os males; do outro, as bênçãos."

Sendo por isso sugerido que Hesíodo tenha misturado o conteúdo de ambos os jarros.

Mas voltando à época (Hesíodo viveu há 2700 anos e Homero há 3200 anos, as lendas serão ainda mais anticas), as caixas não seriam comuns. Ânforas e jarras seriam os recipientes normais para guardar coisas.

Pensava que uma caixa (com uma dobradiça) e mesmo uma chave e respectiva fechadura seria tecnologia demasiado avançada mas aparentemente a primeira chave conhecida é do Egipto, há cerca de 4000 anos. Mas a Grécia seria território muito primitivo nessa altura.