“Eu, abaixo-assinado, declaro por minha honra, que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”
Já perdi a conta às vezes em que pronunciei alto e em bom som, e com determinação, este juramento. Faço-o sempre com convicção, com respeito pela honra que me é atribuída ou pela alegria da conquista que me levou àquele momento, caminhos nem sempre fáceis, longos, por vezes dolorosos, mas sempre pautados por princípios e, sobretudo, pela lealdade às instituições, às pessoas com quem me cruzo e a mim próprio.
Coloco com extrema e apetitosa facilidade muitas esperanças nos preferidos, escolhidos ou aprendizes. É natural que tal aconteça, no fundo não é mais do que o resultado de uma simbiose em que o meu desejo se combina com a qualidade intelectual do candidato. Umas vezes bate certo, outras nem por isso, por várias razões. Não excluo que possa ter alguma quota de responsabilidade nalgumas situações, embora considere um paradoxo, porque seria o equivalente à autodestruição de uma vontade. No entanto, nem sempre as coisas correm de feição, incompreensivelmente começam a surgir de tempos a tempos sinais, pequenos e espaçados, que me fazem pressentir o pior. Tento negá-los, embora sinta que é apenas uma esconjuração pagã a deuses já jubilados. Quando a situação se agrava, sinto que começo a esmorecer e faço todos os possíveis para evitar o abandono, que ameaça destruir futuros que esperava serem abençoados, mas não, o conformismo instala-se como se fosse um direito, obrigando a esquecer o que nunca deveria ter sido olvidado. É então que o fenómeno de dessensibilização começa a impor-se; não sei se espontaneamente ou se construído. O que não deixa qualquer dúvida é o ajustamento à nova realidade que acaba por se impor como se fosse um direito. Os deveres esvanecem-se como uma tarde outonal e as promessas são momentaneamente requentadas como a quererem oferecer uma eventual refeição sem gosto.
Ficar preso e refém de boas vontades não é propriamente o mais indicado quando se pretende construir, dinamizar e inovar. O tempo passa, a angústia cresce, a alma fica destemperada e a vontade estremece em dilemas difíceis de solucionar. Até que chega um momento, o momento de desistir ou tentar, num último fôlego, em que a idade e a doença são determinantes, fazer qualquer coisa. Quase que me apetece dizer que o melhor é desistir, porque as melhores soluções não são compreendidas, não são aceites e passam a ser sinal de iniquidade e de deslealdade, como se as regras do jogo construídas pela vontade de terceiros fossem as mais respeitáveis e as mais nobres.
Não entendo, mas deveria entender que este mundo não é para todos, apenas para alguns, para os que distorcem as regras a seu belo prazer ou de acordo com as necessidades de momento.
Quando a angústia nos invade como se fosse uma coluna de gelo a querer emergir em pequenas gotículas de suor frio é altura para pensar, para parar, para refletir e sobretudo para anonimizar. É o que me acontece neste momento, em que não basta ter razão, nem ser suficiente a invocação do passado, quer o mais afastado, quer o mais próximo, em que a perplexidade e a necessidade de proceder a mudanças foram mais do que esclarecidas e, entretanto, regiamente esquecidas.
Podemos ser o melhor do mundo, o exemplo, a integridade em pessoa, mas se tivermos que aplicar os princípios que deverão nortear o comportamento das pessoas então corremos o risco de sermos considerados como desleais. Depois, depois é o habitual, reconhecem ou tentam reconhecer que a situação é delicada, interiorizam o problema e solicitam humildemente nova oportunidade. O pedido feito nestas condições acalenta mais uma vez a frouxa chama da esperança, que um dia não mais bruxuleará, e, desejoso de aliviar a malvada angústia, acabo por aceitar. Faço bem? Não interessa. O melhor é cavalgar a todo o galope para me embrenhar no deserto dos não humanos. Não sei onde fica, mas deve ser o lugar mais encantador para viver ou descansar e, se possível, no mais profundo e perfumado anonimato.
2 comentários:
Aqueles que sonham, e em nome desse sonho empenham a palavra, a honra, a dignidade. Aqueles que sonham construir, dinamizar, inovar, empenhando para alcançar esses objectivos, toda a sua força, todo o seu ânimo... Para esses, as palavras e as acções desconchavadas com que tentam agredir-lhe a integridade e enfraquecer-lhe a vontade, não contam. As que contam, são aquelas em que se pode rever como num espelho polido, um espelho onde resplandecem as emoções oferecidas pelos sentimentos que foram sentidos e pelas vidas que se viveram. A história pessoal fica escrita nessas páginas, caro Professor, não deixe que lha apaguem, ela é o seu legado.
Um abraço, Amigo!
Esta nobre expressão, lembra-me com frequência as tomadas de posse perante o PR: novo governo.
Particularmente, de alguns dos grandes valores que nos últimos anos têm zelado pelo país.
Durão Barroso e José Sócrates, dois belos exemplares das máfias partidárias. Ou deles próprios.
Sem ofensa para o distinto autor do post, esta lembrança pouco edificante.
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