1. O Tesouro francês colocou hoje no mercado dívida de curto prazo, “com a procura a disparar e as taxas de juro a afundar” segundo notícias há pouco divulgadas.
2. Concretamente, foram colocados € 7 mil milhões, dos quais: (i) € 1 mil milhões a 8 semanas, (ii) € 3,5 mil milhões a 12 semanas, (iii) 1 mil milhões a 25 semanas e (iv) € 1,5 mil milhões a 47 semanas.
3.A procura foi igual a 6 vezes (!) a oferta no prazo das 8 semanas, nos restantes prazos terá sido igual a 2 vezes a oferta. As taxas de juro baixaram em todos os prazos, com saliência para as 12 semanas, em que foi de 0,05% quando em leilão anterior para o mesmo prazo tinha sido de 0,22%...
4.Começa a parecer-me que há qq coisa de errado em tudo isto...
5.POR UM LADO, nos nossos meios mais eruditos continua a desancar-se, “ad nauseam”, a última e tenebrosa Cimeira europeia, bem como a timidez do BCE que não revelou a coragem suficiente para inundar a Europa de liquidez, comprando a saborosa dívida pública dos países sujeitos a “stress” financeiro, facilitando-lhes a vida e “resolvendo” a crise europeia...
6....como se a crise europeia fosse, na sua essência, um problema de financiamento dos défices públicos dos países cujos desequilíbrios orçamentais e desequilíbrios externos os conduziram a uma situação de difícil acesso ao mercado financeiro...
7.POR OUTRO LADO, os mercados - desde a realização da Cimeira e da decisão do BCE, de poucas horas antes, que criou uma nova linha de financiamento para os bancos, de longo prazo (3 anos) - têm mostrado crescente apetite pela compra de dívida pública em mercado primário, de que a Espanha primeiro e agora a França têm beneficiado...
8. Será que os mercados/especuladores não prestam a devida atenção às vozes proféticas dos nossos sábios comentadores (e tb de muitos comentadores por essa Europa fora) e ainda irão arrepender-se dos investimentos que estão fazendo sem dar atenção a esses doutos avisos, quando o Euro cumprir finalmente a profecia e soçobrar?
9.Ou será que os mercados/especuladores estão de olhos mais abertos que os nossos proféticos comentadores e já perceberam que essa teoria da falência da moeda única é mais para entreter auditório e que os problemas da zona Euro – eventualmente amputada do seu membro mais frágil – acabarão por ser resolvidos, certamente com grande esforço (e dor, até) mas sem dano de maior para os detentores privados de dívida soberana (que não grega)?
8 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Não sendo eu pessoa de conseguir interpretar os malévolos desígnios dos especuladores da economia de casino e dos grandes patrões da finança internacional, devo confessar que não deixa de ser estranho o facto de as agências de rating que os servem de forma sabuja atirarem cá para fora com a ameaça de downgrade e, contrariamente ao que seria de esperar, as taxas descem.
Poderia ser um terrível sinal de os mercados estarem a ignorar as directivas dos arcanjos da regulação, mas não me parece. Citando o grande Juca Chaves, "TEM TRUTA!". De qualquer forma, há que assinalar mais uns dias de silêncio do dueto fantástico e, só isso, até poderá explicar algum optimismo do mercado.
Seria possível analisar isto na perspectiva do antagonismo euro/dollar/yuhan etecetera?
Obrigado
Antes de deitar foguetes para o ar procura saber a quantidade de títulos adquiridos pelo BCE.
Caro Tonibler,
Existe de facto uma conjugação de cousas estranhas, dificilmente decifráveis, que os nossos comentadores/sábios/proféticos ainda não "surpreenderam" devidamente, apesar dos inesgotáveis recursos analíticos de que dispõem...
Caro mir,
Acontece que não encontro nesses drivers uma dimensão explicativa relevante para este efeito...
Não quero dizer que não exista relação nenhuma entre esses fenómenos, mas será de 2º ou de 3º grau...
caro Wegie,
Mas quem deita foguetes? O senhor? Não vejo mais ninguém nessa actividade pirotécnica...
O euro soçobrar...? Que peregrina ideia. O senhor Draghi explicou razoavelmente ao FT o que se passa. Com as linhas de 3 anos, a taxa de 1% e uma inteligente comunicação de quais colaterais o BCE aceita dos bancos, aliviou-se ligeiramente a vida dos banco para que possam estes aliviar ligeiramente a vida das soberanias mais atrapalhadas. Draghi não entrou nesse detalhe, mas é evidente que tudo isto tem que ser feito na maior subtileza para não prejudicar o essencial esforço que cada país tem de fazer para implementar as reformas estruturais que lhes permitam reduzir a dependência da armadilha de dívida em que caíram e ir ganhando confiança no médio prazo.
Quanto ao soçobrar, pode bem o euro chegar aos 90 centimos de dolar que não soçobra. Só significa que quem é inteligente e tem a economia diversificada e exporta para todo o mundo, vai duplicar as exportações.
Já para não falar em todos os que choravam por moeda própria para a desvalorizarem e com o euro a caír 20% dos 1,5 para os 1.2 ainda assim não conseguem descobrir mercados para os seus produtos e continuam de desculpa em desculpa a queixarem-se de alguma perseguição divina...
Cumps,
Buiça
Caro Tavares Moreira, admiro imenso quem procura sem dramatismos decifrar este emaranhado e os seus efeitos, mas a Espanha (Rajoy) anunciou hoje que vai cortar 16500 milhões na despesa, não vai aumentar impostos e vai, apesar de tudo, aumentar as pensões de reforma e, mesmo assim, teve esse êxito na colocação da dívida. Variam as receitas?
No meu ponto de vista, já não é a questão de o euro se manter, ou não.
Caro DR. Tavares Moreira; o grande peoblema com que a Europa se debate neste momento, é com o esgotamento de medidas, capazes de compôr a economia, de forma a poder continuar a favorecer os ávidos grupos económicos e financeiros.
Os sistemas económicos, políticos e financeiros, criaram um monstro, e esse monstro, não se sustenta com migalhas.
Caro Buiça,
O Euro já cotou a 0,82 centimos de USD...e nessa altura estava everybody happy...
Cara Suzana,
Se está a perguntar-me se prefiro a receita espanhola à portuguesa - que, como sabe, continua a agravar a tributação - respondo sem hesitar que prefiro a espanhola.
Ainda há pouco tempo aqui deixei bem vincada a minha mais profunda discordância em relação ao agravamento da tributação dos rendimentos da poupança e do investimento, aprovada na AR como moeda de troca por uma suposta concessão à excelente teoria da "equidade fiscal"...
Um "tiro/bazookada no pé" que nos vai custar bem caro...
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