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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Metidos entre a espada e a parede...

Nas últimas semanas, em compras de Natal e na resolução de problemas de natureza administrativa e burocrática que vão sendo empurrados para o final do ano, deparei-me com vários casos de jovens a trabalharem em tarefas ou funções completamente desajustadas da sua formação, do investimento que eles próprios, as famílias e o país neles fizeram. Não que seja uma novidade, mas transformou-se num problema.É que os jovens sendo o futuro de qualquer país merecem redobradas atenções. Precisamos deles e eles precisam de nós. Sendo jovens, apesar de hoje em dia estarem abertos ao mundo, de serem “viajantes” globais e de terem acesso ilimitado à informação, deveriam ser auxiliados nas suas escolhas e decisões em momentos importantes da sua vida, como é o caso das escolhas dos estudos, das vias profissionais, do enquadramento das suas expectativas. E sendo jovens as políticas públicas e a sociedade em geral, incluindo as estruturas empresarias, deveriam olhar e apostar neles como factor de dinamismo, empreendedorismo, inovação e qualificação. Penso nos muitos jovens que se encontram no desemprego, desiludidos e desnorteados, a braços com a ausência de perspectivas, com dificuldades de toda a ordem, com a necessidade de adiarem projectos normais de vida pessoal, familiar e profissional, forçados a não darem os passos da autonomia e responsabilidade que desejam ter e que são próprios desta fase da vida.Não admira que estejam a imigrar, à procura de um país que lhes dê as oportunidades de vida que Portugal não é capaz de proporcionar. São os mais ambiciosos, os que acreditam nas suas capacidades, dispostos a enfrentar desafios e riscos e, também, mais qualificados que partem, porque também são estes que melhores condições reúnem para interessarem empregadores estrangeiros.Seria uma mais-valia que fossem para fora por sua livre escolha entre o ficar e o ir, que o fizessem enquanto etapa de vida com vontade de regressarem e aqui constituírem família e se realizarem como pessoas e profissionais e ajudarem na sustentabilidade do país. Mas não, não é assim que as coisas se estão a passar. Partem porque desesperam com a falta de oportunidades ajustadas ao que sabem e sentem serem as suas possibilidades. Não é tanto uma questão de sobrevivência, mas uma questão de futuro.Numa das minhas idas às compras, tocou-me um episódio passado com uma jovem por quem fui atendida. Fiquei surpreendida com a resposta firme da colaboradora quando lhe perguntei pela composição da malha de uma camisola que me agradou. Tocou na camisola, voltou a tocar, e respondeu ser uma mistura de lã, caxemira e seda. Perguntei-lhe se tinha a certeza, se não seria melhor ler a etiqueta. Desconfiada, espreitei disfarçadamente. Confirmei. Simpatizei com a rapariga, o suficiente para fazer conversa. Tinha um ar fresco e delicado. Vim a saber tratar-se de uma rapariga licenciada em engenharia têxtil, com o curso e um estágio concluídos há cerca de dois anos, que finalmente tinha conseguido um trabalho de vendedora naquela loja, estava contente pois precisava de trabalhar e ganhar algum dinheiro para ajudar a mãe com quem vive. Aconselhei-a a não baixar os braços, a procurar um trabalho compatível com os seus conhecimentos universitários, os seus gostos e preferências. Com um sorriso algo esperançoso e orgulhoso disse-me que estava à espera de uma resposta de uma empresa industrial italiana. Tem confiança em ser seleccionada para aí fazer um estágio. Anda a fazer a mala e a tratar dos papéis. Vontade e amargura misturaram-se nas suas palavras, com os olhos postos entre o presente e o futuro. Fui atendida com um requinte profissional a que não estou habituada por estas paragens, mas à custa de uma distorção que não é de todo desejável.
São estes jovens que partindo vão cavar o nosso empobrecimento e envelhecimento. A factura poderá ser muito elevada. Estamos metidos entre a espada e a parede. A solidariedade inter-geracional está ameaçada...

8 comentários:

Bartolomeu disse...

Estas e outras questões de carácter geral que fazem a nossa sociedade pairar num limbo absolutamente irreal, ocupam desde ha muito o meu pensamento. Como gostaria de encontrar numa solução equilibrada, capaz de dar resposta, simultâneamente aos legítimos anseios de cada jovem, de cada pai, de cada empresário... de cada formador...
Em pequeno, lia com imenso interesse as histórias de Asterix o Gaulês. Deliciavam-me as aventuras em que os três famosos personagens; Asterix, Obelix e Ideiafix se envolviam, acabando sempre por derrotar as legiões romanas que faziam os possíveis por lhes conquistar a aldeia em que viviam, graças à poção mágica, preparada pelo druida Panoramix, a qual lhes conferia força sobre-humana.
Voltando ao assunto do post e à inquietação que ele me provoca, reflicto: Se fosse somente o nosso país a estar em crise, concordaria que a solução para os nossos jóvens, fosse encontrada, emigrando. Mas na verdade, temo que a opção de emigrar, venha a criar um problema ainda maior, tanto para para os jóvens, como para todos. Isto se pensarmos que poucos serão aqueles que encontrarão no estranjeiro, empregos que lhes satisfaçam as legítimas expectativas, enquanto isso, a implacável lei da vida, não os isentará de envelhecer e um dia, quando pretenderem regressar ào seu país, à sua casa, encontra-lo-hão mais falido e menos próspero. Um país onde não desejarão habitar e que voltarão a abandonar.
Mesmo que não achemos um druida capaz de num enorme caldeirão, cozinhar a poção mágica de que os nossos jóvens necessitam, compete-nos exultá-los a lutar pela sua terra, a criar e a construir o progresso.

Joao Jardine disse...

Cara MargaridaC Aguiar

A solidariedade inter geracional já não existe (basta falar com a malta de 20/30)o que está a desaparecer são os contribuintes para o estado social....
Cumprimentos
joão

Suzana Toscano disse...

Margarida, a perspectiva do caro joão Jardine é bem verdadeira, os jovens acabam por organizar a sua vida e o elo geracional é cada vez mais fraco. Restam talvez os laços afectivos para impedir que se quebre completamente...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
O ponto a que chegámos não surgiu de repente. Há muito tempo que não cuidamos de ter uma visão para o país. Políticas erradas e a omissão de decisões importantes conduziram-nos à situação muito difícil em que nos encontramos.
Perdemos muito tempo que já não é recuperável. Custa a crer que quiséssemos um país assim. Às vezes penso que nos fomos "suicidando" aos poucos.
Caro Bartolomeu, de acordo que "compete-nos exultá-los a lutar pela sua terra, a criar e a construir o progresso". Mas, agora, como?
Caro João Jardine
A inviabilidade do Estado Social como o conhecemos já é conhecida há muito tempo e vai atingir em especial as gerações mais novas que não vão querer pagar impostos para manter os benefícios económicos e sociais que as gerações mais velhas para si garantiram. A emigração dos jovens só vem agravar esta situação.
Suzana
Os laços afectivos são os mais importantes. Se estes se quebram a solidariedade inter-geracional desaparece, no sentido económico e social. A emigração dos jovens não ajuda em nada esta perspectiva tão importante.

JotaC disse...

Cara Drª Margarida,
Votos de Bom Ano!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Obrigada, Caro JotaC, também lhe desejo um Bom Ano. Um abraço.

Bartolomeu disse...

«Caro Bartolomeu, de acordo que "compete-nos exultá-los a lutar pela sua terra, a criar e a construir o progresso". Mas, agora, como?»
Agora e sempre, cara Drª Margarida.
A actual situação económica e social do pais, exige que se tomem medidas importantes, determinadas e conscientes e que se mudem algumas atitudes.
Socialmente, sempre permitimos que o preconceito ocupasse um lugar demasiadamente importante e, deixamos que esse preconceito ditasse comportamentos e nos limitasse as acções.
Talvez seja um problema de cultura que tenha raízes no controle que a igreja sempre desejou exercer sobre a sociedade.
Mas essa visão está obsuleta (se é que não esteve, desde o princípio) e, em lugar de "aconselhar" os nossos jóvens a emigrar, penso que o nosso governo se deverá empenhar em acções mais edificantes, como por exemplo, criar formas de os nossos jóvens apresentarem projectos de viabilização das diferentes áreas, sociais e económicas.
A sociedade portuguesa não pode continuar a avaliar as pessoas, sem as escutar, sem lhe proporcionar a hipotese de futurar, de apresentar ideias e projectos e de não os apreciar.
Muitos de nós nos admiramos com a capacidade que os Portugueses possuem, de no estranjeiro, quando emigram, desempenharem tarefas importantes, de se distinguirem e de serem valorizados e apreciados nos seus desempenhos. Todos nos admiramos, mas poucos percebem que esse sucesso, se deve em grande parte, ao facto de nos países para onde emigram, os Portugueses não se confrontarem com o preconceito do bota-a-baixo. E, quando demonstram a sua vontade e o seu empenho, são ouvidos e são apoiados e valorizados.
É isto que em minha opinião ha a fazer, caríssima Amiga. Proporcionar aos jóvens e a todos em geral, colaborar na reconstrucção do país, sem peias e sem preconceitos.
;)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Completamente de acordo. É uma mudança cultural e comportamental que está em causa, que infelizmente não se muda de um dia para o outro, que envolve toda a sociedade.
A austeridade que à força nos está a ser imposta - que melhor seria nos estivessemos imposto a tempo a nós próprios sem que outros o tivessem exigido - vai obrigar a mudanças de atitudes. Vamos assitir a uma desalavancagem de práticas e comportamentos nocivos. Resta saber se vamos aprender a lição e se a memória não se apaga.
Precisamos de retomar os valores tradiconais, mas intemporais, que fazem evoluir as sociedades e os homens. O trabalho, o esforço, o rigor, a coragem, o cumprimento do dever, a vontade de fazer e empreender mais e melhor, a seriedade, a consciência social, o mérito e o reconhecimento são princípios e valores fundamentais para criar uma sociedade que aposta nas faculdades individuais, na criatividade e inovação, gera desafios e proporciona oportunidades.
Mas é preciso ir mais longe. Concordo que o governo deve rapidamente promover incentivos e iniciativas que mobilizem os jovens, reconhecendo os seus talentos e sinalizando que a economia e a sociedade estão a mudar.
A ideia para um jovem de que além da crise não há uma mudança de mentalidade, não há futuro, gera sentimentos de ingratidão. Desistem. É preciso que os jovens sintam precisamente o contrário. As gerações mais velhas e que estão no poder têm responsabilidades acrescidas. Resolver a crise sem jovens, sem "alma nova", é difícil de acreditar.
Caro Bartolomeu, Bom Ano 2012 para si e todos os Seus!