Os 17 países do Euro e mais 6 não aderentes à moeda única acordaram esta madrugada num Pacto para reforçar a zona euro, fortalecer a moeda, e controlar as dificuldades que se colocam aos países com mais problemas no financiamento da sua dívida pública.
Este foi o facto fundamental, que qualquer critério informativo deveria salientar.
Mas não. Nos primeiros noticiários televisivos da manhã, o que logo ouvi foi que os países da UE não tinham chegado a acordo, porque a Inglaterra, ou porque a Hungria, ou, ou, ou... E só depois, em pé de página, lá veio a informação marginal de que tinha havido acordo entre os aderentes à moeda única e tinha sido assinado o acordo intergovernamental proposto por Merkel e Sarkozy.
Isto é, o desacordo de dois sobrepôs-se ao acordo de 23 e, no futuro, de 25 países.
Na nossa (des)informação, tudo vale para lançar desconfiança, dúvidas e suspeitas sobre as difíceis, mas conseguidas, soluções para a o futuro do país e da Europa, e para denegrir os esforços feitos pela dupla Merkel/Sarkozy. Fossem estas personalidades de esquerda, e logo o critério jornalístico dos nossos editores informativos salivaria de encómios e elogios.
10 comentários:
Caro António,
Nada do que se passou na cimeira constituiu grande novidade: Cameron já tinha afirmado que não subscreveria alterações ao TL que lhe tocassem indirectamente na libra; Sarkozy já tinha dito publicamente a Cameron que o UK estava na UE para baralhar; Merkel já tinha dito que queria mais sanções e que o BCE continuaria a não ter funções plenas de banco central.
Deste modo, e como também já era esperar, o UK iniciou a saída da UE; os outros sairão ou não mas as probabilidades disso acontecer são, pelo menos, tantas quanto antes: se a escalada das taxas de juro continuar não há
regulamento sancionatório que valha.
Lamento estar, neste caso, do lado dos pessismistas. Oxalá esteja do lado errado. Mas há coisas que não consigo ver de outro modo. Talvez me possas esclarecer. Por exemplo, esta:
O BCP emitiu (ou vai emitir?) obrigações subordinadas com garantia do Estado com taxa de juro de 12% acima da euribor, que servirão de colateral para o banco se financiar junto do BCE.
Que negócio é este? Como é que o BCP pode pagar aquela taxa?
Ou sou, também eu, que vou ser, outra vez, chamado a pagar?
Se me garantires que não, fico menos pessimista.
Caro Rui:
Por essas e por outras é que é necessário concretizar o tal acordo a que se chegou. O resto é discutir o sexo dos anjos.
Quanto ao resto, tanto a Inglaterra como a Hungria não estão no euro. Para o caso, pouco importa a sua concordância ou discordância. O que importa é a concordância de Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, Grécia, etc. O contrário é pensar que a Alemanha, Holanda, França, etc são uns tansos.
As notícias são excelentes. Portugal vai meter o défice na constituição, o que é notável num país como Portugal onde a constituição deveria ser publicada pela Renova, atendendo à utilização que é feita dela, logo a começar pelo seu guardião supremo e acabando nos juízes que a interpretam.
Caro António,
Não há acordo que valha se o BCE não for, para todos os efeitos, um banco central.
Claro que os alemães não são tansos mas não é só com mais penalidades que se vai lá.
E a Merkel já reafirmou a sua oposição a um BCE com totais atribuições de banco central.
Assim sendo, adeus Europa!
Caro Pinho Cardão,
Creio ser prematuro concluir o que quer que seja sobre esta cimeira europeia: ainda não ouvi os grandes sábios deste País pronunciarem-se em definitivo sobre o assunto...e até isso acontecer, tudo serão conjecturas, hipóteses mais ou menos frágeis, nada que se possa levar a sério!
Achei muita graça à piada do Rui Fonseca sobre as atribuições de um banco central!
O problema é que a Alemanha não quer cooperações reforçadas mas imposições reforçadas. E não há de facto Europa com egoísmos nacionais e muito menos sem resolver de facto o problema do Euro. A Alemanha quer comunitarizar a política orçamental sem se resolver o problema essencial: a diferença de competitividade em zonas monetárias. Isto para não falar na não utilização da política orçamental a contraciclo como forma de impulsionar o crescimento económico em alturas de recessão.O problema que se coloca é entre os ideólogos da economia neo-clássica que acreditam no equilíbrio automático e os mais neo-Keynesianos que acham que nunca haverá estabilidade monetária sem massivos investimentos ou transferências para os países que perdem com as zonas polarizadas. A não ser que o equilíbrio seja feito transferindo-se (emigrando) massas de recursos humanos para alimentar a polarização Alemã e dos países centrais. Mas será que povos como o Português querem abdicar do seu espaço de nacionalidade? Obviamente que o outro caminho seria diminuir drasticamente os rendimentos através de uma desvalorização salarial na periferia, algo que é a perspectiva do nosso primeiro, de modo a criar atractividade para atracção de capitais. Mas isto não é fácil para um país com o endividamento actual e que paradoxo dos paradoxos tem o Estado como o grande impulsionador dos custos através de aumentos brutais de impostos e taxas. Assim tem razão os Alemães quando condenam povos como o Português por terem andado a pró-ciclo em alturas de crédito fácil não fazendo o seu trabalho de baixa de custos, mas também tem razão os povos da periferia num ambiente de desequilíbrio e de necessidade de resolver no imediato estes desequilíbrios sem o que o serviço da dívida e o nervosismo (especulação) dos mercados nunca será resolvido.
Caro Pinho Cardão,
É mais uma cimeira antes da próxima. Mereceu, consciente ou inconscientemente,a divulgação que merecia.
"Ahora proponen lo que llaman una “unión fiscal”, que en realidad es sólo la imposición de mayor austeridad. Reclamar austeridad ahora es una forma de asegurarse que las economías colapsen. Creo que el esquema que Alemania está imponiendo al resto de Europa va a conducir a la misma experiencia que Argentina tuvo con el FMI, con austeridad, PBI cayendo, magros ingresos fiscales y, por eso, la supuesta necesidad de reducir más el déficit. Eso genera una caída en espiral, que conduce a más desempleo, pobreza y profundiza las desigualdades. El déficit fiscal no fue el origen de la crisis, sino que fue la crisis la que generó el déficit fiscal".
Joseph Stiglitz (prémio Nobel)
Caro Carlos Sério:
Joseph Stligliz pode ser, e é, Prémio Nobel da Economia. Faz brilhantes papers liofilizados e bactereologicamente puros. E afirmações a condizer como a que termina o texto que o meu amigo reproduz: "el déficit fiscal no fue el origen de la crisis, sino que fue la crisis la que generó el déficit fiscal". Afirmação essa que nada, mas nada, nada tem a ver com o caso português. A crise portuguesa teve origem no défice orçamental e no excesso de endividamento. É dado objectivo que Sócrates, nos seus 6 anos de governo, duplicou a dívida pública. E a um ponto em que o pagamento dos juros já tinha que ser, ele próprio, financiado. Stiglitz devia saber isto. Como não sabe e não estudou, errou.
Caro Pinho Cardão,
É verdade que os défices orçamentais elevados não são desejáveis. E a má gestão associada à corrupção institucional praticada pelos governos nas últimas duas décadas sobretudo, atiraram os défices públicos do país para valores demasiado altos. Contudo, o país continuava e continuaria a financiar-se normalmente, isto é, a financiar-se com juros a taxas absolutamente razoáveis, não fora o eclodir e o posterior desenvolvimento da crise financeira internacional. Só quando "os mercados", aproveitando-se da fragilidades das nações mergulhadas na crise, entenderam ser oportuno especular com as dívidas soberanas dos países, em sintonia (mais que em sintonia, em conluio) com os governos, o BCE, o FMI e a Comissão Europeia (CE), só então, os cidadãos se tornaram vítimas das medidas de austeridade que miserabilizam as suas vidas.
O BCE, o FMI e a CE, constituíram-se objectivamente em mentores e apoiantes da especulação financeira levada a cabo pelas oligarquias financeiras internacionais. A União Europeia ao invés de criar mecanismos que rompessem com a especulação de que são vítimas os seus países, sobretudo os economicamente mais frágeis, optaram antes por sacrificar as populações das nações intervencionadas aliando-se à especulação dos "mercados".
A verdadeira causa da intervenção da Troika e das medidas de austeridade por ela impostas e agravadas pelo governo, não foram os défices públicos elevados ou o endividamento das famílias, mas unicamente a desabrida e feroz especulação financeira sobre a dívida pública levada a cabo pelos "mercados".
A operação, o negócio, é simples e macabro. Especula-se com a dívida pública aguardando que os países percam resistência, até que finalmente, prostrados, sem forças para negociar, aceitem contrair empréstimos sob as mais severas condições e a qualquer preço. Ao ponto de abdicarem da própria Democracia, de eleições e de governos constitucionais, como aconteceu agora na Grécia e na Itália.
Bom, caro Carlos Sério, não consigo chegar lá. As coisas são muito mais simples. E se se tivesse agido com simplicidade, isto é, com responsabilidade e sentido de serviço público, os défices não seriam esses e o comportamento dos credores seria diferente.
Quanto ao papel do BCE, FMI e CE de mentores e apoiantes da especulação, aí também não sei o que diga. Parece-me sofisticação de análise em excesso.
O inimigo está mais próximo. E dizer que o rei não vai nu é mesmo tradição portuguesa.
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