"...Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha..."
"...Este é mais um sinal da mudança da orientação política que está em curso na Europa, o esgotamento das políticas de austeridade..."
António Costa, sim, o Secretário-Geral do PS
Como adivinho, não teria grande êxito. Como Secretário-Geral do PS...não sei, não...
22 comentários:
O saudoso Solnado tinha uma interessante balada acerca da "linha que desalinha".
O Hollande, em tempos, a grande esperança da nação socialista, na sua inenarrável luta contra a austeridade, passou rapidamente a ser o mais infecto dos traidores e o pior dos vilões assim que teve de assumir a responsabilidade de governar a França (e a abandonar a demagogia pré-eleitoral). Inusitadamente e sem que nada o fizesse prever acabou por se reabilitar ao dar o assentimento à derradeira humilhação de Tsipras (que de super-herói anti-austeritário a co-signatário do programa mais austero que a Grécia alguma vez conheceu).
Onde se vê o perigoso que é que ser objecto do entusiasmo socialista.
Seja António Costa ou outro qualquer António a dizê-lo, está provadíssimo que "...o esgotamento das políticas de austeridade..." é uma realidade e as suas consequências não auguram nada de positivo para a Europa que se desejaria unida... agora, mais do que nunca.
Caro Bartolomeu:
O que se esgotou, caro Bartolomeu, foi o dinheiro de que o Estado se apropriou, e desperdiçou nas suas políticas género "aquilo foi uma festa" e que levou à presente situação. Pelos vistos, muitos querem repor novo desbragamento a custo do contribuinte e de mais endividamento, para voltar a uma crise ainda maior.
A teoria do quanto pior melhor tem ainda muitos adeptos. Fico espantado por o Bartolomeu também nela alinhar.
As políticas de esbanjamento, Caríssimo António, nunca terminarão enquanto aos políticos ávidos de votos aparecerem banqueiros, ávidos de comissões, oferecendo empréstimos sob garantia dos impostos pagos pelos contribuintes.
Caro Rui Fonseca, permita-me quatro comentários ao seu comentário, com perdão ao nosso anfitrião.
1 - Aos governos cabe defender os interesses dos seus cidadãos;
2 - Aos banqueiros cabe defender os interesses dos seus accionistas.
Ao endividar excessivamente os seus países quem é que aqui não está a desempenhar devidamente as suas funções?
3 - Em várias sociedades e culturas os empréstimos contraídos pelos governos para manter uma série de coisas populares entre os eleitores são repetidamente sancionados pelos contribuintes em sucessivas eleições constituindo-se assim um poderosissimo incentivo a que os governos prolonguem a coisa tanto quanto podem e simétrico poderosíssimo desincentivo à gestão criteriosa das finanças públicas. Esses mesmos eleitores normalmente não querem saber para nada dessa maçada de finanças públicas e só se lembram do assunto quando corre mal.
Quando corre mal podem realmente os contribuintes queixar-se assim tanto?
4 - Ensina-nos a história económica que quando um Estado vai à bancarrota quem emprestou sai muito melhor parado do que esse Estado e até que, a bem ou a mal, tem sérias possibilidades de recuperar o seu investimento.
Perante esta realidade qual o incentivo a que os investidores se retraiam no risco que aceitam correr?
Esta é a realidade da vida e do mundo há vários séculos e não vale a pena efabular como seria se a natureza humana fosse outra porque é a que é. E sendo o que é, o que descrevi acima é o que há.
Pois é.
Mas repare, Zurique, que o que diz só se aplica ao negócio bancário.
Nenhum outro negócio está protegido pela intervenção do Estado. Se uma empresa vende a crédito a alguém e esse alguém não paga, o Estado não se substitui ao devedor.
Quem emprestou dinheiro aos gregos sem olhar aos riscos assumidos?, quem, em alguns casos ajudou até os gregos a burlarem as contas perante as instituições europeias? Banqueiros.
Quem assumiu o lugar dos banqueiros quando estes clamaram pela ajuda dos contribuintes: O BCE, o FMI, as instituições europeias.
Chama-se isto no jargão saxónico "moral hazard" e explica o começo de muitas crises financeiras. Já tinha ouvido falar?
Tenha em consideração que a dívida externa privada portuguesa é bem superior à dívida externa pública.
Não há alternativa?
Claro que há.
Se a natureza humana não for subjugada pela natureza dos banqueiros.
Aliás, existem agora algumas intenções nesse sentido, suponho eu, que penso que o "Fundo de Resolução" não é um truque para nos iludir a todos.
Caro Rui Fonseca, só se aplica ao negócio bancário? Sim, só. Tal como já acontecia no Século XVI.
Sim, foram realmente banqueiros que emprestaram dinheiro ao Estado Grego. Estavam a cumprir o seu papel de defesa e protecção dos seus accionistas. Quem ajudou a burlar as contas foram também banqueiros. Contratados pelo Estado Grego. E, vendo os resultados, parece que cumpriram devidamente as funções para as quais foram contratados.
Sim, o BCE, o FMI e as instituiçoes Europeias assumiram as dívidas. Porque sabiam que nesse momento agir doutra forma teria riscos imensos. E os banqueiros também o sabiam. Uma vez mais, nada diferente - com outros contornos, outras entidades - do que acontece desde o século XVI.
Sei perfeitamente o que é o moral hazard. E, não duvide, os banqueiros também sabem o que é e sabem que, se a história algo nos ensina, é que os bancos estão desde sempre muito imunes a ele.
Os banqueiros são humanos também. O Fundo de Resolução. Não inibe minimamente que continue a haver empréstimos aos Estados, que os Estados continuem a pedi-los e que quando correr mal, 99% das vezes, corra pior para os Estados.
Mas afinal o que quer o Rui Fonseca? Que os governos sejam tratados como imbecis incapazes de decidir? Que passem a ser tutelados pelos bancos? Não entendo.
Eu supunha que o Fundo de Resolução responsabiliza todos bancos pelos créditos incobráveis concedidos por alguns deles. Mas admito que esteja a ser enganado.
Quanto à invocação das práticas dos banqueiros no sec XVII, estamos falados. Eu parto do princípio que a humanidade evoluiu em muitos sentidos a partir de então. Mas também admito que esteja a ser enganado neste caso porque, talvez, não tenha mudado a natureza dos banqueiros.
Como pretendo que o Estado não interfira nas relações entre os banqueiros e os seus clientes, contariamente ao que, deduzo, defende o Zuriquer, concluo que é difícil compatibilizar o meu liberalismo com o seu socialismo.
Considere, sff, sec XVI (indicação sua) e não XVII (citação minha).
Ainda que o primeiro banco central de que se tem notícia - o Banco de Inglaterra - seja de 1694. Antes disso, cada um governava-se como podia.
Caro Rui, supõe muito bem que o FR mutualiza as responsabilidades dos bancos. Até ao momento em que houver questões quanto a riscos sistémicos. Nesse exacto momento os Estados farão exactamente o mesmo que até aqui por receio da materialização desses riscos sistémicos. Aliás, não foi isso que aconteceu com o BES?
No que toca à invocação das practicas dos banqueiros do século XVI, eu não referi apenas esses. Referi-me a "desde o século XVI". E porquê? Porque foi precisamente aí com as três bancarrotas de Espanha que se criou o figurino das bancarrotas dos Estados que tem-se mantido inalterado até hoje em dia. Não por nenhum motivo em particular mas tão somente porque as coisas acabam por fluir dessa forma. A menos, claro, que pretenda voltar à practica medieval dos Estados falirem e deixarem de dar contas seja a quem for. Não foi a natureza dos banqueiros (o uso do termo "banqueiros" aqui é muito abusivo dado os investidores em dívida pública não serem exclusivamente banqueiros e, hoje em dia, nem sequer predominantemente bancos) que não mudou. Foi a natureza humana simplesmente.
O seu último parágrafo então não tem pontas por onde pegar. Vejamos, então o Rui Fonseca ataca os bancos por emprestarem e agora vem dizer que pretende que os Estados não interfiram nas relações entre os bancos e os seus clientes? Mas se o que estamos a falar aqui é de dívidas públicas, então, o Estado é precisamente um desses clientes! Vendo por outro lado, o que pretende é que os bancos deixem de ser salvos quando fazem maus negócios? Isso seria ouro sobre azul. Mas lá voltamos aos tais riscos sistémicos que são o que tem motivado vários cuidados no que toca a deixar cair bancos. Em tese deixar cair os bancos é realmente a alternativa que mais me agrada. Porém os seus danos colaterais podem bem ser gravissimos e nenhum governo quer arriscar tal coisa.
Quanto a aludir ao meu socialismo isso só de anedota. Limito-me a defender que cada um cumpra devidamente as suas funções. Ao longo desta saga da Grécia o que se verificou é que foram precisamente os banqueiros quem cumpriu plenissimamente as suas - defender os interesses dos seus accionistas - e os governos, tanto o governo Grego como o Português como as próprias instituições Europeias quem não cumpriu devidamente com os seus acometidos.
Rui, não tem nada a ver com bancos centrais mas sim com as actividades comerciais dos bancos e aqui, neste particular, com os empréstimos dos bancos a entes soberanos.
A referência ao século XVI é muito simples. As três bancarrotas de Espanha no século XVI foram precisamente o momento em que se rompeu com a practica medieval e se passou a efectivamente cobrar aos Estados pelas suas dívidas. O declínio de Espanha nos cem anos seguintes deveram-se precisamente a essas bancarrotas. Os banqueiros afectados juntaram-se, particularmente os banqueiros de Génova que já tinham créditos sobre Espanha compraram os créditos dos restantes - essencialmente Alemães, os Fuger e os Welser - e exigiram condições draconianas a Espanha. Para começo da história, nenhum barco procedente das colónias Americanas voltou a aportar a Espanha sem passar primeiro por Génova onde o ouro e a prata ficavam como penhor. E seguiu daí.
Esta metodologia fez escola e desde então os investidores nunca mais deixaram de reclamar os seus créditos sobre entes soberanos.
Caro Rui:
Deixando de lado as primeiras, segundas e terceiras derivadas, e até quartas, a que recorres, o melhor é ir logo à função e acabar com ela. Acaba-se com a banca e os banqueiros, fica o assunto arrumado. Temos um mundo perfeito, temos ps Estados perfeitos. Os Bancos nem são precisos para nada. Como se vê, e sem eles, os gregos continuam a viver.
Ah, mas não, os bancos são precisos, acabe-se apenas com a banca e os banqueiros privados, especuladores. Ficam os bancos públicos. E estes, independentes que ficam, nunca mais emprestarão sequer um cêntimo ao dono do capital...
Oh, Rui, andas a brincar, ou quê?
Ai, meu caro Pinho Cardão, ai ai ai, não fale em bancos públicos que isso cá por Espanha traz-nos muita azia.
É que os problemas na banca Espanhola foram causados pelas Cajas, as cajas de ahorros, entidades públicas geridas pelas comunidades autonómicas e que ao longo dos últimos anos foram usadas para todas as tropelias e mais algumas, desde financiar idioteiras políticas até empregar caixas de supermercado como membros da administração. Ver os depoimentos feitos por muitos quadros superiores foi uma vergonha tenebrosa. Veja lá que um presidente duma caja qualquer teve a lata de dizer no inquérito que não, claro que não sabia ler um balanço e nem sequer via qualquer motivo para ter que o saber ler. Por aqui pode ver o que eram as Cajas.
A recapitalização do sistema bancário incidiu exclusivamente sobre as Cajas (transformadas em bancos e com reestruturações várias). A banca privada conseguiu recapitalizar-se autonomamente e por si.
Daqui que, por favor, não fale em bancos públicos. Sob pena de obrigar-me a ter que passar o resto da tarde a anti-ácidos.
Caro Dr. Pinho Cardão, no seu primeiro comentário, o nosso estimado Rui Fonseca, "tirou-me as palavras das teclas".
Mas, só para aconchegar o comentário, pergunto-lhe: quando refere Estado, o caro Dr. está a referir-se concretamente a quem, ou a quê?
Certamente não será aos milhares a quem as políticas de austeridade atiraram para o desemprego e para as filas das carrinhas da "Vida e Paz"; aos milhares que se viram expropriados das suas habitações por impossibilidade de satisfazer o pagamento dos empréstimos, ou aos milhares que deixaram de ter possibilidade de adquirir medicamentos e bens essênciais.
Penso eu de que...
Caríssimo António.
Não vale dizer que eu disse o que eu não disse.
Eu não disse que os bancos e os banqueiros são dispensáveis. Nam agora nem nunca.
Também não disse, nem aqui nem nunca, que sou favorável à privatização dos bancos. Bem pelo contrário, tenho anotado várias vezes no meu caderno de apontamentos o lamentável desempenho da Caixa Geral de Depósitos. Mais: sou favorável à privatização da Caixa. Para imitar os outros bem bastam os outros.
O que eu defendo, e continuo a defender, é a não intromissão do Estado entre os bancos e os seus clientes. Só isso.
Mas, pelos vistos, que por isso terei de me reconhecer como liberal radical para não te ver como um socialista quando é preciso.
Caro Zuricher:
Ou o meu amigo está com enorme ironia, ou não entendeu bem o que referi.
Claro que os Bancos públicos seriam os primeiros a emprestar aos donos. E se os bancos privados ainda pensam nos riscos, os bancos públicos limitar-se-iam a cumprir as ordens do dono e patrão.
O Rui Fonseca é que ainda diz que pensa que o mal está nos bancos e banqueiros privados.
Tenho muita amizade e estima pelo Rui, que conheço há tempos imemoriais, é um colega inteligente, um profissional de enorme competência, de mente livre e honestidade a toda a prova. Mas quando fala de bancos e banqueiros...temos o caldo entornado.
Abraço, Rui.
Caro Pinho Cardão, não, não, não era ironia nenhuma. O meu post reforçou o seu comentário precisamente com o exemplo de Espanha e do que se passou cá com os bancos públicos, as Cajas. É que as Cajas fizeram precisamente isso, meter-se em todas as idioteiras desta vida a mando das autonomias suas donas. O resultado foram ajudas de 50 e qualquer coisa mil milhões de Euros porque ficaram todas de pantanas. Só para a Caja Madrid, actual Bankia, foram 22 mil milhões.
Daqui que, bancos públicos, não, por favor isso é que não! Só ouvir a expressão "banco público" traz amargos de boca.
Caro Rui:
Ora aí está, como dizes: "o que eu defendo, e continuo a defender, é a não intromissão do Estado entre os bancos e os seus clientes. Só isso".
Pois plenamente de acordo.
Daí, os bancos não poderem emprestar ao Estado? Nem estou em desacordo...
Mas daí, os bancos não poderem ter o Estado como cliente? E os Estados podem dispensar os bancos nas suas relações com os cidadãos?
Oh, Rui.
Mas é muito evidente que sim, os bancos emprestam, sempre emprestaram e continuarão a emprestar ao Estados. Nunca sugeri o contrário.
Mas a Srª. Merkel emprestou aos gregos?
O Sr. Schäuble emprestou aos gregos?
O sr. Draghi emprestou aos gregos?
Os outros politicos envolvidos nesta bagunça emprestaram aos gregos?
Não. Eles assumiram as responsabilidades de quem emprestou (os bancos alemães, franceses, holandeses, e etc., )em nome dos contibuintes.
Ignoravam os bancos que emprestaram as capacidades e as tradições dos gregos para cumprirem os seus compromissos? Não ignoravam.
Avançaram até onde lhes deu na real gana porque sabiam que alguém lhes tiraria a carga de cima em caso de um muito provável desastre.
Repito-me: As políticas de esbanjamento, Caríssimo António, nunca terminarão enquanto aos políticos ávidos de votos aparecerem banqueiros, ávidos de comissões, oferecendo empréstimos sob garantia dos impostos pagos pelos contribuintes.
Até prova em contrário.
"...a saída da Grécia seria o fim do euro e provavelmente a saída de Portugal do mesmo"
Calma pá. Ainda existe uma possibilidadezinha de lá ficarmos depois daquilo tudo acabar.
Claro!
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