- A recente convulsão político-financeira
da Grécia constituiu uma óptima oportunidade para revisitarmos a imensa
capacidade criativa bem como a incorrigibilidade dos cultores do Papaçordismo
nacional…
- Desde aqueles que viram
na crise grega e no seu desfecho o fim da Europa ou do projecto europeu,
aos que advogam a necessidade de uma reforma profunda do Euro (sem qq
especificação, para se perceber melhor…), houve de tudo nestas semanas de
grande agitação.
- Recordo-me ainda bem (já
aqui tenho referido) do modo essencialmente folclórico com que este Papaçordismo
interpretou a nossa adesão ao Euro:
um grande feito nacional – ter sido
capazes, aparentemente sem esforço, de participar na carruagem da frente
do Euro – que se impunha festejar, festejar (leia-se gastar)…
- …não havendo à época
quase ninguém que tivesse chamado a atenção para as exigências que a
partilha de uma moeda comum com países que tinham uma forte tradição de
disciplina financeira/monetária nos impunha, nomeadamente no plano
orçamental.
- Chegou-se ao ponto de
um alto responsável pela política económica se ter aventurado a proclamar publicamente,
em Fev/2010, a irrelevância do endividamento externo numa zona monetária
como a do Euro, contrariando, com toda a autoridade, os avisos tontos de
alguns, bem poucos por sinal, que já na altura chamavam a atenção para os
riscos do excessivo endividamento do Estado e dos privados.
- Para este Papaçordismo
nacional, a disciplina que a zona Euro exigiu/impôs à Grécia é inaceitável:
a zona Euro deveria ter permitido que a Grécia continuasse a ser gerida à
revelia das regras financeiras que são a essência de uma união monetária
credível, não restando aos demais
países outra solução que não fosse curvar-se
perante as fantasias e os caprichos dos novos dirigentes gregos, dispensando-lhes
todo o apoio financeiro, a fundo perdido se necessário…
- …não fazer isso foi
trair o projecto europeu, reduzindo a cinzas os valores da solidariedade e
da cooperação, elementos básicos desse projecto!
- Não há emenda possível
para o Papaçordismo nacional…daqui a 10 anos estaremos exactamente na
mesma!
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segunda-feira, 27 de julho de 2015
Zona Euro e o velho Papaçordismo nacional...
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9 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Não se é Papaçordismo se EspertezaSaloismo. Repare no sentido estalinista como se encara o estado, pouco interessa a dívida do estado porque o estado somos todos nós e todos "nós" vamos ganhar com a estória, tentando esconder que o estado não "somos todos nós", somos só "alguns protegidos pelo princípio da igualdade na primeira derivada". De como se diz que "o estado deve investir para promover o emprego" como se os desempregados tivessem alvarás de construção de aeroportos ou se os emigrantes fossem directores de serviço de um ministério ou chefes de divisão de um governo civil. Aquilo que me parece verdadeiramente surpreendente é a promoção de um estado caro como uma boa coisa para um país pobre. Solução para uma casa miserável? Aumentar o salário da cozinheira e do mordomo!
Na verdade, só há uma resposta correcta para o Paçordismo/"Espertezasaloismo" nacional. É "o que tu queres sei eu!...."
O que teria levado o "alto responsável pela política económica" (portuguesa) a ter-se "aventurado a proclamar publicamente, em Fev/2010, a irrelevância do endividamento externo"?
Teria sido a ignorância? Custa a acreditar nessa limitação, uma vez que seria um "alto responsável" e um "alto responsável" não pode ser ignorante.
Não sofreria essa alta figura de inconstância?
Caro Pires da Cruz,
Não posso deixar de lhe dar razão, mas isso não afasta o intensíssimo marketing que o estatuto mendicante de uma boa parte dos "media" permite dedicar às teses Paparçordistas ou EspertezoSaloistas, como se de grande sabedoria, ou de infalível alquimia social, se tratasse!
Caro Tiro ao Alvo,
Não estou em condições de esclarecer a sua dúvida, mas creio que se tratou de uma declaração - com especial responsabilidade, é certo - inserida na embalagem de euforia Eurísta que por essa altura se vivia e que, quase invariavelmente, assumia expressões públicas reveladoras de enorme falta de senso.
E o pior foi a propagação desse estado de espírito Papaçordista à prática política, que se arrastou por mais de 12 anos!
Assim sendo, caro Tavares Moreira, a tal "declaração inserida na embalagem de euforia Eurísta que por essa altura se vivia" terá sido proferida em 2000 e não em 2010, como escreveu.
Mas, caro Tavares Moreira,
Uma coisa não posso concordar consigo. Daqui a 10 anos não estaremos na mesma de certeza, porque a grande vantagem de vivermos com o dinheiro dos outros, é que este acaba mais cedo ou mais tarde, sendo que 10 anos me parece muito para lá do "mais tarde".
Caro Tiro ao Alvo,
Um tiro certeiro e um "lapsos calami" lamentável: trata-se de Fev/2000 como bem observa e não de Fev/2010!
Lapso quase tão lamentável quanto a famosa proclamação de irrelevância do endividamento externo!
Caro Pires da Cruz,
Está perfeitamente à vontade para discordar da minha lamentável profecia!
Mas qq que seja o cenário que se desenhe, pode estar certo de que os Papaçordistas jamais desistirão de proclamar as suas crenças na superior virtude da despesa feita à custa dos fundos dispensados pelo próximo; e, do mesmo passo, os "media" nunca se cansarão de lhes dar ouvidos, cumprindo, com toda a convicção, a função de marketing da falta de senso!
A este purgatório estaremos fatalmente condenados!
Caro Tavares Moreira, discordo em absoluto: o seu lapso não prejudicou ninguém, nem o seu prestigiado saber, ao contrário do erro que referiu, que nos acarretou graves prejuízos. É certo que esse erro pode ser repartido por muitos autores, mas foram muitíssimo mais os que sofreram as suas consequências - ene vezes mais, como costumam dizer os economistas… E, ao que dizem, não se vê quase ninguém a penitenciar-se disso - eu não conheço uma única pessoa.
Caro Tiro ao Alvo,
Eu usei uma força de expressão, como terá compreendido...também creio que o meu "lapsus calami" terá tido efeitos bem menos nocivos do que a referida proclamação de Fev/2000.
Em todo o caso, deixe-me dizer-lhe que, na minha opinião, a proclamação em causa, sem prejuízo de relevar de uma inacreditável leitura da realidade económica e financeira, não terá tido efeitos práticos muito relevantes, uma vez que a carruagem da política económica, por essa altura, já se encontrava perfeitamente descarrilada...
Assim, terá sido mais uma acha para cima de uma fogueira já bem ateada...
«A direita mais radical descobriu recentemente uma filosofia da história. (...) Entendeu que se chegou ao "fim da história" e o "fim da história" é aquilo a que chamam "realidade". Uma espécie de muro existente na física das sociedades e das nações contra o qual se vai inevitavelmente quando se abandona o caminho da "austeridade" e se encontra a TINA, o "there is no alternative". (...) [Mas] existe uma enorme confusão entre a "realidade" do "fim da história" e o poder. Aquilo que os gregos encontraram à sua frente não foi o muro da "realidade", foi o muro do poder. (...) A doutrina da "realidade" é uma justificação do poder exercido pela força. É por isso que a TINA é uma doutrina de submissão, uma espécie de justificação do direito natural dos poderosos a exercerem o poder sem limites. (...) Contrariamente ao que pensam, na questão grega, a realidade impôs-se à "realidade" e fez a história mover-se quando eles a queriam fixa no ponto ideal do seu poder. (...) Não, a "realidade" não é a história acabada num certo modelo de economia, sociedade e poder. Bem pelo contrário, está a mover-se e mais depressa do que imaginam e não é para o lado da "realidade". É para o lado de que há "alternativas".»
José Pacheco Pereira
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