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sábado, 28 de maio de 2011

Culpas e desculpabilização...

Acabo de saber que uma das jovens agressoras e o rapaz autor do vídeo envolvidos no caso de agressão que recentemente chocou a opinião pública ficaram em prisão preventiva. A segunda jovem agressora por ser menor foi encaminhada para um tribunal de menores. O juiz perante a gravidade dos factos decidiu aplicar a medida de coação mais gravosa a estes dois jovens, a prisão preventiva.
Chocante tamanha maldade e crueldade. Foi a violência física e a total incapacidade de defesa da jovem batida a pontapés, foi o prazer de quem lá estava a assistir e a negação de porem cobro à agressão e de socorrerem a vítima, foi a filmagem da cena de telemóvel em punho e a colocação do vídeo nas redes sociais.
Vem sendo hábito no nosso país perante a violência gratuita dos jovens levantarem-se vozes que logo surgem em sua defesa, rotulando-os de vítimas da sociedade, os coitados, apontando a responsabilidade desses seus actos violentos em todas as direcções. A culpa é do Estado, a culpa é da família, a culpa é da escola, a culpa é dos professores, a culpa é das más companhias, a culpa é das televisões, a culpa é das redes sociais e das novas tecnologias, a culpa é da crise. E a culpa é da falta de educação e formação cívica e da falta de autoridade. São muitas culpas e muitas faltas que não deixam de ter uma quota de responsabilidade colectiva, a começar pela culpa de não salvaguardarmos o direito das crianças e dos jovens à educação cívica.
Mas há limites. Não podemos admitir que todas estas culpas desculpem comportamentos criminosos. São jovens que precisam de compreender que na sociedade em que vivem há deveres e obrigações para cumprir, que há regras de conduta para respeitar, que existem leis, que a impunidade não anda à solta. Esperemos que a estes jovens seja dada uma oportunidade de reabilitação.

11 comentários:

Tonibler disse...

Infelizmente, em Portugal um caso de agressão só se torna caso de agressão se estiver no Youtube, que é aquilo que hoje estabelece a gravidade e urgência da sua resolução.

Bartolomeu disse...

O caso que a Drª Margarida refere e a cujas imágens e desenvolvimento assistimos, através dos orgãos de comunicação social, obriga-nos a reflectir profundamente acerca da sociedade em que vivemos e acerca dos valores que a regem.
Este caso deixa-nos ainda, a sensação desagradável de existir uma profunda desagregação das famílias. Sentimos até, que as novas gerações, vivem como que num limbo, onde a atitude de vida assenta numa apatia e numa alienação, onde os valores e as regras sociais não existem.
Talvez que a incapacidade ou a desmobilização dos pais, para acompanhar intelectual e moralmente os seus filhos, para lhes incutir os valores sociais necessários à vida sã em comunidade, seja resultado, ou seja o reflexo da instabilidade política, económica e social que tem aumentado no nosso país desde ha uns anos.
Se nada for feito neste campo, temo que casos como este a que incrédulamente assistimos, se repitam e se tornem incontroláveis, resultando no confronto de gerações, o que seria, para além de profundamente lamentável, irreversívelmente recuperável.
É necessário, é imperativo, tal como a Dr. Margarida conclui, que se trabalhe no sentido de reabilitar estes jovens, de cuidar que outros jovens não sintam vontade de copiar as mesmas atitudes, mas é preciso também, reabilitar a sociedade, motiva-la para a cidadania.

Freire de Andrade disse...

Além de tudo, ainda consegui ficar hoje impressionado ao ver a namorada do jovem que filmou e divulgou a cena chorar compulsivamente e gritar "É injusto!" ao saber que o namorado ficava em prisão preventiva. Um namorado daqueles só mereceria repúdio de qualquer jovem com um mínimo de noção do bem e do mal.

Anónimo disse...

Cara Margarida, concordo plenamente com tudo o que diz e com o estado de desestruturação social a que chegámos que propicia precisamente estes acontecimentos.

Questiono-me, porém, se a penitenciária é o lugar adequado para um jovem de 18 anos. Tenho convicções muito fortes sobre o sistema penitenciário e as condições em que os presos devem cumprir as suas penas. Defendo, aliás, um sistema penitenciário que faria os paladinos dos direitos humanos ficarem com os pelos da nuca arrepiados e em estado de choque. Todavia, e sem nos alongarmos muito, não sei até que ponto para gente até aos 21-23 anos será salutar e até propicio à reinserção a convivencia com o meio prisional motivo pelo qual favoreço nestes casos o internamento compulsivo em instituições de caracter militar com, claro, uma componente correccional a par duma componente educativa.

Goste-se ou não da instituição castrense, ao longo de várias décadas tem sabido formar Homens...

Gonçalo disse...

Quem vota no PS?
Como pode o PSD descolar e a esquerda recuperar os votos (úteis para o PS) aparentemente perdidos?
http://notaslivres.blogspot.com/2011/05/quem-vota-no-ps.html

Fartinho da Silva disse...

Mas alguém acredita que vai acontecer MESMO alguma coisa a estes CRIMINOSOS? Em primeiro lugar, e tal como diz Tonibler, este caso deu lugar a prisão preventiva apenas e só porque os criminosos decidiram colocar o vídeo na Internet e alguma comunicação social (pouca) decidiu tornar o caso público. Mas não tenham dúvidas que a teologia do ISCTE - em que se defendem os CRIMINOSOS esquecendo-se as VÍTIMAS - irá prevalecer. Quando o caso estiver esquecido, os CRIMINOSOS estarão em liberdade e a pontapear quem bem lhes apetecer porque a culpa é da... sociedade!

Fartinho da Silva disse...

E acrescento mais, numa boa parte das "escolas" pública, isto acontece todas as semanas e as crianças (nomenclatura utilizada para descrever adolescentes e até jovens quando cometem atos criminosos) continuam serenamente a esmurrar e a pontapear quem bem lhes apetece sem que nada aconteça.

Quando se fala em direitos adquiridos deveria falar-se imediatamente em escola e alunos. Repare-se nisto:
- o aluno agrediu alguém? Não há problema, o contribuinte paga um psicólogo à "criança";
- o aluno, mesmo assim, agrediu outro aluno? Não há problema, o contribuinte paga mais um psicólogo à "criança";
- o aluno não estuda? Não há problema, o contribuinte paga um apoio individualizado com um professor;
- o aluno continua a não estudar? Não há problema, o contribuinte paga um psicólogo;
- o aluno continua a não estudar? Não há problema, o contribuinte paga uma avaliação individualizada;
- o aluno continua a não estudar? Não há problema, o contribuinte paga um programa de disciplina individualizado "que vá de encontro às necessidades individuais do aluno";
- etc.

A demagogia e o populismo fizeram esta "escola" muito gira e pós-moderna, os resultados estão à vista de todos; até se formaram lobbies à custa desta trapalhada, mas tudo continua na mesma...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Tonibler
Tem muito de verdade o que diz. Mas, também, pela boca morre o peixe. O sensacionalismo pode virar-se contra o seu autor. Foi o que aconteceu.
Caro Bartolomeu
A crise de valores em que estamos mergulhados, e da qual temos falado volta e meia aqui no 4R, potencia evidentemente comportamentos desviantes e alienantes aos mais diversos níveis. É claro que as crianças e os jovens estão muito mais vulneráveis a uma sociedade que está desestruturada, com as fundações a enterrarem-se, sem autoridade, sem referências sólidas. Seja como for, comportamentos criminosos não podem ser tolerados e devem ser castigados, não apenas para que quem os pratica tome consciência dos erros e tenha uma oportunidade de reabilitação, mas para prevenir que se multipliquem.
Caro Freire de Andrade
Haverá muitos outros jovens que não distinguem o bem do mal. Estão totalmente desprovidos de referências.
Caro Zuricher
Partilho das suas dúvidas. A reabilitação de jovens, é destes que agora estamos a falar, deve ter uma componente correctiva e uma componente educativa. O Trabalho a favor da comunidade deve ser uma via a considerar, sem facilitismos, pelo contrário com exigência e responsabilização. Em conversa com uns amigos, um deles comentava que o serviço militar faz falta a muitos jovens. É capaz de ter razão.
Caro Fartinho da Silva
"Todos os caminhos vão dar a Roma"! Vamos sempre acabar ou começar, invariavelmente, na educação. Não me refiro unicamente à escola, porque as tarefas educativas não pertencem apenas à escola, embora a escola tenha imensas responsabilidades no estado a que chegou a educação. Enquanto não focarmos a acção no ensino e na aprendizagem, os professores não estiverem focados em ensinar e transmitir conhecimentos e a administração educacional continuar a ser ditada da 5 de Outubro sob o signo da desconfiança nas escolas e nos professores vamos continuar bloqueados.

Fartinho da Silva disse...

Cara Margarida,

"Enquanto não focarmos a acção no ensino e na aprendizagem, os professores não estiverem focados em ensinar e transmitir conhecimentos e a administração educacional continuar a ser ditada da 5 de Outubro sob o signo da desconfiança nas escolas e nos professores vamos continuar bloqueados."

Completamente de acordo :)

Anthrax disse...

Ó meus amigosssss...

Só passei por aqui porque até eu fiquei chocada! Não com o vídeo ou com a gravidade da situação pois, como o Fartinho da Silva diz, são situações bastante frequentes nas escolas. Só que no Domingo, de manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço, estava o Correio da Manhã ali à mão de semear e aproveitei para dar uma vista de olhos uma vez que não é uma publicação que costumo comprar (ou mesmo consultar).

Confesso que fiquei horrorizada. Acho que se torcesse o jornal era capaz de sair sangue e por momentos até pensei que estava a ler o Crime.

Sejamos francos e deixemo-nos de tretas, em maior ou menor grau, este fenómeno chama-se bullying e não é novo. Existe há muito tempo, as escolas conhecem-no há muito tempo, há ong's a trabalhá-lo há muito tempo e se o legislador não faz "um boi" é porque não quer, ou porque acha que não é prioritário. Obviamente que quando este tipo de coisas se deixam assim à solta - são como a economia portuguesa - tendem para a catástrofe porque se deixou andar e fez-se de conta que "no pasa nada".

A culpa é de todos e não é de ninguém. Apontar dedos é extraordinariamente fácil, mas enquanto se anda entretido a apontar o deducho a este e àquele estas situações continuam a acontecer.

Há "N" motivos pelos quais este fenómeno acontece, pode ter a ver com aspectos socioeconómicos, pode ter a ver com aspectos psicológicos, pode ter a ver com patologias psiquiátricas e pode ter a ver com o facto da adolescência ser uma fase - bestialmente - estúpida, pela qual todos passamos. No entanto, apesar de imbecil, esta é também uma excelente fase para aprender a sermos responsáveis pelos actos que praticamos. Por muito chocante que seja para as famílias dos prevaricadores, eu acho que o Juíz fez muito bem em decretar a prisão preventiva apesar de também achar que prender, só por prender é pouco útil. Não nos podemos esquecer que, o país está na bancarrota logo porque não transformar estes indigentes em recursos? Não eram os alemães que costumavam dizer: "arbeit macht frei"? Pois então, toca a trabalhar para se redimirem perante a sociedade.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Cara Anthrax
Já depois do caso que aqui comentei, surgiu um outro de grande gravidade que conduziu, também, à prisão preventiva da jovem agressora, uma rapariga de 17 anos.
A este propósito, achei espantosas as declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados (http://sicnoticias.sapo.pt/Lusa/2011/05/28/crimes-marinho-pinto-critica-aplicacao-da-prisao-preventiva-a-jovens-envolvidos-em-caso-de-agressao-atualizada). O que pensaria o Senhor Bastonário se as duas raparigas brutalmente agredidas tivessem morrido?
Esta violência deveria envergonhar-nos. É evidente que temos responsabilidades, a sociedade como um todo, neste estado de coisas. Mas esta responsabilidade é um argumento para criticar a prisão preventiva que um juiz decidiu decretar?
É preciso que em paralelo com as medidas de coacção e as penas que venham a ser aplicadas sejam dadas possibilidades concretas a estes jovens de se reabilitarem, seja trabalhando seja estudando. Já que não fomos capazes de lhes proporcionar um caminho de vida até agora normal, que sejamos capazes de os ajudar a terem um futuro esperançoso, longe da violência gratuita, pautado por uma saudável convivência em sociedade. Ao fazê-lo estamos a fazer bem à sociedade.