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domingo, 22 de maio de 2011

"Bem-vindo a bordo da Estação Espacial Internacional, Sua Santidade"




"Estou muito feliz de ter esta oportunidade extraordinária de poder conversar convosco durante a vossa missão. Neste momento, a humanidade atravessa um período de grande progresso do ponto de vista do conhecimento científico e aplicações tecnológicas. Vocês são os representantes dessa tecnologia, com a qual levais em frente a capacidade humana e as novas possibilidades do futuro, que tornam melhor a nossa existência de todos os dias. Admiro a vossa coragem e compromisso para o qual vos preparais toda a vida”. (Papa Bento XVI aos Astronautas da Estação Espacial Internacional, 21 de maio de 2011)

O Papa Bento XVI tomou a iniciativa de comunicar em videoconferência com os astronautas da Estação Espacial Internacional. A iniciativa, já de si extraordinária, assume um significado muito especial quando se sabe que um dos objectivos da missão é deixar no espaço um equipamento destinado a estudar umas moléculas que podem explicar a origem do universo. Conseguirá a máquina ir além do que alcançam os espíritos, conseguirá a descoberta conduzir a Deus, no que Ele significa para os crentes, esperança, amor, paz e misericórdia?
O Papa perguntou ainda aos astronautas se, lá de cima, se lembravam das condições em que vivem muitos povos na terra, no que podia muito bem ser uma suave e quase maliciosa ousadia de questionar o que tantas vezes parece a distracção de Deus... Enfim, a mim pareceu-me mais a compreensão de um homem inteligente perante as dúvidas que a ciência levanta a quem tem fé, ou a falta de fé a quem conhece tanto da ciência, quem sabe? Em qualquer caso foi um gesto simbólico de alcance universal, uma revolução, diria mesmo, nesta modernidade em que a ciência e os seus prodigiosos avanços desafiam domínios que até agora estavam reservados à Fé.
Incompatíveis? O Papa vem dizer que não, vem dizer que a procura do bem estar e do progresso da humanidade é uma causa da qual ninguém deve reclamar-se dono absoluto, todos são precisos e, de mãos dadas, encorajando-se uns aos outros, desejando-se felicidades, talvez se encurte o longínquo e árduo caminho.
Admiração, apreço e encorajamento, tudo o que os grandes homens da Fé e da Ciência, unidos no mesmo objectivo, devem prestar-se mutuamente.
Um momento virado para o futuro que há-de ficar para a História. Se Deus e os Homens quiserem.

6 comentários:

Bartolomeu disse...

«Conseguirá a máquina ir além do que alcançam os espíritos, conseguirá a descoberta conduzir a Deus, no que Ele significa para os crentes, esperança, amor, paz e misericórdia?»
Muito pretinente, a meu ver, a questão que a cara Drª Suzana, coloca.
Fé, mistério, ciência, matéria e espíritualidade, são "condimentos" que constituem um todo e... muito provávelmente, é esse todo que designamos por Deus.
Agora... quanto à viagem virtual do Papa a bordo da estação orbital... não era suposto já lá estar, sem ser necessário o recurso aos meios sufisticados do audiovisual?
;)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Fé e ciência não são incompatíveis, ambas procuram fornecer ao Homem o bem-estar que lhes proporcione felicidade, bem-estar não apenas material mas também espiritual e a esperança de um mundo melhor.
A fé também nos dá a força necessária para prosseguirmos na descoberta da ciência, a ciência alimenta-nos a fé de querermos ir mais além.
O homem procura incessantemente uma explicação para a sua existência. Fé e ciência encontram-se na busca para as interrogações sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
O Papa Bento XVI na sua viagem virtual pelo espaço também nos mostra esta união de esforços entre a fé e a ciência na descoberta de uma vida melhor para todos os homens.

José Soromenho-Ramos disse...

Muito bem escrito e sem dúvida, sentido.
Para os descrentes, resta-lhes: "Respect the gods but do not rely on them" (Bushidõ).

Suzana Toscano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

Caro Bartolomeu, o Papa está no Vaticano e faz mais falta cá na terra do que na nave espacial, esperemos que o Ominipresente é que esteja com eles e, juntamente com a tecnologia, os traga de volta sãos e salvos! Por isso o Papa, se quis dar um saltinho virtual ao espaço, usou os meios de que dispõe, e eu achei uma emoção :)
Margarida, para nos esforçarmos a sério por alguma coisa temos que acreditar que é possível e que vale a pena. A fé apresenta-se de muitas formas e a Fé em Deus deverá, talvez, admito eu, ser a esperança permanente em que, apesar de todos os erros e falhanços dos homens,a vida terá um sentido. Admito eu.
Caro Cagedalbatross, respeitar os deuses já é uma boa atitude, se fosse dominante não haveria muitos dos problemas com que nos confrontamos nesta nossa era. Um excelente conselho, sem dúvida.

Ana Rita Bessa disse...

Gostei muito deste seu apontamento, as always :)
Quando vi esta notícia, e as imagens a ela associadas, confesso que a coisa me impressionou.
Tem muito de simbólico - e, nesse sentido, de interpelador - ver o Papa "voltado para o céu" a perguntar aos homens, como vêm eles a Terra. É ao mesmo tempo uma nota de humildade e fé nos homens e um desafio à nossa vocação co-criadora, inesgotável, tendencialmente boa e inerentemente transcendente.
A mim deu-me que pensar. Como, acho, que acontece sempre que nos descentramos de nós mesmos.