Há precisamente uma semana a Airbus distribuiu um comunicado no qual dava conta de (mais) um adiamento no programa de fabrico e de satisfação das encomendas do seu novo modelo de avião comercial, o Airbus 380.
Nesse comunicado, referia-se que o primeiro Airbus380 só será entregue em Outubro de 2007, seguindo-se entregas de 13 aparelhos ao longo de 2008, 25 em 2009 e 45 em 2010.
No mesmo texto, era expressamente dito que “ Sob a liderança do novo Presidente e CEO Christian Streiff, importantes medidas foram já tomadas, as quais, para além de mudanças na gestão, incluem a implementação do mesmo tipo de equipamentos em todas as unidades, bem como a criação de equipas multinacionais tendo em vista uma melhor utilização das competências disponíveis...Com os equipamentos certos, as pessoas certas, o adequado treinamento e a adequada fiscalização e gestão, o problema é tratado na sua raiz, embora seja necessário algum tempo para que estas medidas produzam efeito”.
Durou muito pouco o optimismo evidenciado neste comunicado.
Ontem mesmo, culminando alguns dias de intensa especulação nos “media” acerca das medidas que Streiff pretendia aplicar, foi anunciada a sua substituição por um homem da “casa”.
Streiff, especialista em gestão industrial, com provas dadas em grandes empresas como a Saint Gobain, tinha sido nomeado há pouco mais de 3 meses para o cargo na Airbus, contando com o apoio do Governo francês mas olhado com reservas pelos alemães.
Ao que parece, o seu plano de reconversão da Airbus, apresentado após 3 meses de intensa análise dos problemas que afectam a operacionalidade da construtora aeronáutica, previa alguma redução de efectivos na unidade sita em Hamburgo, um dos principais centros de produção da empresa além de Toulouse.
Os alemães não terão gostado da ideia, o que deu origem a um braço de ferro entre a Administração da European Aeronautic Defence and Space Company (EADS), casa-mãe da Airbus (detém 80% do capital).
A Administração da EADS é dominada por alemães, e pretendia introduzir alterações nos planos de Streiff, por razões políticas ao que parece, considerando inaceitáveis as medidas que iriam afectar a unidade de Hamburgo.
Streiff não aceitou alterações aos seus planos e ameaçou demitir-se se não os pudesse executar. O Governo francês, pelo Ministro das Finanças, declarou-lhe apoio no fim-de- semana.
Ontem foi noticiada a saída de Streiff.
Como será agora? Irá a Airbus anunciar novos adiamentos na entrega do Airbus 380? Esse cenário pode ser comercialmente arrasador para a empresa.
Conclusão, os critérios da política e da gestão empresarial são muitas vezes incompatíveis.
Veremos se a Airbus consegue resistir a este conflito.
2 comentários:
Sr. Dr Tavares Moreira
Alguns comentários sobre o seu post, isto porque não chego à mesma conclusão:
Todos se esqueçeram com os atrasos no A 380 que o Boeing 787 vulgo Dreamliner tambêm está atrasado e o problema é mais complicado porque se trata da própria estrutura que é em material composito e não fica mais leve como previam.(Ora este é o argumento que a Boeing avança para a solução Dreamliner, uma viagem intercontinetal pelo preço de uma de médio curso).
A Business Week noticiou este facto na mesma semana (acho que em Setembro) em que vinha a público os atrasos no A 380.
Depois não é anormal este atraso, aliás o 747 chegou quase dois anos depois do previsto (1969 e não em 1967), exactamente pela escala do mesmo.
O problema no A 380 é a cablagem e o facto de existirem vários fabricantes e montadores do mesmo.
A proposta de Streiff era da linha do A 380 passar para França e a do A 320 para a Alemanha, com o argumento que a montagem da cablagem num só local era a mais adequada e eficaz, argumento que é discutível.
Por outro lado, só a Virgin e porque Branson pode ser nobre, mas é um forreta oportunista, exigiu compensações indemenizatórias; todas as outras querem o avião e vão esperar pelo mesmo.(Não existe melhor alternativa para as rotas mais sobrecarregadas e lutar contra as low cost)
O resto é política empresarial e apenas se distingue de qualquer outra empresa, onde existem os Capuletos e Montagut, porque falam idiomas diferentes.
Aliás, se descontar alguns detalhes até pareçe que estamos no folhetim da OPA da PT e até pode escolher os nomes, quem são os françeses e quem são os alemães.
Cumprimentos
Adriano Volframista
Quer dizer que a escolha é entre ter o A380 a funcionar como um Mercedes Benz ou como um Renault?? Céus(aeronáuticos)!...
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