O lóbi do álcool não brinca. É muito poderoso, ao ponto de conseguir que algumas restrições, que estavam a ser equacionadas pela DG Sanco, sejam eliminadas. O próprio Durão Barroso e o comissário europeu responsável pela saúde avocaram o documento que previa alterações significativas.
O objectivo do projecto "era" louvável, pretendendo contribuir para a melhoria da saúde, bem-estar e segurança dos cidadãos.
À medida que o tempo passa, e os estudos se vão realizando, cresce a evidência da necessidade de redução do consumo de bebidas alcoólicas que, nalguns países, são responsáveis por várias patologias, acidentes e violência.
O conceito ligado ao papel protector, nomeadamente cardiovascular, de muitas bebidas, que não se restringe apenas ao vinho, não é tão linear como parece. Não pondo em causa o papel benéfico de algumas substâncias, que existem, igualmente, noutras bebidas e alimentos, não posso deixar de discordar com o recuo anunciado. A equiparação que os lobistas estão a fazer a propósito do "fundamentalismo" antitabagista é excessivo e revela preocupações quanto ao futuro deste mercado.
Antes de avançar é razoável que faça uma "declaração de interesse". Recordo-me com muita saudade do professor responsável pela minha entrada na vida académica – infelizmente, morreu muito novo –, a propósito do álcool, nos nossos momentos de lazer e de confraternização: - "Oh S... Ainda está para nascer a primeira bebida alcoólica que eu não goste!" Era um homem moderado. Ria e dizia-lhe que eu não ia tão longe, porque não simpatizava muito com as bebidas alcoólicas demasiado doces. Ainda hoje mantenho a opinião.
No caso do consumo do álcool os valores aceites como normais têm sofrido uma redução muito acentuada nas últimas décadas. Se analisássemos os valores máximos "permitidos" pela OMS há 30 anos com os actuais ficaríamos surpreendidos. Importa realçar o conceito de continuum e a dificuldade em definir os pontos de corte da anormalidade. Ao longo de uma “semi-recta” com um ponto certo na morte e o outro no infinito onde deve residir o conceito mais puro de saúde, a classificação não-doente/doente varia, tendo tendência a deslocar-se para a esquerda (sem qualquer conotação política). O mesmo se passa com os factores de risco. Os efeitos maléficos do álcool obrigam a essa deslocação. Quando se faz uma deslocação rápida e intensa é de esperar reacções, já que vão colidir com muitos interesses económicos. O "segredo" passa pela implementação de pequenas medidas avulso. Deste modo, apesar de poder haver algumas resistências, porque há sempre, são mais fáceis de aceitar por todos os intervenientes. Não tenho qualquer espécie de dúvida que um dia o valor máximo de alcoolemia irá baixar, também é previsível uma futura proibição de vendas de bebidas alcoólicas nas estações de serviço das auto-estradas, que as garrafas venham a ter avisos sobre o perigo da sua ingestão nas crianças e mulheres grávidas, que vai ser interdita a venda no decurso de algumas actividades colectivas em que haja perigo de violência, que vai ser agravada as medidas punitivas para quem tenha agido sob a influência do álcool, que irão ser proibidas iniciativas culturais ou desportivas patrocinadas pelos produtores e distribuidores de álcool, só para citar algumas. Chamar a estas iniciativas fundamentalismo antialcoólico não é apropriado. Os que apreciam uma boa bebida compreendem bem estas mudanças.
Posso afirmar que as iniciativas supracitadas, mesmo que tivessem sido aprovadas e implementadas, nunca me impediriam de, no próximo dia 5 de Novembro, aferir da qualidade de um certo vinhinho, ali para os lados de Colares, onde vive o Pinho Cardão, já que vamos provar a nova colheita. Bom seria, também, provar umas castanhitas das bandas de Lamego na companhia de grandes amigos…
O objectivo do projecto "era" louvável, pretendendo contribuir para a melhoria da saúde, bem-estar e segurança dos cidadãos.
À medida que o tempo passa, e os estudos se vão realizando, cresce a evidência da necessidade de redução do consumo de bebidas alcoólicas que, nalguns países, são responsáveis por várias patologias, acidentes e violência.
O conceito ligado ao papel protector, nomeadamente cardiovascular, de muitas bebidas, que não se restringe apenas ao vinho, não é tão linear como parece. Não pondo em causa o papel benéfico de algumas substâncias, que existem, igualmente, noutras bebidas e alimentos, não posso deixar de discordar com o recuo anunciado. A equiparação que os lobistas estão a fazer a propósito do "fundamentalismo" antitabagista é excessivo e revela preocupações quanto ao futuro deste mercado.
Antes de avançar é razoável que faça uma "declaração de interesse". Recordo-me com muita saudade do professor responsável pela minha entrada na vida académica – infelizmente, morreu muito novo –, a propósito do álcool, nos nossos momentos de lazer e de confraternização: - "Oh S... Ainda está para nascer a primeira bebida alcoólica que eu não goste!" Era um homem moderado. Ria e dizia-lhe que eu não ia tão longe, porque não simpatizava muito com as bebidas alcoólicas demasiado doces. Ainda hoje mantenho a opinião.
No caso do consumo do álcool os valores aceites como normais têm sofrido uma redução muito acentuada nas últimas décadas. Se analisássemos os valores máximos "permitidos" pela OMS há 30 anos com os actuais ficaríamos surpreendidos. Importa realçar o conceito de continuum e a dificuldade em definir os pontos de corte da anormalidade. Ao longo de uma “semi-recta” com um ponto certo na morte e o outro no infinito onde deve residir o conceito mais puro de saúde, a classificação não-doente/doente varia, tendo tendência a deslocar-se para a esquerda (sem qualquer conotação política). O mesmo se passa com os factores de risco. Os efeitos maléficos do álcool obrigam a essa deslocação. Quando se faz uma deslocação rápida e intensa é de esperar reacções, já que vão colidir com muitos interesses económicos. O "segredo" passa pela implementação de pequenas medidas avulso. Deste modo, apesar de poder haver algumas resistências, porque há sempre, são mais fáceis de aceitar por todos os intervenientes. Não tenho qualquer espécie de dúvida que um dia o valor máximo de alcoolemia irá baixar, também é previsível uma futura proibição de vendas de bebidas alcoólicas nas estações de serviço das auto-estradas, que as garrafas venham a ter avisos sobre o perigo da sua ingestão nas crianças e mulheres grávidas, que vai ser interdita a venda no decurso de algumas actividades colectivas em que haja perigo de violência, que vai ser agravada as medidas punitivas para quem tenha agido sob a influência do álcool, que irão ser proibidas iniciativas culturais ou desportivas patrocinadas pelos produtores e distribuidores de álcool, só para citar algumas. Chamar a estas iniciativas fundamentalismo antialcoólico não é apropriado. Os que apreciam uma boa bebida compreendem bem estas mudanças.
Posso afirmar que as iniciativas supracitadas, mesmo que tivessem sido aprovadas e implementadas, nunca me impediriam de, no próximo dia 5 de Novembro, aferir da qualidade de um certo vinhinho, ali para os lados de Colares, onde vive o Pinho Cardão, já que vamos provar a nova colheita. Bom seria, também, provar umas castanhitas das bandas de Lamego na companhia de grandes amigos…
4 comentários:
Quanto às castanhitas, meu caro Professor, está garantido. Mas olhe que por Lamego se a castanha é boa, o tinto e o branco não lhe ficam atrás ombreando com o melhor de Colares. Por isso garantida está também a prova de um bom vinho da região. Com a certeza de que bastará meia garrafita pois que estes republicanos atendem às lições do professor sobre os imperativos da moderação ;)
Em tom mais sério, confesso que não entendo o recuo da UE perante propostas de medidas que ninguém pode honestamente dizer que não são razoáveis e justificadas. Então não é razoável impedir que numa área de serviço de uma auto-estrada se comercializem bebidas alcoolicas sendo certo que essas são frequentadas justamente por quem conduz? Não bastarão as estatísticas que revelam que, apesar do reforço punitivo continuam assustadores os números dos acidentes de trânsito em que os intervenientes acusam elevadas taxas de alcolemia? Ou é sequer discutível a adequação de uma medida que impeça o agravamento do perigo de violência, sabendo-se como se sabe que o alcool é o principal catalizador de alterações nas personalidades mais pacatas?
Confesso que não percebo como é que o poder comunitário se revela tão fraco perante os lobis do alcool, mesmo reconhecendo que são consideráveis os interesses económicos envolvidos.
Meu caro amigo
As medidas propostas pela DG Sanco não abrangem algumas das que citei, nomeadamente a referente às auto-estradas. O que eu pretendo dizer é que é possível ir mais longe, desde que haja “maneiras” adequadas à sua implementação. No fundo, o bom senso teima em não se impor. Sem nunca coarctar às pessoas o direito a saborear bebidas, algumas são verdadeiros néctares, capazes de obrigar Dionísio a não sair deste planeta, é urgente dar atenção a este assunto. Um dia poderão ser pedidas responsabilidades aos que não tomaram certas medidas, sabendo que poderiam poupar muitas e muitas vidas e, sobretudo muita “saúde”. Não podem invocar ignorância…
Meu caro Pinho Cardão, não tanto do Montemuro mas das suas fraldas. Ou melhor, da margem sul do Douro onde se produz do melhor. E vá, confiando na condescendência do nosso Professor Massano levarei...uma garrafita.
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