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terça-feira, 3 de outubro de 2006

“Olhos em bico”…

A utilização da expressão “ficar com os olhos em bico” traduz uma certa estupefacção face a um determinado acontecimento. Obviamente que a expressão perde todo o seu sentido para as bandas asiáticas e regiões polares, porque andam sempre com os “olhos em bico”!
Os chineses, apesar da sua longuíssima cultura, não deixam de surpreender os ocidentais, e nem sempre pelas melhores razões.
Face aos comentários que fiz, a propósito de certas “chinesices”, tais como a “doação” de órgãos que os condenados fazem antes de serem executados, como sendo um “presente à sociedade”, e que valem boas quantias, associado ao facto das autoridades chinesas apregoarem a proibição da sua venda, para não falar noutras características em que a ética e o valor da vida humana não significam grande coisa, levou-me a efectuar o seguinte comentário: - ” Mas alguém acredita nos amarelos de olhos em bico?”
O meu amigo Pinho Cardão, nos comentários, perguntou: - E qual o desígnio que fez que uns tivessem olhos em bico e outros não?
Ora bem, tudo aponta para que factores ambientais tais como o excesso de luminosidade, o frio intenso e o elevado empoeiramento tenham determinado a manutenção da prega epicântica que dá aos olhos o aspecto característico dos asiáticos.
Todos os seres humanos desenvolvem esta prega na vida intra-uterina que desaparece após o nascimento, se bem que alguns possam manter alguns traços.
Há situações em que a prega está associada a doenças, tais como a trissomia 21, denominada durante muito tempo por mongoloidismo, pela semelhança facial com os mongóis.
Se respondi ao meu colega de blog com uma explicação de adaptação ambiental, poderia ir mais longe e utilizar a palavra “desígnio” para explicar o porquê da trissomia 21.
Um estudo interessante, e publicado recentemente, aponta para uma nova interpretação da trissomia 21 que deverá ter jogado um papel protector num ambiente proto-humano ou humano ancestral. Os traços fenotípicos deste grupo de pessoas permitiriam uma relativa independência face ao investimento maternal e daqui uma maior incidência à medida que as mulheres envelhecem. Havendo uma redução da probabilidade de sobrevivência das mães em idades mais avançadas, a possibilidade de as crianças poderem vingar seria maior neste grupo, porque são mais eficientes em matéria de conservação energética (hipotonia muscular, diminuição do metabolismo cerebral, diminuição do volume do hipocampo, maior propensão para a obesidade, actividade reduzida das hormonas da tiróide e do crescimento).
Hoje, os trissómicos 21 têm, de um modo geral, grandes dificuldades em viver nas nossas sociedades sofisticadas, constituindo uma das preocupações de diagnóstico pré-natal, e são, habitualmente, objecto de abortamentos.
Há um “desígnio” para a cromossomopatia mais comum, e tem a ver com fenómenos adaptativos. Não estamos na proto-humanidade nem nos primórdios do aparecimento do Homo sapiens, mas a natureza não liga às nossas modernices, pauta-se por regras próprias que nem o tempo, nem a vontade humana conseguem modificar.
Há uma história que “é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos." (Cícero).

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