A Propósito do OE’2008. in Jornal de Negócios, Outubro 16, 2007
"Há um ano, cataloguei o Orçamento do Estado para 2007 (OE’2007) como uma desilusão.
Um ano decorrido, ao analisar o OE’2008, o sentimento é, infelizmente, reforçado, porque nos encontramos perante um processo de consolidação orçamental absolutamente desadequado e fracassado.
Por duas razões principais. Porque é ilusório o combate à despesa; (…) porque carece de uma actuação acertada do lado dos impostos: a nossa falta de competitividade fiscal (…) em nada é invertida.
(…) Em 2008, a despesa pública total, corrente e corrente primária (…) sobem em valor absoluto (assumindo valores record); (…) sobem com (…) crescimentos próximos do dobro (!) dos de 2007, um cenário que considero verdadeiramente assustador; e (…) sobem em termos reais (mais do dobro do que se prevê para a inflação, 2.1%).
É transmitido um sinal de laxismo à sociedade, (…) um erro crasso, até pelos (…) tempos incertos da conjuntura internacional, com consequências sobre as já-de-si difíceis condições estruturais que, reconhecidamente, a economia portuguesa continua a atravessar. O que teria sido correcto, mesmo não conseguindo reduzir a despesa pública de facto, era, pelo menos, que todas estas componentes da despesa crescessem menos do que em 2007 e/ou não crescessem em termos reais. Assim, se alguma intenção houve de conter ou consolidar, ela resultou num rotundo falhanço.
Creio que o Ministro das Finanças tem perfeita consciência deste facto: a irritação que não escondeu na conferência de imprensa de apresentação do OE’2008, quando questionado pelos jornalistas quanto à falta de ambição deste Orçamento é disso reveladora (…)".
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