Já começo a ficar farto das explicações sobre o papel dos antioxidantes na preservação da saúde humana. Precisamos de oxigénio para viver e muitas das reações que ocorrem no nosso organismo libertam radicais livres, os quais têm, de facto, efeitos perniciosos, mas apenas em concentrações elevadas; e para evitar que tal aconteça possuímos mecanismos de proteção e de neutralização.
Os radicais livres têm sido responsabilizados em várias doenças, nomeadamente nas doenças cardiovasculares e no envelhecimento. Usar e aconselhar antioxidantes constitui uma moda, e quando se verificou que o vinho tinha essas substâncias, clamou-se alto e em bom som que o papel protetor do vinho era devido a elas. Logo, beber uns copitos passou a adquirir o estatuto de medicamento ou de vacina! Mas só o vinho? Não! Chocolate, chás, brócolos, cenouras, morangos, tomates, vegetais verdes, amêndoas, castanhas, frutas cítricas e silvestres, só para citar alguns, têm componentes dotados desta atividade. Tudo bem. Resta saber, caso do vinho tinto, se as quantidades ingeridas, bebendo moderadamente, serão suficientes para ter algum efeito.
Desconfio sempre do excesso de virtudes. Agora surgiu um trabalho a revelar que vermes produtores de mais radicais livres ou que tinham sido tratados com substâncias, herbicidas, dotados de atividade oxidante viviam mais do que os normais! E quando lhe foram administrados antioxidantes passaram a ter uma vida convencional. Sendo assim, é de pôr em causa a ideia de que ingerir antioxidantes prolonga a vida.
A produção de radicais livres é o resultado da resposta do organismo às agressões, o que é perfeitamente normal. Esta resposta, afinal, acompanhar-se-ia de efeitos benéficos a certos níveis. Se a produção dos radicais livres nas mitocôndrias aumenta com a idade será mais uma consequência do que a “causa” do envelhecimento. Envelhecer lesa o organismo, e este tenta contrariar a agressão produzindo radicais livres. O exercício físico tão propalado como fazendo bem à saúde, e faz, aumenta os radicais livres, e beber bebidas alcoólicas também aumenta os radicais livres. Estamos perante agressões, e, no caso do vinho, os antioxidantes que comporta não deverão ser suficientes para neutralizar os que produz no organismo. Estes achados enquadram-se perfeitamente dentro da perspectiva ecológica, segundo a qual, e desde que respeitados certos limites, as agressões são muito úteis para podermos beneficiar positivamente em termos de saúde. Faz todo o sentido.
Sendo assim, quando alguém beber um copo de tinto terá, futuramente, de alterar os seus argumentos, deixando de afirmar que bebe vinho porque faz bem à saúde. Em vez de dizer “estou a proteger o meu coração porque o vinho é rico em flavonoides”, deverá passar para “tenho de agredir o corpito para que não se esqueça de proteger o meu coração”. Mas cuidado, nada de beber em excesso, porque tudo tem limites. De qualquer modo, tudo aponta para que a teoria da hormesis também se aplica ao vinho. Nada melhor do que uma boa agressão, e se for do “bom”, então, melhor...
Os radicais livres têm sido responsabilizados em várias doenças, nomeadamente nas doenças cardiovasculares e no envelhecimento. Usar e aconselhar antioxidantes constitui uma moda, e quando se verificou que o vinho tinha essas substâncias, clamou-se alto e em bom som que o papel protetor do vinho era devido a elas. Logo, beber uns copitos passou a adquirir o estatuto de medicamento ou de vacina! Mas só o vinho? Não! Chocolate, chás, brócolos, cenouras, morangos, tomates, vegetais verdes, amêndoas, castanhas, frutas cítricas e silvestres, só para citar alguns, têm componentes dotados desta atividade. Tudo bem. Resta saber, caso do vinho tinto, se as quantidades ingeridas, bebendo moderadamente, serão suficientes para ter algum efeito.
Desconfio sempre do excesso de virtudes. Agora surgiu um trabalho a revelar que vermes produtores de mais radicais livres ou que tinham sido tratados com substâncias, herbicidas, dotados de atividade oxidante viviam mais do que os normais! E quando lhe foram administrados antioxidantes passaram a ter uma vida convencional. Sendo assim, é de pôr em causa a ideia de que ingerir antioxidantes prolonga a vida.
A produção de radicais livres é o resultado da resposta do organismo às agressões, o que é perfeitamente normal. Esta resposta, afinal, acompanhar-se-ia de efeitos benéficos a certos níveis. Se a produção dos radicais livres nas mitocôndrias aumenta com a idade será mais uma consequência do que a “causa” do envelhecimento. Envelhecer lesa o organismo, e este tenta contrariar a agressão produzindo radicais livres. O exercício físico tão propalado como fazendo bem à saúde, e faz, aumenta os radicais livres, e beber bebidas alcoólicas também aumenta os radicais livres. Estamos perante agressões, e, no caso do vinho, os antioxidantes que comporta não deverão ser suficientes para neutralizar os que produz no organismo. Estes achados enquadram-se perfeitamente dentro da perspectiva ecológica, segundo a qual, e desde que respeitados certos limites, as agressões são muito úteis para podermos beneficiar positivamente em termos de saúde. Faz todo o sentido.
Sendo assim, quando alguém beber um copo de tinto terá, futuramente, de alterar os seus argumentos, deixando de afirmar que bebe vinho porque faz bem à saúde. Em vez de dizer “estou a proteger o meu coração porque o vinho é rico em flavonoides”, deverá passar para “tenho de agredir o corpito para que não se esqueça de proteger o meu coração”. Mas cuidado, nada de beber em excesso, porque tudo tem limites. De qualquer modo, tudo aponta para que a teoria da hormesis também se aplica ao vinho. Nada melhor do que uma boa agressão, e se for do “bom”, então, melhor...
8 comentários:
Gostei muito.
Sobretudo do último período.
Desde que não faça mal, faz bem.
Se bem percebo.
Estou toda confundida!
Vou esquecer os antioxidantes! Vou continuar a beber a minha meia taça ocasional de vinho tinto apenas porque gosto, o meu sumo de romã (não esquecendo, todavia, o açúcar que contem – e porque é uma trabalheira descascar as romãs) e tentar viver uma vida calma e contemplativa... : )
Em lugar de a ciência se preocupar em prolongar a vida humana, quase sempre apoiada numa "carrada" de medicamentos, apesar de, mesmo assim, não conseguir anular a qualidade de finitude, não seria preferível que se ocupasse em desenvolver um só medicamento que garantisse o inevitável términos de uma forma honrosa, rápida e indolor?
Em tese, muitos dos produtos que entram no nosso corpo são tóxicos, mas, ao agredirem dentro de determinados limites, acabam por desenvolver muitos mecanismos de proteção e de reparação que podem ajudar-nos a viver mais e com mais saúde. É este o princípio da hormesis. No caso dos antioxidantes, e de acordo com os resultados de tão interessante estudo, tudo aponta para que se encaixem neste princípio.
O homem só pode ser saudável se for agredido, quer em termos fisiológicos, quer em termos psicológicos, dentro de limites razoáveis. Temos mecanismos prontos a serem ativados nesse sentido.
Agora colocou-se-me uma dúvida, não sei se em termos de “agressões políticas” temos mecanismos similares, e se não tivermos é uma grande chatice, como é fácil de compreender...
Oh Bartolomeu!
Nem parece seu... ;).
Credo, cruzes canhoto!
Nem expressei convenientemente a minha opinião, Senhor Professor Massano Cardoso.
No meu ponto de vista, ao mesmo tempo que a ciência consegue penetrar mais profundamente o túnel escuro do desconhecimento e assim, descobrir com êxito a forma de tratar e curar doenças que num passado muito recente seríam fatais, também consegue prolongar a vida humana, não somente aconselhando práticas saudáveis de vida, mas também, utilizando medicamentos que a partir de idades avançadas e de determinados conjuntos de patologias, não fazem mais que manter vivas pessoas que inclusivamente por sua vontade, já teriam terminado o seu ciclo de vida.
É a isto que me refiro, Senhor Professor e que entendo não acrescentar qualquer qualidade ou vontade de permanecer vivos, aqueles que mesmo assim não deixam de sofrer.
Meu caro amigo Bartolomeu
Uma coisa é o encarniçamento terapêutico, uma aberração completa que deve ser evitada, outra coisa é dar conforto e qualidade de vida às pessoas de idade. Além do mais, muitas das conquistas terapêuticas e preventivas permitiram que pudéssemos viver bastante para lá do chamado período "reprodutivo". Não esquecer que passamos a maior parte da vida num estado de exceção, que é a "velhice". Se a natureza tivesse seguido o seu curso natural, muitos dos bloguistas do 4R já não existiriam, nem os comentadores.
Eu compreendo o seu alcance, o problema é definir a linha em que devemos deixar de atuar. E aqui entramos numa das mais belas e interessantes áreas da bioética que sofre alterações de acordo com as convicções das pessoas. De qualquer modo, eu já tenho formada a minha opinião há bastante tempo, mesmo muito, relativamente a esta temática.
Seria impossível discordar da sua opinião, caríssimo Professor. Sobretudo quando menciona o conforto que nos compete - mesmo que somente impelidos por valores morais - proporcionar aos mais idosos e desprotegidos. Prolongar-lhes(nos) a vida em estado vegetativo, considero o maior "ataque" desferido pela ciência, à dignidade humana.
A linha a definir, no meu ponto de vista, será o problema menor. A ciência dispõe de meios de diagnóstico que lhe permitem conhecer com exactidão as possibilidades de recuperação de um doente grave, sobretudo se idoso.
Excelente texto, caro Professor Massano Cardoso.
O último parágrafo lembrou-me o conselho de uma médica amiga, para debelar o baixo valor de HDL:
-- Um copo de vinho por dia.
E acrescentou:
-- Mas só se for do "bom".
Claro que, de bom grado seguiria a sua receita. Infelizmente, a minha mulher, que adoro, fez de mim um abstémio...
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