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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"Drogas eletrónicas"

Uma aluna minha, de um curso de pós graduação, não médica, escreveu um pequenino ensaio sobre um tema de saúde pública. Pedi aos alunos que, em vez de escreverem relatórios ou fazerem trabalhos, escolhessem à sua vontade um assunto relevante, debruçando-se sobre o mesmo de forma a transmitir novos conceitos ou perspectivas, mas sempre com um cunho muito pessoal. E é através desses textos que irei avaliá-los. Este escrito em concreto, “Drogas eletrónicas”, como outros que já comecei a receber, merece ser divulgado. Por este motivo aqui o deixo no Quarta República.

"Drogas electrónicas"

Já não conseguimos viver sem um computador, sem navegar na Internet, vivemos num mundo que já não funciona sem as famosas tecnologias. E como as novas tecnologias estão sempre a aparecer e evoluir, surgem agora as drogas electrónicas que não são mais do que sons e impulsos sensoriais que prometem efeitos físicos e mentais semelhantes aos da heroína, cocaína, ecstasy, LSD, álcool e até do viagra.
Esta nova droga consiste num software, I-doser, que emite doses de ondas sonoras que interferem nas ondas cerebrais do utilizador.
Este software pode ser descarregado no site oficial, onde são vendidas as doses de áudio. O seu uso é limitado, não sendo possível a reutilização depois de algumas doses mas, hoje em dia, existe sempre maneira de dar a volta “à questão” e retirar essa limitação.
A dose funciona de uma maneira muito simples, através do envio de sons que estimulam o cérebro, elevando ou baixando as ondas cerebrais até determinada frequência que gere o efeito desejado.
Desde o século XIX é conhecido que nosso cérebro emite determinadas ondas cerebrais, e, dependendo da frequência dessas ondas, o nosso comportamento e percepção do ambiente mudam por completo. Utilizando esse conhecimento, o software gera determinadas experiências aos seus utilizadores, de acordo com a função da dose utilizada por eles.
Cada dose de áudio dura entre quinze a sessenta minutos. Esta deve ser ouvida através de auscultadores, num local silencioso e com luz fraca. Caso se utilizem colunas, já não terá efeito, pois é emitido um som distinto em cada ouvido ao mesmo tempo. Diz o site do I-doser que quanto maior a qualidade dos auriculares, melhor será a experiencia. As doses estão agrupadas em categorias, como por exemplo: doses espirituais, sedativas, dieta ou sexuais.
As doses mais conhecidas são as Gate of Hates, que é suposto ser uma das drogas mais fortes e que irá assustar de morte, afirmando ter efeitos como "Pesadelos esperados, próximos de experiências de morte, e forte início de medo". A outra dose é Hand of God, a mais forte, que é como tocar o céu: “É como um santo que chega do céu, coloca-te de olhos fechados e mostra o universo, tudo, o infinito.”
Já tive curiosidade de ouvir um pouco da primeira, consegui obter o ficheiro áudio sem ter que pagar e sem qualquer limitação, logo consegui uma “droga” de forma gratuita. O que se ouvia eram uns ruídos muito baixos no início, saltei para o final e os ruídos já eram muito altos. Não consegui ouvir tudo, pois já estava a começar a ter dor de cabeça, de tanto ruído...
Li algumas experiências de utilizadores e uns dizem que não sentiram nada e outros que estavam realmente com medo e alguns tinham até alucinações. Há imensos vídeos das reacções no youtube e todos eles apresentam efeitos muito fortes.
Alguns especialistas dizem que os efeitos desta droga e dependência ainda não estão muito claros, apesar de serem perigosas pelo facto de “mexer” como o nosso cérebro. Alguns dizem que de certa forma é uma hipnose, já que a consciência dos utilizadores pode ser manipulada.
Por enquanto vamos ficar nas incertezas, porque ainda não existe nenhum estudo a provar os efeitos desta droga. Resta-nos esperar para ver o que vai surgir com as novas tecnologias.
(Diná Trindade)

Parabéns Diná.

5 comentários:

Bartolomeu disse...

Se a minha avó fosse viva, ainda, diria que é chegado o fim do mundo.
Ficção à parte. talvez afinal, estejamos à entrada de um novo mundo.
Como tudo o que é novidade, podemos recear os efeitos destas drogas electrónico-hipnóticas, mas... talvez não sejam mais hipnóticas que outras drogas que já invadiram o nosso sensorial, sem que lhes consigamos detectar a presença. Drogas de vária ordem às quais já não conseguimos resistir e das quais não desejamos desintoxicar-nos.
Esta novidade conduz o nosso raciocínio para uma evidência... provávelmente, num futuro muito próximo, bastar-nos-á sentar em frente ao computador, iniciar um programa, escolher uma opção, colocar um par de auscultaros de alta definição... et voilá... evitamos uma ida ao dentista!

Massano Cardoso disse...

Ao dentista?! Isso é que era bom. Não exagere.

Bartolomeu disse...

A hipnose... vá... a ciência, conhece limites, caro Professor?!

Ruben Correia disse...

Convenhamos que a perspectiva histórica é algo que escapa à maioria da população. Chega a ser algo irritante haver quem pense que só hoje as tecnologias são "famosas" ou relevantes (parecendo assumir-se que no "antigamente" não havia tecnologia a surgir constantemente também, apesar de com menos rapidez), tendo em conta que desde sempre isso foi a nossa base para evoluirmos e progredirmos enquanto espécie e civilização.
Newsflash para a aluna: o mundo (civilizado) nunca funcionou sem as "famosas" tecnologias, isto desde que começou a civilização (invenção da escrita e tecnologias associadas...).

Recomendo, a título de exemplo, a consulta mensal da secção "50, 100 and 150 years ago" da SciAm. Parece que já há 100 ou 200 anos que havia novidades tecnológicas todos os meses...Incrível não? E mais, parece que a maioria delas foi relevante na altura e permitiu chegar aonde chegámos.

Um desabafo pela surpresa com que ainda se tem este tipo de pensamento saloio...

Massano Cardoso disse...

Ruben

Não compreendo o alcance da sua observação. O que se pretendeu abordar não é a inovação tecnológica ou cientifica, nem fazer qualquer enquadramento histórico da mesma, mas apenas alertar para alguns aspetos, menos comezinhos, que podem ter impacto na saúde das pessoas, e, por isso mesmo, deverão ser alvos de estudo. Por acaso, conheço muitos "saloios" que sabem usar as novas tecnologias...