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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Que coisa!

Andam a pedir-me coisas, cada vez mais coisas, coisas a que eu não resisto. Coisas? Estranha palavra que significa tudo e nada. Em pequeno fui admoestado por a ter utilizado, e por um médico. Fiquei de boca aberta, não sabia que não se podia dizer tal coisa. Que coisa! Fiquei envergonhado sem saber porquê. Evitei dizê-la ao longo da vida, mas sempre que me saía da boca, inadvertidamente, sentia uma espécie de culpa, ou melhor, de vergonha. Agora já não tenho. Se me apetecer falar ou escrever sobre qualquer coisa, falo ou escrevo, se não me apetecer fico mudo ou quieto. Mas se me pedirem? Então falo sobre essa coisa. Mas quais coisas? Coisas do arco-da-velha, coisas e loisas ou coisas da breca; às tantas acabo por não dizer coisa com coisa. Mas há coisas que merecem ser abordadas, sobretudo quando tocam certos acontecimentos. Quem sabe, como quem não quer a coisa, se não poderei contribuir para melhorar a vida de alguém. Pediram-me uma “coisa” e eu respondi, mais coisa menos coisa, com uma tentativa de conto que pode não ser lá grande coisa. O que é que eu senti? Prazer? Não, apenas tranquilidade. Que coisa!

12 comentários:

Catarina disse...

Ahah! Também me recordo de me dizerem, quando miúda, que deveria substituir a palavra “coisa” por outra específica à ocasião... Tentei. Mas agora até acho “piada” à “coisa”. Por exemplo: A coisa está feia... Se os governantes continuam a baldar-se, a coisa ainda vai ficar pior... O Porto ganhou mesmo debaixo daquele nevão todo?! Mas que coisa boa! Quem diria que conseguiriam fazer tal coisa! A coisa está indo de vento em popa lá para os azuis e brancos! Bem... já estou a dizer coisas a mais... : )
E agora vou ler o conto!

luis rosario disse...

Profº, vale mais um pouco de qualquer coisa, do que muito de nada. As coisas que escreveu no seu estilo simples de dizer coisas complicadas foi a coisa mais indispensável de reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento. Gosto muito das coisas que escreve sobre coisas que merecem ser discutidas. Continue a "coisar"

Catarina disse...

Subscrevo! : )

Anónimo disse...

Caro professor, ando há alguns anos por aqui, comentando uns posts e outros mas de há muito procurando forma de lhe dizer "uma coisa". Nunca tinha surgido a ocasião, algo tão a propósito, como surgiu hoje com este seu post e respectivo link para o quarto da républica.

Admiro-o muito (algo rarissimo em mim). Admiro que um homem de ciência consiga manter a fé que manifesta ter no ser humano. Admiro que, com a sua experiencia de vida, não se tenha tornado céptico a tudo o que os demais lhe dizem. Admiro que continue a agir baseado naquilo em que crê e na forma benévola como vê a humanidade. E o conto que nos deixou é marca precisamente de tudo isto.

Um grande bem haja desde Castilla La Vieja (enfim, às vezes dá-me para estes arcaísmos e uso - erradamente, bem sei - Castilla La Vieja e Castilla La Nueva).

jotaC disse...

É impossível ler este conto sem ser tocado de alguma coisa (talvez comoção!), que me leva a rolar, a rolar, linha após linha...

Catarina disse...

Caro Prof, ontem não me atrevi mas hoje atrevo-me: posso copiar este lindo conto e publicá-lo num “espaço” semelhante mas de teor simples e modesto?

Massano Cardoso disse...

Ondas de simpatia capazes de alimentar o espírito e estimular a criatividade. Eu ainda acredito nela, por isso agradeço tão suaves palavras.

Catarina
Claro que pode. Também é seu.

Catarina disse...

Muito obrigada, caro Prof!!!!

Bartolomeu disse...

O mundo é feito de coisas.
Coisas que antes de ser,
As coisas que cremos que são,
Nos parecem ser as coisas,
Que por vezes queremos ver,
Sem cuidar de serem, aquilo que de veras são.

Vemos coisas bem bonitas.
Vemos coisas d'encantar.
Vemos as coisas mais belas.
Vemos coisas infinitas,
Que nos chegam, sem esperar,
Sem que suspeitemos delas.

Vemos coisas de saudade.
E coisas de gratidão.
Vemos coisa de verdade.
Vemos coisas de paixão.

Vemos coisas completas.
Vemos coisas em criação.
Vemos almas abertas.
Querendo dar-nos a mão!

Vemos coisas incessantes,
Que fazem o mundo girar!
Vemos coisas gritantes,
Que nos fazem irritar!

Mas vemos sinais de amor,
Neste mundo a palpitar.
São coisas que dão calor.
São coisas para valorizar.

Mas é das coisas do mundo
Que este mundo é feito
E sabemos... lá no fundo
Que é pr'á coisa que temos jeito!

Catarina disse...

Bartolomeu!! Mas que coisa linda! : )

Suzana Toscano disse...

Que lindo conto! Um verdadeiro hino à liberdade, como só o Prof. Massano sabe fazer, levando-nos atrás do seu pensamento, sem impôr nada.

Anónimo disse...

Paste and copy das palavras anteriores da Suzana.