A Propósito da Situação de Portugal in Sol, Maio 28, 2010
“(...) A complicadíssima situação que estamos a viver resulta, a meu ver, de dois factores: um, mais conjuntural; outro de carácter mais duradouro, mesmo estrutural.
O primeiro – e quanto a mim menos importante – resulta do despoletar da crise de endividamento da Grécia, no fim de 2009, e da ligação que (justa ou injustamente, isso é pouco relevante), a comunidade internacional logo fez em relação a Portugal (…).
Mas a verdade é que, devido ao segundo factor – estrutural, e por isso muito mais importante –, creio que era uma questão de tempo até que esta situação chegasse. Acabou por ser mais cedo do que mais tarde, devido à já referida crise grega. Mas já para lá caminhávamos… e a bom ritmo. É que, como é facilmente perceptível, nenhuma família, empresa ou país pode gastar sempre mais do que produz. Ora, se tomarmos como referência um período relativamente longo, como por exemplo o que se tem passado desde 1974, o ano em que nos tornámos uma democracia, constatamos, de forma arrepiante, que em todos os anos Portugal registou défices públicos e externos (…). Em cada um dos 37 anos entre 1974 e 2010, nunca o que se produziu ou arrecadou foi suficiente para o que se gastou!... E pior: o nosso país é o único entre os 27 que compõem a União Europeia em que tal sucedeu (…).
Pergunto: esta realidade inspira confiança a alguém?!... Com este historial, não será normal que, em tempos de endividamento global galopante (para responder à crise) e de dúvidas quanto ao cumprimento dos compromissos financeiros por parte de alguns países, Portugal esteja sob escrutínio mais apertado?... Ainda para mais quando é consensual que o crescimento económico deverá continuar a ser anémico nos próximos (largos) anos, dificultando ainda mais a obtenção de recursos que facilitem o pagamento das nossas responsabilidades?!...”
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