Salvador Caetano morreu na semana passada. Angélico morreu na semana passada. Lamenta-se por igual a morte de ambos. O desaparecimento de um semelhante causa sempre pena e tristeza.
Salvador Caetano levou uma vida de iniciativa, de acção e de trabalho: criou empresas e desenvolveu-as, criou emprego e criou riqueza. Foi um dos grandes industriais portugueses.Teve direito a breve menção nos telejornais e na comunicação social. Não foi dada qualquer relevância à sua obra, logo ficou esquecido.
Angélico não chegou a ter tempo de ser um cantor ou um actor e, muito menos, de ser um homem notável. Mas teve direito, dias seguidos, a tempos infindáveis nos telejornais, a primeiras páginas e desenvolvimentos em todos os jornais, a capas de todas as revistas.
Quando assim se despromove a iniciativa e o trabalho e o mérito, em favor da imagem do momento, mostra-se, à evidência, a razão da crise em que estamos mergulhados. Não são só os políticos os culpados. A comunicação social, também. E muito mais do que muitos pensam.
14 comentários:
Caro Dr. Pinho Cardão
Não posso estar mais de acordo, mas a culpa é de todos, mais de uns do que de outros.
Engana-se caro Pinho Cardão!
Perdão, não concordo com a opinião que expressa.
Os dois protagonistas, Salvador Caetano e Angélico Vieira, foram aquilo que ou o destino, ou as suas vontades, ou algo que também desconhecemos quiseram que fossem.
Foram algo que tiveram de ser, fizeram aquilo que lhes foi permitido, ou aquilo que desejaram fazer. O reconhecimento e a homenagem por aquilo que fiseram já não lhes cabe, mas sim à consciência ou aos interesses pessoais daqueles que ficaram por mais algum tempo esperando pela sua vez de participar na mesma viágem.
A questão põe-se somente em relação à realidade dos que ficam. Que precisam desesperadamente de um modelo, de um farol capaz de os guiar através da impenetrabilidade do futuro.
Diga-me lá, caro Pinho Cardão; incomoda-o saber antecipadamente se quando chegar a sua hora de abandonar este mundo, alguém irà ou não evocar a memória dos seus actos, privados, ou públicos, bons, ou menos bons, mais ou menos criteriosos, mais ou menos justos, mais ou menos sociais?
Hmmm?
;)
O que foi noticiado foi a morte, não foi a vida. É natural que toda a gente siga com mais emoção a morte de um miúdo de 28 anos que, ainda por cima, "fingia" ter 17 que a de um homem de 85 anos bem vividos. Isto não tem nada a ver com a notícia da vida, que a de Salvador Caetano teve direito durante décadas e merecidamente.
É natural que assim seja.
Não é isso que está em causa, caro Bartolomeu. Isso não me incomoda nada, nem nisso penso.
O que está em causa é que a nossa comunicação social não divulga o mérito, mas a futilidae.
Quantos empresários são entrevistados nas televisões e a sua obra divulgada? Para servirem de exemplo. Quantos cientistas, não os da moda, mas os que fazem investigação conjuntamente com empresas e criam produtos com mercado são entrevistados nas televisões e a sua obra divulgada? Para mostrar o mérito da investigação aplicada. Quantos homens e mulheres deste país têm histórias de vida para contar, que elevam e não rebaixam? No entanto, as caras das televisões são sempre as mesmas: os mesmos sindicalistas que nada têm para dizer, os mesmos artistas (são sempre os mesmos os promovidos), os mesmos dois ou três empresários, os mesmos comentadores...muitas vezes os mesmos ignorantes de sempre.
Existe um complexo contra os empresários, como se não fossem eles, com todos os seus defeitos, que fazem andar o país, que criam emprego, exportam e criam riqueza. Ao contrário, qualquer aparelhista de qualquer partido é que vai diariamente à televisão.
São eles que fazem doutrina e contribuem para este torpor em que quase toda a gente se enreda.
No fim, tem voz quem já não diz nada; e é calado quem tem competência para dizer alguma coisa. Era este o sentido do meu post, caríssimo Bartolomeu.
Caro Pinho Cardão,
Concordando com o que escreveu, deixo apenas a seguinte nota: será que o facto de Salvador Caetano não fazer parte da "corte lisboeta" não explicará também a forma quase imperceptível com que o seu desaparecimento foi tratado pelos media?
Cumprimentos.
Pois... mas o sentido do meu comentário, aquele que o caro Dr. Pinho Cardão não captou, é que, não são as televisões ou as revistas que fazem ou desfazem aquilo que cada um de nós, é. Os meios audiovisuais, podem construir ou destruir a imágem que cada um permitir. Salvador Caetano não permitiu, tanto quanto julgo saber, que esses meios fizessem ou desfizessem o seu percurso de vida e de profissão e ainda a sua imágem. Já quanto ao Angélico Vieira, podemos dizer que foi a televisão e as revistas que o construíram que lhe deram a projecção que fêz dele a figura pública.
Ora como meios etereos que são, a televisão e a rádio, assim como a imprensa cor-de-rosa, não podemos esperar que a memória de Angélico seja lembrada mais que uns breves dias... enquanto vender... o que quer dizer, não se tratar própriamente de uma homenagem, mas sim da rentabilização última de um investimento.
Daí ter-lhe perguntado se o meu caro Amigo se importaria de saber antecipadamente se iria ou não ser homenageado post-mortem...
Para o caso de algum preconceito latente, ressalvo com toda a sinceridade o meu desejo, de que esse dia esteja ainda muito distante.
;)
Caro Pinho Cardão, um grande, grande, enorme, BEM HAJA, por este seu post.
Que bom ver que ainda há quem se lembre da industria e dos que nela foram grandes!!
Caro Pinho Cardão
No dia da apresentação do Programa do Governo, a TSF, interrompeu a transmissão do discurso do Ministro das Finanças para transmitir, em directo, o resultado do sorteio da primiera liga do próximo campeonato nacional de futebol.
A transmissão foi acompnahada de um breve comentário do comentador (passe o pleonasmo) de turno.
Pinho Cardão, desejo-lhe as boas vindas e que a estadia em Plutão seja agradável.
Cumprimentos
joão
Caro Murphy:
Não, não me parece. Os empresários são quase todos tratados da mesma maneira. Sejam do Norte, do Sul ou do Centro. Para a comunicação social não contam para nada, a não ser para receber críticas. Jorge de Melo, José Manuel de Melo, António Champalimaud alguma vez tiveram voz, enquanto industriais, nas nossas televisões? Ludgero Marques era ouvido enquanto Presidente da AIP. E agora, enquanto industrial?
Dos industriais de calçado que têm inovado e batem recordes na exportação, alguém é entrevistado para dizer o que sabe ou os problemas que tem? O Presidente da Têxtil Manuel Gonçalves alguma vez foi ouvido? São apenas exemplos.
Claro que há industriais políticos que são ouvidos enquanto políticos, mas isso pouco interessa. E outros há que "compram" tempo de antena, mas apenas para fazer publicidade pessoal. Claro que estes dois últimos grupos enchem os écrans. Mas são estes. Aos verdadeiros industriais e empresários raramente é dada oportunidade de serem ouvidos.
Caro Bartolomeu:
Concordo que se trata de rentabilizar o produto. Mas é isso é mais uma indignidade.Os exemplos que deviam ser mostrados não o são. E há muitos que o deviam ser.
Caro Zuricher:
De facto, falar, nos tempos que correm, do mérito de industriais portugueses, que criam emprego e riqueza, é quase uma heresia e admito que cause espanto. Por isso, estamos como estamos.
Na minha experiência profissional estão alguns anos em duas empresas industriais, nomeadamente na Sorefame. Aprendi o que era a indústria. E também fiquei a saber o que os responsáveis (não apenas o governo, mas os gestores das grandes empresas portuguesas clientes) deste país pensavam da importância estratégica de uma indústria em que havia notável know-how português. E também fiquei a saber o quão mais prestigiante para muitos gestores era a deslocação ao Canadá, ou a França ou à Alemanha para tratar de encomendas do que irem até à Amadora. Claro que a empresa também teve culpas num triste fim que o ânimo dos fundadores e o curriculum da empresa não mereciam.
Caro João Jardine:
Creio estar grossamente equivocado. Outros viverão em Plutão.
Veja que o 4R é bem terreno. E lá escrevo muitas vezes.
Caro Pinho Cardão
Não fui claro. O tratamento desigual das mortes de S Caetano e Angélico e a interrupção de um debate importante, para dar uma noticia de desporto indica que uma parte do país e da comunicação social está em Plutão.
Apenas lhe dava as boas vindas a esse planeta; há muita gente a viver nele
Cumprimentos
joão
Caro João Jardine:
Assim, fico mais descansado...
...Caro Dr. Pinho Cardão
Não posso estar mais de acordo, mas a culpa é de todos, mais de uns do que de outros...."
De novo a descobrir-lhe a careca ..se me permite ..kakaka..caríssima Margarida ..
A culpa não é de todos ..não senhora ..a culpa é de uma comunicação social pornográfica que domina Portugal ..pornográfica ..futil ao extremo...porca e nojenta manipuladora .
Entendeu ? A culpa não é de todos NÃO..não tente branquear a comunicação social ...
Não tente diluir a responsabilidade da comunicação social ..isso não é ético !
Com que então a culpa é de todos hem ? então eu sou responsável pelo que aparece nas parangonas dos pasquins portugueses ? como o publico ..dn ..etc etc..etc etc etc ?
Ó Bartolomeu ,
Não existem televisões nem revistas nem jornais ..em Portugal nenhum é digno desse nome ..são todos um bando de pasquins de baixíssimo nível ..e ainda por cima manipuladores moralmente obscenos de mentes fracas ..
Não existe comunicação social isenta em Portugal ..são todos comprometidos com o que não devem ..
Na comunicação social portuguesa ..não se noticiam factos ..se fabricam de forma pornográfica os factos .
Na comunicação social portuguesa não se transmitem factos ..se transmitem opiniões prostituídas .
Por isso não se pode dizer que existe comunicação social em Portugal ..se pode dizer sim que existem bordéis de comunicação e quem pagar mais ..come mais ..literalmente..entenda-se a palavra "comer" da forma mais pornográfica que a vossa imaginação permitir .
QUEM RAIO É ESSE PLAYBOY QUE MORREU ? QUE HABILIDADE ESPECIAL TINHA ESSE BOBO DA CORTE ?
Portugal se transformou numa causa perdida ..são muitas metástases ..e os bordeis da comunicação tratam de as disseminar fútil e arduamente..
Consegues imaginar, Ó Caboclo, qual sería o futuro de uma comunicação social que se limitasse a noticiar objectivamente o essencial, o cultural, o etico, o constructivo e o edificante?!
Se consegues, então é porque acreditas na viabilidade da "doutrina" do ex-Beatle John Lennon, expressa no seu tema "Imagine".
Parabens, por isso!
Já agora... convem sempre recordar:
http://www.youtube.com/watch?v=9Q0Eyw3l3XM
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