"Se se acha que as decisões das agências são inconvenientes e dificultam, desnecessária e desmesuradamente, os processos políticos (e financeiros) de ajustamento, porque é que as autoridades lhes dão a importância que dão e lhes permitem condicionar as suas próprias políticas. Mais concretamente, porque é que o BCE condiciona a sua política de financiamento à avaliação das agências de ‘rating', em vez de usar a sua própria avaliação e/ou a das demais autoridades de supervisão? Porque é que, para o BCE, o ‘rating' da dívida dos países membros do euro tem mais valor do que o juízo dos órgãos comunitários? Porque é que, para o Sistema Europeu de Bancos Centrais, o juízo das agências de ‘rating' é mais importante do que o dos supervisores financeiros, a maioria dos quais integra directamente aquele Sistema?".
5 comentários:
Caro Ferreira de Almeida:
Essas mesmas questões coloquei eu em comentário ao post de ontem do meu amigo "Começa a ser tempo de acabar com os excessos de ingenuidade"
http://quartarepublica.blogspot.com/2011/07/comeca-ser-tempo-de-acabar-com-os.html
dizia eu, e transcrevo:
"Acontece é que as instituições europeias e reguladores europeus deram largas às agências, ao consagrarem oficialmente os ratings das empresas americanas como forma de aferir o grau de risco e a a solvabilidade dos países. Daí, o Banco Central Europeu e, por arrasto, os Bancos em geral, terem no rating o padrão do risco. Aliás, as garantias dadas ao BCE por empréstimos ao sistema financeiro são avaliadas em função do grau de risco dessas agências.
No fundo, o que a Agências fazem é recomendações, mas recomendações que as instituições europeias acolhem nos seus regulamentos como letra de lei".
Eu li. E pelos vistos Vitor Bento também o leu. Mas, Pinho Cardão, sendo verdade o que ambos dizem, resta a questão: porquê esta fixação?
Sobre isso aconselho a leitura de um documento escrito em 2001 pelo matemático do ETH Paul Embrechts e mais algumas pessoas que se chama qualquer coisas como "academic response to Basel II" em que um dos pontos é exactamente a importância que é dada pelos bancos centrais (via comité de Basileia) às agências de rating e que, na minha opinião, é tão errada como atribuir essa importância a qualquer outro substituto.
Os reguladores deviam assegurar que os bancos seguem processos de protecção dos seus depositantes e não dizer-lhes que credores são bons no fim do dia. Essa política devia ser seguida tanto pelos bancos comerciais como pelos centrais e a avaliação deveria ser a de cada um. Quando definimos uma avaliação igual para todos, acabamos por estar todos enganados e terminamos em crises como a do subprime em que todos estavam certos da forma errada.
Mas este princípio óbvio parece não ter aceitação.
A resposta é muito simples e pode ser obtida lendo atentamente este texto.
Tonibler, o seu comentário é do mais sensato e clarividente que tenho lido.
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