A morte é hoje considerada uma afronta ao direito de viver e de viver bem, é encarada de forma cobarde e com vergonha, como uma decrepitude e uma dependência humilhantes. Vista pelos olhos de quem tem saúde e alguma juventude, a morte é uma derrota pessoal, uma fraqueza que não quereríamos ver naqueles que amamos e em cuja força nos habituámos a confiar. E que nem imaginamos em nós próprios. De certo modo, temos nojo da decadência física e mental e das suas manifestações, nesta sociedade de gente gira e de eterna juventude.
Li há tempos um texto muito interessante que dizia que, por causa dos problemas demográficos, os grandes temas “fracturantes” da agenda política serão, em breve, sobre como nos livrarmos dos problemas causados pela civilização e o progresso científico, que não deixam morrer as pessoas. Começaremos pelo “direito a morrer como e quando quiser” e logo se passará ao “dever de morrer na altura certa” ou ao “necessário processo de selecção para a utilização eficaz dos espaços de assistência médica”, etc. etc. Cada vez mais o tema virá à baila, depois banaliza-se e, por fim, torna-se inadiável. Primeiro será chocante, depois aparecem a público cada vez mais “casos” a “provar” que é preciso decidir, quer em nome da liberdade, da dignidade ou da simples humanidade, tudo se orientará para ser fácil, prático e eficaz deixar as pessoas ir embora quando já não tiverem mais nada para dar aos vivos.
O que acontece, e digo-o porque já vi isso muitas vezes (a minha família goza há várias gerações de uma longevidade muito considerável, por isso sempre convivi com velhos muito velhos), é que as pessoas, por muito velhas que estejam, têm o impulso normal de se agarrar à vida, é um instinto, o mesmo que lhes permitiu lutar tantas vezes ao longo da vida e sobreviver.
Uma coisa é teorizar sobre o tema, imaginar o horror que é estar velho e doente a partir de uma situação em que se é jovem e com saúde. Outra, muito diferente, é a adaptação que a nossa natureza faz à doença e à velhice, preparando para aceitar quase tudo a troco de se continuar vivo. É por isto, e não por considerações de outra ordem, que também as há, que tenho muita relutância em ver tratar “legislação” sobre a morte com a urgência do “tem que ser”, talvez até por quem nunca sentiu de perto a morte, em si ou em quem não queria ver morrer. Mesmo que, teoricamente, considere atraentes algumas teses.
Nunca somos inteiramente livres, são sempre os outros que escolhem por nós, até quando nos deixam a possibilidade de escolher morrer.
Li há tempos um texto muito interessante que dizia que, por causa dos problemas demográficos, os grandes temas “fracturantes” da agenda política serão, em breve, sobre como nos livrarmos dos problemas causados pela civilização e o progresso científico, que não deixam morrer as pessoas. Começaremos pelo “direito a morrer como e quando quiser” e logo se passará ao “dever de morrer na altura certa” ou ao “necessário processo de selecção para a utilização eficaz dos espaços de assistência médica”, etc. etc. Cada vez mais o tema virá à baila, depois banaliza-se e, por fim, torna-se inadiável. Primeiro será chocante, depois aparecem a público cada vez mais “casos” a “provar” que é preciso decidir, quer em nome da liberdade, da dignidade ou da simples humanidade, tudo se orientará para ser fácil, prático e eficaz deixar as pessoas ir embora quando já não tiverem mais nada para dar aos vivos.
O que acontece, e digo-o porque já vi isso muitas vezes (a minha família goza há várias gerações de uma longevidade muito considerável, por isso sempre convivi com velhos muito velhos), é que as pessoas, por muito velhas que estejam, têm o impulso normal de se agarrar à vida, é um instinto, o mesmo que lhes permitiu lutar tantas vezes ao longo da vida e sobreviver.
Uma coisa é teorizar sobre o tema, imaginar o horror que é estar velho e doente a partir de uma situação em que se é jovem e com saúde. Outra, muito diferente, é a adaptação que a nossa natureza faz à doença e à velhice, preparando para aceitar quase tudo a troco de se continuar vivo. É por isto, e não por considerações de outra ordem, que também as há, que tenho muita relutância em ver tratar “legislação” sobre a morte com a urgência do “tem que ser”, talvez até por quem nunca sentiu de perto a morte, em si ou em quem não queria ver morrer. Mesmo que, teoricamente, considere atraentes algumas teses.
Nunca somos inteiramente livres, são sempre os outros que escolhem por nós, até quando nos deixam a possibilidade de escolher morrer.
6 comentários:
Pensei em não comentar este post, apesar de o achar imensamente interessante em diversos e diferentes aspectos.
E pensei não comentar, porque entendo que qualquer comentário, assim como o próprio post, serão sempre uma teorização.
A cara autora, refere aspectos preocupantes, tanto no âmbito social, como familiar, como ainda, no âmbito pessoal. E é aí, penso, que se deverá concentrar toda a reflexão possível de fazer e o motivo porque decidi colocar este comentário; tal como relativamente a outras opções, como por exemplo a aceitação, ou não de transfusões de sangue, quer por convicções religiosas, ou outras, ou ainda, relativamente à disponibilização dos órgãos após a morte, penso que cada um de nós deveria poder optar, enquanto na posse das suas faculdades psicológicas, por querer submeter-se à eutanásia, no caso de a ciência médica lhe diagnosticar a impossibilidade de recuperação de acidentes graves que o impossibilitem de ter outro tipo de vida que não seja a vegetativa.
E digo isto, porque talvez não atribua à vida, ou à condição de estar vivo, um valor maior que esse mesmo, tendo a certeza que um dia deixarei essa condição e que, gostaria imenso de a deixar sem passar por uma fase mais ou menos curta ou comprida de vegetação. E já nem estou a colocar nas contas, o incómodo e a limitação, assim como o desperdício de verbas que poderiam ser canalizadas para investigação e melhoria de condições para aqueles que têm hipotese de tratamento e recuperação.
Suzana
Acabei de ler de um sopro o livro “Morte” de Maria Filomena Mónica. Vale a pena lê-lo. Nunca fugi ao tema, nem fujo, porque simplesmente me atrai. Quantas considerações já não fiz relativamente a este assunto. Legislar sobre a morte não é muito diferente de legislar sobre a vida e quanta legislação temos sobre esta. A ideia de que quando se abre uma nesga, caso deste tema, é muito perigoso porque permite a possibilidade de avançar para outros níveis preocupantes, é interessante e tem alguma lógica, sem dúvida, mas fecha a muitos o direito a sair de cena com dignidade. Seria fastidioso enumerar os casos que justificam a minha preocupação, talvez a leitura da autora que já citei possa contrabalançar outras opiniões. Não há verdades absolutas, podemos aproximar-nos delas, mas não temos capacidades, e nem nunca iremos ter, para resolver de forma inequívoca coisas deste âmbito. O que me preocupa é a apologia do sofrimento, da humilhação física e mental como sinónimos de redenção, como se fossem imprescindíveis para atingir outros fins que eu não compreendo, mas há quem “compreenda” e acredite. Estes nunca precisarão de legislação, obviamente, mas os outros, que veem e sentem o mundo de forma diferente, esses precisam de legislação para que não venham a ser condenados pela justiça humana e optarem por aquilo a que tem direito. É necessário legislação para aqueles que não veem o mundo da forma que outros o veem, sem que haja nisso qualquer violação, atitude imoral, ou menoridade da sua condição humana. São seres humanos sofredores ou candidatos a tal, que, da vida, exigem muito pouco, apenas dignidade e respeito pela sua condição, sem quaisquer outras pretensões.
Concordo com o seu ponto de vista. O processo de divulgação da ideia, até à sua aceitação, é mesmo que foi utilizado para a IVG, casamento homo e - em curso - adopção por casais gay.
Creio que há um objectivo final: a destruturação da sociedade livre e definitivamente liberta da ameaça comunista após a queda do Muro de Berlim.
Há pelo menos uma coincidència temporal entre o fim da Europa comunista e o início desta «luta», aliás encabeçada pela Esquerda agora «libertária».
Muitas mortes ultimamente e o meu melhor amigo partiu também ..esta semana .
O sofrimento prolongado/eutanásia qd vão ser opções livres de cada um ?
Suzana
O tema é delicado e perigoso, como muito bem mostra o seu texto. Gostamos de viver. Quando nos confrontamos com o sofrimento e, até, a perda de dignidade, dos nossos queridos familiares e amigos atingidos por um doença grave que lhes dita uma condenação de morte, também sofremos e nos questionamos se realmente vale a pena viver assim, mas logo queremos tê-los perto de nós. Esta realidade moldada de amor e esperança que nos toca de um modo geral a todos condicionará sempre a discussão de legislação sobre a morte. Ainda bem que assim é.
Interessante. Obriga-nos a refletir e ficar sempre na dúvida.
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