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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Diferenças

Assisto numa das TV ao depoimento do filho de um ilustre que emigrou. Compreendo o seu desgosto. Compreendo que diga que o pai fez muito pelo seu País e que o País não restituiu o que ao longo da vida lhe deu. Compreendo bem porque também sou filho de um pai que lutou uma vida inteira para sustentar a sua família. Também serviu o País, lutando para dar aos seus filhos as oportunidades que não teve. Superou-se, separou-se dos seus pelo menos duas vezes para juntar uns míseros tostões a mais. O País devolveu-lhe as décadas de esforço pagando-lhe uma cada vez mais magra pensão de reforma. A diferença entre o pai ilustre que emigrou e o meu pai não está no desgosto, está na capacidade de emigrar e na atitude. O meu pai não conseguiria emigrar, infelizmente o corpo não lho consente. Mas a atitude também não o deixaria. Se bem o conheço, preferiria a provação maior do que reformar-se de Portugal.

9 comentários:

Pinho Cardão disse...

Caro Ferreira de Almeida:
Um grito de alma que muitos portugueses gostariam de expressar. Excelente post.
Independentemente da compaixão (no sentido nobre do termo) que se pode ter com o sofrimento de um ser humano, e eu tenho, também não se pode esquecer que muitos, tendo toda a possibilidade de o fazer, nada fizeram para assegurar uma reforma condigna. A pessoa em questão teve toda a possibilidade de assegurar uma reforma bastante superior à que foi divulgada pelo filho. Não o fez. Será que o país lhe deve algo mais do que a centenas de milhares de portugueses que nem tiveram as condições que a aludida "vítima" teve?
A culpa é sempre colectiva? Nunca há responsabilidade individual?
Claro que para alguns nunca há. E, valendo-se de estatutos de privilégio, ainda culpam os outros publicamente.

Anónimo disse...

Caro Ferreira de Almeida, partir ou ficar é essencialmente uma opção que cada um toma segundo o que melhor lhe parece pesando os prós e contras que cada uma das decisões tem. A responsabilidade da vida de cada um cabe em primeira instância ao próprio. E cada um tem a responsabilidade principal pela sua vida e pela dos que tenha a seu cargo.

T disse...

Acho incrível como é que em Portugal, sendo pequenino e onde toda a gente se conhece, as pessoas ainda têm a lata de vir reclamar em publico das suas desgraças, sabendo que tantos dos seus ouvintes sabem das suas posses, onde estudaram os filhos. Noutro exercício, um acesso ao base.gov, pode-se efectivamente comparar os contratos feitos antes e depois da crise, para perceber a revolta. "hint", passou de 20 mil por espetáculos para 4 mil.

opjj disse...

Falta saber a pensão da Soc. Port. de Autores. Se se puder comparar com os casos que conheço, a pensão será um tanto melhorzinha e ainda bem.

SLGS disse...

Dr. Pinho Cardão, subscrevo totalmente o seu comentário.

Pinho Cardão disse...

Muito obrigado, caro SLGS.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
Gostei muito do seu post, singelo e verdadeiro, muitos portugueses gostariam certamente de o ler.

Impertinente disse...

A outra face da realidade:
«A empresa Stardust Produções, gerida por Fernando Tordo, recebeu desde 2008, ano em que foi criada, mais de 200 mil euros por ajuste directo. De acordo com o portal BASE - Contratos Públicos Online, a firma do artista terá ganho 207 100 euros pela produção de espectáculos.
Entre as entidades adjudicantes estão várias câmaras municipais. Nos últimos cinco anos, as autarquias de Portimão, Montijo, Mangualde, Vila Nova de Cerveira, Covilhã, Ponte de Lima, Abrantes, Matosinhos, Almada e Lamego contrataram produções à Stardust num valor superior a 159 600 euros.»
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/empresa-tordo-ganhou-mais-200-mil-euros-estado-2008

Suzana Toscano disse...

Percebo a amargura de um filho perante a falta de "reconhecimento" da pátria pelo pai, cantor, artista, com o seu tempo de sucesso, mas a vida tem escolhas difíceis e preparar a velhice ê uma delas e, mesmo quando se prepara duramente, com trabalho árduo e penoso, tantas vezes renunciando ao talento por um trabalho mais "seguro" ainda assim a velhice pode ser de penúria. A liberdade da escolha tem o seu preço e se nem os descontos de uma vida inteira são respeitados...