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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Miró...

Tenho acompanhado, sem emoção e com pouco interesse, o folhetim de Miró. Nunca se falou tanto deste pintor. De repente, graças à ação da comunicação social toda a gente se pôs a falar dos quadros de um grande pintor. Nunca vi tanto especialista. Nunca ouvi falar tanto de um pintor. Nunca um pintor foi tão "conhecido", reconhecido e "pintado" por cronistas, políticos, entendidos, desentendidos, tolos, espertos, oportunistas, calculistas, especialistas e até a Maria e o José da Esquina, velhos conhecidos, já me falaram do Miró. Uma verdadeira "miromania" instalou-se neste retângulo de gente letrada, louca e despropositada. Pensei, se "todos" falam e escrevem sobre Miró, e os seus elegantes e estranhos desenhos e pinturas "infantis", por que razão também não hei de falar ou de escrever? Homessa! Eu também vivo no mesmo retângulo, tenho costela e osso frontal de meio louco, já fiz política ou coisa parecida, gosto de ler, gosto de escrever, e não falo de Miró? Uma figura que vai ficar no imaginário português? Um gajo tão importante e cujos quadros valem milhões e que são pretexto para outras tantas confusões? Homessa! Hoje é a minha vez de falar por causa de Miró. Não falo de Miró, porque apesar de sentir um interessante efeito estético quando olho para a sua obra, que não sei explicar, só sei que me sinto bem, e para mim chega, não sou especialista em pintura, mas sou capaz de descrever as emoções e os efeitos na minha alma quando vejo, ouço e apalpo tudo aquilo que tem arte. Faz-me sentir diferente, para melhor, e dá-me prazer. 
A arte deveria ser estimulada. A arte deveria ser a forma encantada de ver o mundo. Todos os processos que estimulam a feitura ou a procura da arte são bem-vindos. Deveriam ser explorados até à exaustão. Os efeitos práticos, e não só, seriam espetaculares para o desenvolvimento do povo português. Mas para isso é preciso divulgar e cativar. Neste caso a comunicação social poderia e deveria chamar a si esta missão. Mas só falam de alguma coisa, e repetem durante dias e dias a fio, desde que haja algo de negativo ou de problemático associado. Falar pela positiva? Qual quê! Nem pensar, por vezes acontece ver um programa ou outro num daqueles canais "escondidos" e afastados pela bola e parvoíce mundanas.
Recordo que no último verão fui propositadamente a Amarante para ver os quadros de Amadeo de Souza-Cardoso. Tinha prometido a mim mesmo que teria de ir ver as obras de tão brilhante e importante pintor. Fui. Fiquei impressionado com o nosso grande pintor. Senti prazer naquela tarde. Fez muito bem ao meu ego luso, que anda pelas ruas da amargura, e à minha alma sequiosa de ser estimulada pela beleza da arte. Hoje, se fizessem um inquérito aos portugueses sobre quem foi Miró ou Amadeo de Souza-Cardoso não ficaria admirado que o primeiro, com os seus desenhos "infantis", seria facilmente identificado, enquanto o grande e genial impressionista português seria praticamente objeto da pergunta: Quem?! Joga em que equipa de futebol? Ou, então, é cantor, não é? Gosto muito dele. Eu também gosto!
Vá lá senhores da comunicação social, arranjem um qualquer "escândalo" ao redor deste pintor, ou de outros, porque artistas portugueses desconhecidos, e com valor, são "às paletes", de modo a que o povo português os conheça e passe a sentir orgulho neles.
Pronto! Não falei propriamente sobre o Miró, nem a "miromania" mundana, mas aproveitei o facto para falar de um grande, genial, pintor português, Amadeo de Souza-Cardoso. Neste verão, volto a Amarante para beber durante uma tarde a beleza da arte. 
E não é só este que vou ver. Irei ver muitos outros. Muitos mesmo...

2 comentários:

Luis Moreira disse...

É bem verdade.

Carlos Sério disse...

Está equivocado meu caro salvador,
Do que se fala não é dos quadros do Miró ou do pintor em si, mas do modo atabalhoado, incompetente e anedótico como o governo pretendeu efectuar a venda dos quadros.
Diga lá se não é anedótico, caricato, ridículo e merecedor do gozo dos portugueses, todo este processo e as suas justificações como aquela história da venda “chaves na mão” do primeiro-ministro Passos Coelho.
Do que os portugueses falam é do ridículo em que se colocou o governo e da sua postura perante a arte.