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terça-feira, 17 de maio de 2011

Impossíveis

É claro que muita água há-de ainda correr sob as pontes até que se apure a verdade sobre o "caso" do Director do FMI e as circunstâncias em que se viu nestes apuros. Mas há um facto que merece a nossa admiração e esse é, sem dúvida, a rapidez e a eficiência com que a policia americana se pôs em campo e actuou. Para nós, aqui no cantinho da Europa, seria um facto absolutamente inédito que uma empregada de um hotel de luxo se queixasse de um cliente, ainda para mais uma pessoa de relevo mundial e grande prestígio nas altas esferas da política internacional, que essa empregada tivesse sido ouvida e dada atenção às suas razões, que o hotel não se tivesse tentado a esconder o caso e, em vez disso, tivesse de imediato accionado os mecanismos legais para esclarecer o assunto. Seria também surpreendente que a polícia pegasse logo no tema e, com grande rapidez, tivesse evitado que o presumível culpado viajasse para o seu país de origem, onde seria talvez mais difícil fazer chegar o longo braço da justiça. Seria ainda extraordinário que, ouvido o ilustre cidadão, tivesse ficado em prisão preventiva, sem direito a caução, até se apurar com um mínimo de segurança se haveria, ou não indícios fortes que fundamentassem ou contraditassem a queixa.

Haja ou não teorias da conspiração, sempre abundantes nestes casos, uma coisa é certa. Nos EUA, um cidadão, por destacado que seja, não está ao abrigo da lei, mesmo que os seus impulsos tenham escolhido uma pobre empregada, mesmo que outros interesses se atravessem, e sejam bem poderosos, mesmo que haja uma escandaleira planetária capaz de abalar os caminhos da história que já se ia escrevendo aqui e ali.

Notável, só é pena que estranhemos, é sinal de que ainda temos muito que caminhar até uma democracia plena, em que a confiança nas instituições se comprove todos os dias. Às vezes, é mais fácil acreditar que foi mesmo uma conspiração, do que pensarmos no impossível.

5 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Por cá o escândalo é espremido até à última gota, em tudo o que é revista e jornal de todas as cores do arco-íris. O que interessa são os pormenores mais íntimos, até onde se pode chegar. Pena é que não aproveitemos para avaliar sistemas de justiça e actuação de polícias e confiança no funcionamento das instituições. Mas não, isso não é importante!

José Soromenho-Ramos disse...

Este triste “caso” tem muitos dos ingredientes do célebre “The Bonfire of the Vanities”, no funcionamento das sociedades ocidentais em geral e da americana em particular. Nas enormes desigualdades sociais que levam ao sentimento de impunidade de alguns, nos dois extremos da escala, aliás. No tratamento diferenciado pela polícia e pela justiça, sempre preocupadas com a percepção mediática em relação a certo tipo de pessoas, de comportamentos, de sensibilidades, de minorias, etc.
As diferenças de culturas são interessantes de observar nos media: a procura do rigor dos factos pelos órgãos de referência ingleses, a politização imediata dos americanos, a emoção embaraçada dos franceses e a coscuvilhice inexacta dos portugueses. As diferenças dos sistemas de justiça são também grandes mas mais simples: uns funcionam, outros não.

Suzana Toscano disse...

Margarida,este caso é um verdadeiro maná para a imaginação galopante dos nossos jornais tão modernos e abertos à novidade, vai ver que os pormenores vão repertir-se até à demência.
Caro cagedalbatross, tem razão, este "caso" pode ilustrar muitos aspectos diferentes das culturas, das sociedades e das instituições, valerá a pena ver até que ponto. Para já, os socialistas franceses preferem lançar abertamente a teoria da conspiração, também muito familiar aos portugueses.

Pedro disse...

Notável mesmo é perceber como a Policia Americana conseguio com prontidão evitar "que o senhor fosse jantar a Vigo!" ,o) !

José Soromenho-Ramos disse...

Caro Pedro: Foi o próprio DSK que telefonou para o Hotel a dizer que se tinha esquecido de um dos seus telemóveis no quarto e a pedir que o enviassem imediatamente ao aeroporto pois estava prestes a partir.