Não, não se pense que com este título me estou a referir ao mesmo tipo de agitação que se tem verificado em Timor Leste nos últimos tempos.
Trata-se de uma agitação bem diferente pois respeita ao ambiente de frenética concorrência na exploração dos jogos de fortuna e azar que hoje se verifica naquele território que, desde 2002, deixou de estar sob administração portuguesa substituída pela administração chinesa.
A partir dessa data, a exploração da zona de jogo de Macau foi liberalizada e, passados menos de 4 anos, os principais empresários do jogo de Las Vegas decidiram investir fortemente em Macau, modificando radicalmente o cenário de monopólio que existiu até 2001 que, como se sabe, beneficiava o grupo de empresas do conhecido empresário euro-asiático Stanley Ho.
Vários aspectos curiosos ressaltam desta mudança radical.
Primeira curiosidade é mesmo esta, de após a mudança da administração portuguesa para a administração chinesa se ter verificado uma liberalização da principal actividade económica do território, que é o jogo-turismo.
Sim, foi a administração chinesa, de inspiração oficial comunista, que liberalizou um negócio que a administração portuguesa mantinha em regime de quase exclusivo, em monopólio legal.
Percebe-se que os “media” portugueses tratem o assunto com um certo alheamento, uma vez que esta alteração escapa (ou até ofende?) ao seu quadro de pensamento sócio-político, dominantemente de raiz socialista conservadora.
Segunda curiosidade: a concorrência dos empresários de Las Vegas, Sheldon Aelson e Steve Wynn, traduzida na abertura de duas novas unidades hotel/casino, o Sands Macau Casino (aberto em 2004) e o Wynn Macau (inaugurado esta semana), tem imprimido uma forte dinâmica à actividade económica do território, tendo dado um grande impulso à construção civil em especial.
Está prevista para o próximo ano a abertura de uma nova unidade do grupo Adelson, o Venetian Macau, um projecto de 2,3 mil milhões de USD, incluindo um hotel com 3.000 suites e 750 mesas de jogo – um mega “resort”, que ultrapassa muito a dimensão dos dois em actividade.
Terceira curiosidade: o facto de Macau, com o grande incremento da actividade de jogo estar muito próximo de atingir os índices de apostas de Las Vegas, devendo mesmo ultrapassar aquela famosa metrópole de jogo americana em 2007.
Com efeito, no 1º semestre deste ano, o volume de apostas foi em Macau de 3,1 mil milhões USD enquanto em Las Vegas atingiu 3,3 mil milhões. E a taxa de crescimento é bem maior em Macau.
Quarta curiosidade: a reacção um pouco controversa de Stanley Ho à nova concorrência, traduzida numa troca de piropos em especial com Sheldon Adelson, que a edição do Financial Times de 6 do corrente relata com muita graça.
Stanley Ho parece ter aceitado de forma pouco fleumática a redução significativa da sua quota de mercado no jogo de Macau, de mais de 85% para menos de 70% em apenas 2 anos.
Mas é bem possívell uma diminuição mais acentuada nos próximos dois anos.
3 comentários:
A relação do Stanley Ho com Portugal é daquelas coisas que toda a gente sabe e das quais se faz um silêncio quase absoluto porque, penso eu, alguém pensou que é grave demais. Tipo financiamento partidário, relação do PCP com o KGB, Macau com a presidência, Otelo livre, etc...
A nós, portugueses, tragam-nos problemas, mas não desgraças.
Caro Pinho Cardão,
Os "nossos" (se é que são nossos) "pensadores" (se é que pensam) de "esquerda" (se é que são de esquerda)ficariam sufocados - perecendo certamente, no mais dilacerante sofrimento -só com a ideia de terem de se pronunciar sobre tão "nefando" acto da administração chinesa.
Curioso, de facto. Quem conhece Macau percebe a aposta dos investidores do jogo naquele território.
Não será contudo muito estranha a reacção de Stanley Ho a quem nós portugueses demos a conhecer as grandes vantagens dos monopólios...
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