Tenho seguido com muita atenção o trabalho e a investigação de um notável cientista português, o professor Castro Caldas. O neurocientista revela-nos, graças às novas tecnologias, como funcionam os cérebros dos analfabetos e os que aprenderam a ler em criança. As diferenças são abismais, provando que a melhor aprendizagem deverá ocorrer em momentos certos acompanhando o desenvolvimento cerebral. Agora, e a propósito de um livro sobre o " Desastre no Ensino da Matemática: como recuperar o tempo perdido", foi noticiado que o professor Castro Caldas defende que "o treino da memorização não é uma actividade menor". Depreende-se que o treino da memória é indispensável ao desenvolvimento cognitivo e que se acompanha de um aumento dos neurónios e respectivas ligações. Assim, a velha técnica de “aprender de cor” a tabuada é muito positiva. A notícia não me surpreendeu pelo facto de acompanhar a obra do colega, mas desencadeou uma velha recordação.
Lembro-me do sucesso que tive com a tabuada dos “2”. O professor ensinou-nos, numa linda manhã, que íamos começar aprender a tabuada. Começámos pela dos “2”. Cantámos em voz alta. Da parte da tarde – na altura as aulas eram todo o dia e Sábados de manhã – o professor colocou-nos no seu gabinete. Sozinhos, e sentados no chão, repetíamos em voz alta, tendo nos joelhos a velha e saudosa tabuada. Depois, um a um, regressávamos à sala de aulas, onde, sem o recurso da tabuada, tínhamos que a "cantar", sem erro, para o professor. Em caso de falha ou erro, o professor recambiava-nos para o gabinete. Chegou a minha vez e cantei-a sem nenhum erro. O professor mandou-me repetir mais duas ou três vezes e também perguntou alternadamente. Vi, pelo seu olhar, que estava contente, e disse-me: - Oh rapaz, hoje tens o resto da tarde livre, agarra nas tuas coisas e vai para a casa. Fiquei de boca aberta, porque ainda faltava muito tempo para as cinco. Todo satisfeito, e ufano da minha proeza, fui para a estação dizer ao meu pai. Assim que me viu lançou-me um olhar de espanto e disse-me: - Olha lá que é que estás aqui a fazer!? Fugiste da escola? Antes que a coisa desse para o torto ripostei com toda a velocidade: - Foi o senhor professor que me mandou embora. - Mandou-te embora!? As coisas, pelo olhar duro que me estava a lançar, estavam mesmo a ficar complicadas. Disse meio aflito: - Oh pai eu sou o melhor da tabuada dos “2”! Lá se acalmou e, depois mais tranquilo, expliquei-lhe o sucedido, não deixando de lhe cantar a tabuada para provar que era verdade. Ficou satisfeito e deixou-me brincar toda a tarde no cais. Uma tarde inesquecível! Comecei a pensar que se as coisas eram daquela maneira, e faltando ainda as dos "3", dos "4" e as outras, ainda teria a possibilidade de ganhar mais sete maravilhosas tardes fora da escola, desde que fosse capaz de as decorar convenientemente. Foi o que fiz, e com sucesso, só que o professor não me premiou como da primeira vez...
As técnicas de memorização estendiam-se a muitas outras actividades. Ainda hoje, e não obstante o tempo já passado, ainda recordo muitas coisas aprendidas com esta técnica. Espero que tenha estimulado a produção de muitos neurónios e sobretudo muitas conexões neuronais, porque com a idade muitos vão à vida, e para sobrevivermos no mundo cada vez complexo e competitivo que nos cerca bem precisamos de neurónios bem musculados, caso contrário...
Lembro-me do sucesso que tive com a tabuada dos “2”. O professor ensinou-nos, numa linda manhã, que íamos começar aprender a tabuada. Começámos pela dos “2”. Cantámos em voz alta. Da parte da tarde – na altura as aulas eram todo o dia e Sábados de manhã – o professor colocou-nos no seu gabinete. Sozinhos, e sentados no chão, repetíamos em voz alta, tendo nos joelhos a velha e saudosa tabuada. Depois, um a um, regressávamos à sala de aulas, onde, sem o recurso da tabuada, tínhamos que a "cantar", sem erro, para o professor. Em caso de falha ou erro, o professor recambiava-nos para o gabinete. Chegou a minha vez e cantei-a sem nenhum erro. O professor mandou-me repetir mais duas ou três vezes e também perguntou alternadamente. Vi, pelo seu olhar, que estava contente, e disse-me: - Oh rapaz, hoje tens o resto da tarde livre, agarra nas tuas coisas e vai para a casa. Fiquei de boca aberta, porque ainda faltava muito tempo para as cinco. Todo satisfeito, e ufano da minha proeza, fui para a estação dizer ao meu pai. Assim que me viu lançou-me um olhar de espanto e disse-me: - Olha lá que é que estás aqui a fazer!? Fugiste da escola? Antes que a coisa desse para o torto ripostei com toda a velocidade: - Foi o senhor professor que me mandou embora. - Mandou-te embora!? As coisas, pelo olhar duro que me estava a lançar, estavam mesmo a ficar complicadas. Disse meio aflito: - Oh pai eu sou o melhor da tabuada dos “2”! Lá se acalmou e, depois mais tranquilo, expliquei-lhe o sucedido, não deixando de lhe cantar a tabuada para provar que era verdade. Ficou satisfeito e deixou-me brincar toda a tarde no cais. Uma tarde inesquecível! Comecei a pensar que se as coisas eram daquela maneira, e faltando ainda as dos "3", dos "4" e as outras, ainda teria a possibilidade de ganhar mais sete maravilhosas tardes fora da escola, desde que fosse capaz de as decorar convenientemente. Foi o que fiz, e com sucesso, só que o professor não me premiou como da primeira vez...
As técnicas de memorização estendiam-se a muitas outras actividades. Ainda hoje, e não obstante o tempo já passado, ainda recordo muitas coisas aprendidas com esta técnica. Espero que tenha estimulado a produção de muitos neurónios e sobretudo muitas conexões neuronais, porque com a idade muitos vão à vida, e para sobrevivermos no mundo cada vez complexo e competitivo que nos cerca bem precisamos de neurónios bem musculados, caso contrário...
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