Magistral, verdadeiramente magistral, o artigo de opinião de António Vitorino no DN de hoje sobre o discurso do Papa.
Define bem o objectivo da conferência:
“…É claro para todos que o objecto da conferência do Papa não era o Islão: era sim o sempre recorrente tema do cardeal Ratzinger sobre a identidade europeia, que ele funda na convergência entre o legado do racionalismo da filosofia clássica grega e a fé cristã. Essa simbiose indissolúvel, no entender do Papa, explica porque é que não é possível viver a fé sem a mediação da razão. Esta impede que a vivência mística resvale para o excesso, o fundamentalismo e a violência...”
E vai à causa da polémica:
“…Na origem está em causa um ditame do mundo mediático em que vivemos: raciocínios complexos não têm lugar na comunicação instantânea de que nos alimentamos diariamente. Uma passagem de um discurso denso e extenso que tem o "picante" de referir o Islão e o seu profeta, desprovida do seu contexto e por isso marcada por um sabor actualista, tem um efeito de atrair a atenção do grande público muito maior do que uma explicação detalhada do seu alcance real…”.
Tal é a ligeireza da comunicação social que foi no antepenúltimo parágrafo de um texto do Blog O Diário do Anthrax aqui assinalado que li a frase onde se faz o contraponto à passagem que deu origem a toda a polémica e onde se condena toda a violência em nome da religião.
"…The emperor, after having expressed himself so forcefully, goes on to explain in detail the reasons why spreading the faith through violence is something unreasonable. Violence is incompatible with the nature of God and the nature of the soul. "God", he says, "is not pleased by blood - and not acting reasonably…”.
E termina António Vitorino:
“…Os radicais violentos conhecem e usam em proveito próprio esses meios de comunicação, tal como o tentam fazer também (e muitas vezes com êxito) em relação aos meios de comunicação ocidentais. É tempo também de nós passarmos a perceber a realidade comunicacional no mundo árabe e a integrá-la como elemento do nosso próprio processo de decisão política…”
Sabe bem ler uma análise culta, profunda e inteligente, longe da superficialidade e da incultura histórica, filosófica e arrogante de tantos!...
Define bem o objectivo da conferência:
“…É claro para todos que o objecto da conferência do Papa não era o Islão: era sim o sempre recorrente tema do cardeal Ratzinger sobre a identidade europeia, que ele funda na convergência entre o legado do racionalismo da filosofia clássica grega e a fé cristã. Essa simbiose indissolúvel, no entender do Papa, explica porque é que não é possível viver a fé sem a mediação da razão. Esta impede que a vivência mística resvale para o excesso, o fundamentalismo e a violência...”
E vai à causa da polémica:
“…Na origem está em causa um ditame do mundo mediático em que vivemos: raciocínios complexos não têm lugar na comunicação instantânea de que nos alimentamos diariamente. Uma passagem de um discurso denso e extenso que tem o "picante" de referir o Islão e o seu profeta, desprovida do seu contexto e por isso marcada por um sabor actualista, tem um efeito de atrair a atenção do grande público muito maior do que uma explicação detalhada do seu alcance real…”.
Tal é a ligeireza da comunicação social que foi no antepenúltimo parágrafo de um texto do Blog O Diário do Anthrax aqui assinalado que li a frase onde se faz o contraponto à passagem que deu origem a toda a polémica e onde se condena toda a violência em nome da religião.
"…The emperor, after having expressed himself so forcefully, goes on to explain in detail the reasons why spreading the faith through violence is something unreasonable. Violence is incompatible with the nature of God and the nature of the soul. "God", he says, "is not pleased by blood - and not acting reasonably…”.
E termina António Vitorino:
“…Os radicais violentos conhecem e usam em proveito próprio esses meios de comunicação, tal como o tentam fazer também (e muitas vezes com êxito) em relação aos meios de comunicação ocidentais. É tempo também de nós passarmos a perceber a realidade comunicacional no mundo árabe e a integrá-la como elemento do nosso próprio processo de decisão política…”
Sabe bem ler uma análise culta, profunda e inteligente, longe da superficialidade e da incultura histórica, filosófica e arrogante de tantos!...
2 comentários:
"É claro para todos que o objecto da conferência do Papa não era o Islão".
Pois, mas o objecto da conferência, para mim, é irrelevante. O problema está no alvo da conferência. Se um fizer uma conferência sobre pedofilia e estiver sempre a falar no clero católico e nos católicos, certamente que os católicos se sentem como alvo, embora não seja o objecto daquilo que eu estive a falar. Foi isso que o Ratzinger fez, de facto não usou o islão como objecto, usou-o como alvo.
E pegando na última frase de Vitorino, seria talvez tempo de começarmos a entender que há portugueses, tão bons que o António Vitorino, que seguem o Islão e é a esses que devemos lealdade, aos nossos compatriotas, cristãos ou muçulmanos, brancos ou pretos, não a um alemão qualquer, por mais importante que este seja nas nossa convicções religiosas. O problema não está no mundo árabe, estou-me nas tintas para o mundo árabe. Está aqui.
O papa usou portugueses como alvo da sua conferência. Não usou os portugueses, mas usou portugueses. Por isso é eu me "passo" com este tema. E peço desculpa pela violência das minhas palavras, porque me faz uma enorme confusão...
Certeiras palavras as de Vitorino.
Que tal como as do Papa não terão qualquer relevância comunicacional salvo se pelo meio do artigo o autor tivesse escorregado para o primarismo, para a violência, abordasse assuntos de sexo, descarrregasse ódios com destinatário certo ou desse lastro a um qualquer escândalo. Nesse caso teria as primeiras páginas asseguradas.
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