Hoje tive de ir à Rua da Trindade.
Barafustei, resmunguei, mas lá acabei por fazer o favor que uma das minhas filhas me pediu!
Mãe é Mãe...
...e logo hoje neste dia tórrido, pensei para comigo. Tem mesmo de ser hoje?
Tinha!!!
Lá fui pensando, para me alegrar, como Lisboa é bonita, como a zona alta da Baixa se modernizou em comércio, se recuperou nos edifícios, se encheu de gente.
Sinceramente acabei por me achar a fazer turismo, há muito que não andava a pé por estes sítios e cruzei-me com mais turistas do que com concidadãos.
Passado o lindíssimo Chiado, cheio de gente, subida a R. da Misericórdia, prestes a acabar os restauros dos velhos edifícios, olhando para tràs de vez em quando porque aquele Tejo ao fundo encanta qualquer retina...cheguei à Trindade e não resistir a descer até às ruínas do Carmo.
Aí deparei-me com o largo repleto de gente, uma excursão de nórdicos extasiados com o Convento, a luz de Lisboa e, esfomeados como eu, sentaram-se numa pequena esplanada que está em frente às ruínas, um pouco sobre a direita da porta do Convento.
Eu olhei em volta, não vi nada onde pudesse comer ao balcão uma sanduiche e beber uma água, vi uma sala muito requintada chamada "chá do Carmo", logicamente para lanchar daí o estar fechada ( em Portugal somos muito esteriotipados com estes preciosos horários...) vi um restaurante indiano mto. invernoso e sem ninguém lá dentro e quando me questionei a quem pertenceria aquela pequena esplanada que os nórdicos tomaram de assalto ( alguns, porque a maioria ficou de pé...sem lugar ) vi um toldo mto. sujo com um nome impresso: "Leitaria do Carmo".
Entrei, a esplanada pertencia-lhes!
Lá dentro estava eu, um bêbado e um sem-abrigo que, percebi, ía ali comer um pão com queijo e beber uma cerveja com a frequência que a caridadedo dono da leitaria aceitasse!
A leitaria tem lá uma data dos princípios do séc.XIX, uns ajulejos alguns de época, outros de restauro, uns tectos de estuque trabalhado, um balcão inenarrável de sujo e uma casa de banho que me fez pedir aos santinhos que, por milagre, nenhum dos estrangeiros se lembrasse de lá ir. Claro que os santinhos não me ouviram...e eu senti vergonha!
Pedi uma tosta mista que o empregado aqueceu mum micoondas e que devia estar feita da véspera, claro que ficou duríssima...olhei em volta e a única coisa que consegui pedir foi um bolo de arroz.
Mas fiquei, estoicamente, a olhar cá para fora a ver o que iriam eles comer.
Pediram umas tradicionais omoletas com umas batatas fritas tudo bem azeitado e servido em travessas de alumínio, numas mesas desgraçadamente postas, por ums empregados que nunca devem ter ouvido pronunciar a palavra "hotelaria". Beberam que se fartaram e, presumo, devem ter saído todos contentes...eu vim embora!
Será que eles sairam todos contentes? Estão de férias, em grupo, acham piada.
Eu não achei piada nenhuma...já nem falo na parte higienico-alimentar, falo naquilo que os olhos veem.
A Câmara de Lisboa não poderá impor regras em sítios destes, de visita turística, não poderá "padronizar" o arranjo das mesas, o tipo de loiça, o pessoal, o arranjo dos lavabos...sei lá, há muito que não me sentia tão diminuída no meu ego português...
À tarde comprei "o Público" e vejo "PORTUGAL ACOLHE ANÚNCIO DAS NOVA SETE MARAVILHAS DO MUNDO".
É verdade, Lisboa será palco, no próximo ano, desta cerimónia que pretende ter a dimensão de uma abertura de Jogos Olímpicos, diz o jornal.
Dr. Carmona Rodrigues, venha a este blog...
3 comentários:
Post muito para lá do efeito dos comprimidos
Pois diz a "Marquesa" que o Mercury faria hoje 60 anos, ou seja, a Caballé também deve estar em vias de mudar de milénio. Eu curto bués sopranos centenárias e bichas opus postumas.
Parece que os estou a ouvir, "ambos os dois", na inauguração do Estádio Olímpico de Nuremberga, o Führer, muito direito, hirto e firme, como o Cavaco e o Eanes, uma multidão com a suástica enrolada no braço, todos de braço erguido, em frente, e eles a tentarem cantar: ela, com todos os esforços que fazia para soltar o seu célebre si bemol, sobreagudo, com que o Caruso sempre parava e lhe batia palmas, aos gritos de "Brava!..."; ele, a tentar transformar todas as gargantas fundas feitas ao "people-black" do Bronx numa maviosa voz de bigode.
Havia em Mercury algo do timbre da Branca de Neve, assim como a Caballé tinha algo da Baleia Branca de Melville, até no volume -- volume do livro, não no volume dela... Tinham, em comum, duas coisas, o já terem, outrora, cantado, e estarem ali porque já tinham ultrapassado, há muito, o limite da decência que marca qualquer fim de carreira vocal.
O Führer adorou: para ele, tudo era Wagner, e até eu me comovi, com aquela sonoridade da Cavalquíria das Cavalconas. Tenho cá o disco em casa, e ponho-os sempre, naqueles dias em que não consigo acordar antes da 1 da tarde: adoro aquela voz grossa e sólida dela, a fazer de tenor, em "Nessum dorma"... Aliás, acho que foi essa grossura e solidez de voz que fez com que o outro se assentasse todo, de nalgas, nela, "ai, desculpe, pensei que fosse um cavalheiros!..."; ela, uma senhora, dizia, "esteja à vontade, estas mamas são todas suas..."
Curiosamente, um dos meus papéis favoritos, da Caballé, até é, estranhamente, o final da "Salomé"; do Mercury, nunca ouvi nada, mas parece que tinha a picha grossa, o que para muitos melómanos é mais do que critério.
Só lamento que ele esteja morto e ela em prolongada agonia, senão, o tio da nossa querida colaboradora Jacintinha, Monsenhor Marto, até os podia convidar para cantar na próxima inauguração da NOSSA Ota, a nova Grande Basílica de Fátima, que vai meter Santa Sofia, Saint Paul Co-Cathedral, em Malta, e São Pedro, de Roma, num chinelo.
O pequeno chinelo português, obviamente.
Cara Clara,
Deixe-me que lhe diga que, ontem, parece que andámos na mesma onda.
Quando saí para almoço com uns colegas, por acaso comentei que há muito tempo que não via a cidade de Lisboa tão maltratada como está agora.
Está suja, esburacada e tem um odor fétido.
Sinceramente, não sei o que é que a CML anda a fazer, nem quero saber mas, já sei em quem não vou votar nas próximas autárquicas.
Desculpem lá, mas o encanto de Lisboa é mesmo esse. Há restaurantes para todos os gostos e bolsas.
Lembro-me com saudade das sandes de queijo da ilha do quiosque do Cais-do-Sodré onde o dono, antes de agarrar a sandes com as mãos, tinha o cuidado de as esfregar no avental para tirar os pingos de vinho. Eram as melhores sandes do país.
Reataurantes de prato grande, bocadinho de carne e folha de hortelâ a enfeitar? É o que não falta para aí, a cumprir todas as normas harmonizadoras emanadas da comissão europeia. Mas, em rigor, também os há em qualquer sítio do mundo. O que não há é quiosques de sandes e é disso que me orgulho!
PS: Ontem levei convidados estrangeiros à Catedral da Cerveja no Estádio da Luz. Um sucesso! Mas para a próxima querem ir comer ao Bairro Alto, porque bifes são sempre bifes...
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