Num artigo publicado na edição de ontem do DN, o conhecido comentador Octávio Teixeira, economista e destacado membro do PCP, referia-se ao ambiente de euforia após a divulgação, na semana passada, dos dados do PIB para o 2ºsemestre – crescimento de 0,9%.
E recomendava cautela, pois não via razão para grandes euforias.
Para sustentar a sua tese, aquele Comentador lembrava no essencial o seguinte:
1º) O facto de a economia ter desacelerado do 1º para o 2º trimestre, em termos homólogos, de 1,1% para 0,9%;
2º) A evolução bastante negativa do investimento produtivo, mostrando que os investidores ainda não estão convencidos da sustentabilidade da recuperação;
3º) O facto de as economias da zona euro, no seu conjunto, estarem a crescer 2,5% ou até mais, significando que nos continuamos a atrasar e a distanciar dos nossos parceiros económicos mais directos.
Como aspecto curioso , o tom bastante técnico do texto, despido (aparentemente) de sabor ideológico.
O. Teixeira acrescentou uma nota pessoal, pondo em contraste o que considerou a euforia mal contida do Ministro das Finanças e a maior prudência do Gov/Banco de Portugal.
Feita esta referência, três observações da minha lavra.
A primeira, que este episódio de euforia alimentada pelo marketing político da semana passada, me recordou episódio semelhante (embora com muito menor intensidade) ocorrido há precisamente dois anos, quando também se percebeu que o desempenho da economia em 2004 iria ser melhor do que o previsto – como se sabe o PIB cresceu nesse ano 1,2%.
Nessa altura, um ou outro porta-voz do PSD proclamaram que o período de dificuldades estava a chegar ao fim, que tínhamos entrado numa era de prosperidade ou quase.
Perante tais declarações, tive oportunidade de manifestar a minha surpresa e desacordo.
Era para mim claro que esses porta-vozes não tinham entendido o carácter transitório dessa fase de melhor desempenho da economia e, ao contrário do que proclamavam, as dificuldades não só não estavam ultrapassadas como o mais difícil estava até para vir.
A segunda observação, de que o comentário de O. Teixeira me parece no essencial equilibrado e sensato, pondo em evidência dados insofismáveis a ter em boa conta.
Terceira observação, para dizer que me suscita maior reserva a diferença de protagonismo atribuída por O. Teixeira aos dois responsáveis político-económicos.
Tendo estado atento às reacções de um e de outro, recolhi uma impressão oposta: pareceu-me mais cautelosa a reacção do Ministro das Finanças.
O que à primeira vista poderá parecer surpreendente atentas as funções mais políticas do Ministro.
Mas talvez não seja bem assim.
Tanta coisa tem estado a mudar entre nós, que já nem mereça especial nota o que há alguns anos teria sido motivo de espanto: o BP ser o porta-voz do optimismo económico.
1 comentário:
Infelizmente, já ninguém liga nem ao O. Teixeira, nem ao Ministro das Finanças, muito menos ao Banco de Portugal.
Eu estou eufórico à mais tempo, mas porque este é o melhor dos crescimentos que tivémos, o mais limpinho, sem Expos, sem Euros, sem A235, sem ser eu a pagar mas sim eu a trabalhar.
E, felizmente, os políticos não vão conseguir tirar-nos isto nunca mais porque o país já aprendeu a fugir-lhes
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