Foi ontem noticiado que a Standard & Poors (S&P) e a Fitch, duas das mais prestigiadas agências de “rating”, tinham baixado o “rating” atribuído à dívida da Itália.
A S&P, que baixou a notação de AA- para A+, ou seja um degrau abaixo, justifica a decisão com “ a resposta inadequada do novo Governo aos desafios económicos e orçamentais de carácter estrutural que a Itália enfrenta”.
E acrescenta o seguinte “ O Orçamento (para 2007) faz pouco para colocar em prática reformas significativas do lado da oferta e vai até conduzir a um aumento da despesa em % do PIB”.
Quanto à Fitch, apresenta considerações semelhantes às da S&P.
Temos assim o novo Governo italiano, chefiado por Romano Prodi, em dificuldades apenas 6 meses após o início de funções.
Sabia-se que Prodi pretendia ir “mais longe” na adopção de medidas de consolidação orçamental do lado da despesa pública.
Todavia, a numerosa coligação de partidos que o apoia mostrou que não estava em condições de aprovar essas medidas.
Comunistas mais ou menos reconvertidos e outras formações de “esquerda” que compõem a coligação, terão sinalizado a sua indisponibilidade para apoiar medidas do tipo daquelas que entre nós foram agora anunciadas, no campo da saúde e das pensões.
O resultado é este, a Itália terá que suportar algum agravamento do custo da sua dívida, que é actualmente, na zona Euro, a que paga o “spread” mais elevado em relação às obrigações da dívida alemã (28 centésimas de ponto, contra, por exemplo, 17 centésimas da dívida portuguesa).
Esta situação sugere que a vida de Prodi à frente do Governo não vai ser nada fácil e, muito provavelmente, não conseguirá cumprir a legislatura para que foi eleito.
Se a situação não melhorar na frente orçamental – já nem digo se piorar – Prodi vai ter problemas muito sérios em 2007 e seguintes se lá chegar.
Aqui o tempo corre contra ele.
Se não conseguiu agora o apoio necessário dos seus parceiros de coligação para as medidas que pretendia introduzir no OE/2007, vai ser com certeza bem mais difícil no OE/2008, 2009...
Para Portugal, os azares da Itália, não podendo ser considerados boas notícias – seria falta de solidariedade – a verdade é que dão um certo jeito.
Temos os nossos riscos, é evidente.
No OE/2007, de acordo com os dados divulgados, a redução do défice em 0,9% do PIB obtém-se: 0,5% do lado da receita e 0,4% do lado da despesa. Sendo que nesta última 75% da contribuição advém da redução das despesas de investimento.
Neste cenário, para além da incerteza quanto ao crescimento do PIB, existe o risco de a receita fiscal ficar mais curta – e lá se vai o objectivo de défice, a menos que sejam feitos cortes adicionais na despesa.
Mas a verdade é que a Itália nos vai dando cobertura, nomeadamente monopolizando nos próximos tempos as más notícias em matéria de finanças públicas.
Embora também exista o velho ditado: “Com o mal dos outros posso eu bem”.
3 comentários:
Se tal acontecesse com Portugal não teria a menor dúvida que o caminho a seguir seria sair do Euro. Se fosse italiano estava a questionar-me da utilidade da união monetária e do que significava exactamente "união" e "construção europeia". Afinal porque é que o rating da Itália desce e do resto da Europa não? Que união é esta afinal? Uma que justifique uma moeda única não é de certeza, senão tínhamos 24 dirigentes europeus a dizer que a união garantia a dívida italiana e que as agências tinham errado grosseiramente no downgrade.
Isto cada vez me faz menos sentido, independentemente de ter razão no que diz em termos económicos. Porque é que temos uma moeda única, se somos todos inimigos de facto?
"O Governo português ... sabe que está numa corrida contra o tempo. Se as políticas prosseguidas não se traduzirem em consolidação orçamental e nas correcções estruturais necessárias à viragem das finanças públicas e da economia estaremos em apuros. Já estamos..."
Basta ouvir o Dr. Medina Carreira para saber qual vai ser o fruto desta corrida.
E basta ouvir o Dr. Marques Mendes, ou o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, para perceber, que com eles o fruto seria o mesmo, talvez chegasse mais cedo.
Caros Comentadores,
Registo os judiciosos comentários a propósito deste post, não deixando de notar o persistente cepticismo de Tonibler em relação à "moeda única europeia".
A Tonibler posso responder esclarecendo que estados de Uniões Monetárias mais avançadas que a do Euro - a dos EUA e do Canadá - já passaram ,não há muito tempo, por grandes dificuldades financeiras (Ontário, Michigan por exemplo) sendo obrigados a pagar juros muito mais elevados do que os pagos pela União ou por outros Estados da mesma União.
Não se trata, assim, de umproblema específico da zona Euro.
Quanto ao comentário do Jardim das Margaridas, espero hoje ainda colocar um post sobre o assunto.
A declaração de Prodi, caro Pinho Cardão, faz-me recordar declarações de políticos cá da casa, que se contradizem quase por dever de ofício...
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