Ontem fui ver esse filme lindíssimo cujo título roubei para este post, está escondido no cinema Nimas, não devia ter 20 pessoas a assistir, mas é realmente uma bela história.
O filme, de Douglas Sirk, com Lana Turner e Juanita Moore nos principais papéis, leva-nos aos anos 50 e à América glamorosa de todas as oportunidades, onde “lutar pelo seu sonho” era o abracadabra para o êxito e a fortuna.
A questão é que a vida tem muitas facetas, não é possível agarrar uma e pensar que é por aí que se a sorve de um trago, e esse engano desenrola-se ali à nossa frente, através da vida de duas mulheres, cada uma com a sua filha, que fazem por sobreviver sozinhas em Nova York.
Uma, a elegante e platinada Lora, jovem viúva decidida a impor-se como actriz de teatro, surge como uma lutadora que, sem prescindir dos seus valores, vai atrás de cada oportunidade, acreditando que os que a amam lhe compreendem a ambição e lhe justificam o tempo e o trabalho que dedica à conquista da afirmação e do sucesso.
A outra, Annie, uma mulher negra que teve uma filha de um homem branco que a abandonou, é uma fervorosa da igreja metodista e tenta, pela bondade e despojamento de si própria, dar à filha todas as condições para ter uma vida melhor que a dela. Torna-se indispensável à loira actriz, cuida-lhe da casa, da filha, liberta-a de todas as preocupações para que se dedique à sua arte. Silenciosa, discreta, mas com uma incrível solidez moral, repara-se que a outra tudo aceita e espera dela sem que, por um momento, se inquiete com a sua felicidade ou solidão.
Há um diálogo lindíssimo, em que Annie conversa sobre o destino a dar aos seus parcos bens depois de morrer e refere “os amigos”. Lora admira-se, nunca lhe conheceu um amigo, e Annie diz que sim, que vai à igreja metodista e que aí tem centenas de amigos. Lora fica ciumenta e agastada, “nunca me disseste que ias à Igreja”, e a outra responde com simplicidade “Nunca perguntaste…”
Annie amargura-se ao ver a filha crescer em beleza mas também em revolta para com a sua condição de mestiça e ela, que sempre encontrava resposta na sua fé, não sabe como enfrentar o ódio da rapariga contra a marca do seu nascimento.
A vida das duas vai-se cumprindo, aparentemente de acordo com os respectivos sonhos e quase diríamos que está ali o conto de fadas americano, luta e serás feliz, terra de oportunidades, todos são iguais se vencida a barreira do fracasso e da desistência.
Mas eis que surge a questão da mentira e da verdade, da ilusão e da realidade. O que é que se possui, afinal? O que é que conta no fim da vida, o que se conquistou ou o que se deixou ficar para trás, na febre da conquista? Quantas vidas se vive dentro de uma só, por qual delas se mede o que se obteve ou o que se esbanjou?
O filme tem ainda o interesse acrescido de ser datado, finais dos anos 50, altura em que o politicamente correcto era bem diferente, é incrível como se foram ajustando os discursos – sobretudo estes – a propósito dos direitos da mulheres a uma carreira profissional, o balanço entre a família e a realização profissional, o racismo, o casamento, a solidariedade.
A ver, para quem gosta de uma boa emoção.
O filme, de Douglas Sirk, com Lana Turner e Juanita Moore nos principais papéis, leva-nos aos anos 50 e à América glamorosa de todas as oportunidades, onde “lutar pelo seu sonho” era o abracadabra para o êxito e a fortuna.
A questão é que a vida tem muitas facetas, não é possível agarrar uma e pensar que é por aí que se a sorve de um trago, e esse engano desenrola-se ali à nossa frente, através da vida de duas mulheres, cada uma com a sua filha, que fazem por sobreviver sozinhas em Nova York.
Uma, a elegante e platinada Lora, jovem viúva decidida a impor-se como actriz de teatro, surge como uma lutadora que, sem prescindir dos seus valores, vai atrás de cada oportunidade, acreditando que os que a amam lhe compreendem a ambição e lhe justificam o tempo e o trabalho que dedica à conquista da afirmação e do sucesso.
A outra, Annie, uma mulher negra que teve uma filha de um homem branco que a abandonou, é uma fervorosa da igreja metodista e tenta, pela bondade e despojamento de si própria, dar à filha todas as condições para ter uma vida melhor que a dela. Torna-se indispensável à loira actriz, cuida-lhe da casa, da filha, liberta-a de todas as preocupações para que se dedique à sua arte. Silenciosa, discreta, mas com uma incrível solidez moral, repara-se que a outra tudo aceita e espera dela sem que, por um momento, se inquiete com a sua felicidade ou solidão.
Há um diálogo lindíssimo, em que Annie conversa sobre o destino a dar aos seus parcos bens depois de morrer e refere “os amigos”. Lora admira-se, nunca lhe conheceu um amigo, e Annie diz que sim, que vai à igreja metodista e que aí tem centenas de amigos. Lora fica ciumenta e agastada, “nunca me disseste que ias à Igreja”, e a outra responde com simplicidade “Nunca perguntaste…”
Annie amargura-se ao ver a filha crescer em beleza mas também em revolta para com a sua condição de mestiça e ela, que sempre encontrava resposta na sua fé, não sabe como enfrentar o ódio da rapariga contra a marca do seu nascimento.
A vida das duas vai-se cumprindo, aparentemente de acordo com os respectivos sonhos e quase diríamos que está ali o conto de fadas americano, luta e serás feliz, terra de oportunidades, todos são iguais se vencida a barreira do fracasso e da desistência.
Mas eis que surge a questão da mentira e da verdade, da ilusão e da realidade. O que é que se possui, afinal? O que é que conta no fim da vida, o que se conquistou ou o que se deixou ficar para trás, na febre da conquista? Quantas vidas se vive dentro de uma só, por qual delas se mede o que se obteve ou o que se esbanjou?
O filme tem ainda o interesse acrescido de ser datado, finais dos anos 50, altura em que o politicamente correcto era bem diferente, é incrível como se foram ajustando os discursos – sobretudo estes – a propósito dos direitos da mulheres a uma carreira profissional, o balanço entre a família e a realização profissional, o racismo, o casamento, a solidariedade.
A ver, para quem gosta de uma boa emoção.
7 comentários:
Apesar de "antigo" e enquadrado num contexto social diferente, podemos fácilmente encontrar paralelos nos dias de hoje para o que caracterizou o argumento deste filme. E... a sua interrogação, cara Suzana, é deveras pertinente, o que é que conta verdadeiramente, não só no final, mas sobretudo no decorrer da vida ?
Pergunta que certamente todos já nos colocámos e para a qual, acredito que ainda nenhum de nós atingíu a resposta ideal.
Como dizia o filosofo... conhecemos o caminho, por vezes, mas nunca onde o mesmo vai dar.
E o caminho, passa a meu ver, pela importância que nos atribuímos e ainda a importância que conseguimos atribuir ao outro.
E para que tudo ganhe a solidez que nos confere a confiança e a força anímica necessária para pisar os caminhos... é necessário constância!
Cara Dra. Suzana Toscano:
Depois desta bela abordagem, tão profunda e intimista, que faz a este filme, fico com a sensação de já o ter visto. No entanto, ao mesmo tempo, esta abordagem constitui um desafio para o "ver com os meus próprios olhos".
Caro Bartolomeu, é verdade que esse balanço deve ser feito ao longo da vida, sobretudo enquanto ainda se vai a tempo de corrigir a trajectória. Mas a constância de que fala, ou a persistência, se a virmos no plano da dificuldade, implica a renúncia a outros caminhos e é essa constância que pode ser posta em causa. Enfim, quem é que disse que a vida é fácil?
Caro Invisível, ainda bem que regressou ao nosso convívio, já lhe sentíamos a falta!. Pois vá ver o filme com os seus olhos, é para isso que servem, com óculos ou sem eles tenho a certeza de que terá novas perspectivas do que aqui esbocei... :)
"Mas eis que surge a questão da mentira e da verdade, da ilusão e da realidade.
O que é que se possui, afinal?
O que é que conta no fim da vida, o que se conquistou ou o que se deixou ficar para trás, na febre da conquista?
Quantas vidas se vive dentro de uma só, por qual delas se mede o que se obteve ou o que se esbanjou?" (suzana disse)
Simplesmente fantástico este texto que escreveu.
Quase como se existisse um espelho, entre a vida que vivemos e a que falta viver.
A que vivemos podemos ver reflectida nesse espelho.
A que falta viver é apenas uma miragem, que pode ou não vir a ser uma realidade.
também eu, sim Suzana, penso no que fui !
Ou se cheguei a ser.
Também eu penso no que tenho.
Ou se cheguei a ter.
E sobretudo penso no que conta na nossa vida.
E o que conta para mim, são as pessoas. Tudo começa e acaba nas pessoas que amamos.
As pessoas de que gostei, de que gosto, e também aquelas de que ainda virei a gostar.
A vida vale a pena, sim Suzana !
Amanhã será sempre outro dia....
Um novo dia !
um abraço
Suzana
Fico com muita vontade de ir ver a "Imitação da Vida" e espero fazê-lo. A vida é feita afinal de um somatório de muitas vontades, mas que às vezes não se cumprem, as boas e as más, as grandes e as pequenas.
Não há uma vida igual a outra. As suas verdades e mentiras, os seus desejos e sonhos e as suas ilusões e desilusões combinam-se com dimensões e tonalidades diferentes. O importante é que no princípio e no final procuremos fazer as coisas bem feitas porque é mesmo a única forma de vivermos com verdade, a verdade que nos pode trazer felicidade, que habita o nosso coração e o nosso íntimo.
Cara Pezinhos,não só vale a pena como é fantástica, sempre a surpreender-nos, a trocar as voltas,a dar e a tirar...O facto de olharmos de vez em quando para trás, para fazer o balanço, não quer dizer que fiquemos parados no que nos passou ao lado, ou fugiu das nossas mãos, é só para vermos como fomos felizes se pudemos escolher.Um abraço para si também e pelo seu comentário tão sentido.
Margarida, também gosto muito desse tese da conciliação, na verdade tudo se mistura, o que foi e o que podia ter sentido, de certa forma tudo integra o ser único que é cada um de nós. Vá ver o filme, depois conversamos, acho que vai gostar mesmo!
Enviar um comentário