Os nossos Governantes não param de nos surpreender!...
Ainda ontem, segunda-feira, dia 21 de Janeiro, quando a bolsa portuguesa registava uma queda de quase 6% (a maior desde 1998), acompanhando o descalabro das principais praças mundiais, o Primeiro-Ministro revelava estar muito confiante em relação a 2008. Para Sócrates este “vai ser o ano do crescimento económico e do regresso do investimento”.
“Pelo que vejo e sei, podemos olhar para 2008 com confiança e segurança”, disse José Sócrates durante uma mesa-redonda com vários empresários, inserida no encontro promovido pela revista “The Economist”, à mesma hora em que se confirmava o crash dos mercados accionistas a nível mundial, com as perdas deste início de ano a suplantarem já os ganhos de 2007. E reiterou a sua confiança num crescimento acima de 2% em 2008.
Afinando pelo mesmo diapasão (a escola do Governo é só uma…), o Ministro das Finanças rejeitou hoje a ideia que o “problema iniciado nos Estados Unidos signifique necessariamente uma redução do crescimento português” (!) e realçou que “a economia portuguesa tem condições para enfrentar com confiança os desenvolvimentos que possam ocorrer”, ao mesmo tempo que defendia que “não temos de estar permanentemente a rever previsões de crescimento”. Claro que não, por que se haveria de proceder desta forma pouco avisada?!... Tudo vai tão bem como há três ou mesmo há um mês atrás, não é verdade?!...
Ora o problema é que não é nada verdade.
Porque é hoje bastante mais provável que, graças sobretudo à crise do mercado de crédito, a economia americana entre em recessão. Foi por isso mesmo, aliás, que o Fed (banco central dos EUA) cortou hoje de surpresa os juros, de 4.25% para 3.5%, na passada terça-feira. E deve cortar novamente para 3% (ou talvez mesmo 2.75%) na próxima semana. Mas nem com este incentivo as bolsas dos EUA inverteram a tendência de queda… E se os EUA experimentarem uma recessão, nem a Europa, nem, claro, Portugal escaparão ilesos…
Também hoje, o Governador do Banco de Portugal, certamente com grande pesar político, admitia rever em baixa o crescimento português para 2008, em virtude da crise dos mercados financeiros e de crédito, e da desaceleração brusca que os indicadores económicos relativos a Novembro e Dezembro de 2007 sugerem para o nosso país…
Finalmente, e também hoje, terça-feira, o Presidente da República, revelando uma meridiana lucidez (sobretudo se comparada com a desfaçatez governamental…), admitia que a dimensão da crise bolsista “ultrapassa todas as análises que se faziam da crise do subprime nos Estados Unidos”. E concluía: “Portugal dificilmente escapará aos efeitos da crise dos mercados financeiros”.
Naturalmente… Nem poderia ser de outra forma, como pequena economia aberta que somos…
Fantástico é que, no mesmo dia, o Ministro das Finanças recusou a ideia de ter um “optimismo balofo ou gratuito”. O que, creio, o Primeiro-Ministro corroboraria sem pestanejar.
Porém, uma viagem pela Zona Euro mostra que o Governo Português é, de entre os Governos de 14 dos 15 Estados-membros, o único que prevê para este ano um crescimento do PIB maior do que o registado em 2007 (a Bélgica é o país dos 15 que ainda não disponibilizou este tipo de informação).
A teoria do Oásis está de regresso. Pelo menos para o Governo. Ou melhor: só para o Governo…
8 comentários:
Caro Miguel Frasquilho,
Essa da teoria do Oásis devia pagar direitos...olhe que registei o título...
Grande abraço.
Pois é meu caro, é a alternância democrática em pleno! Até na teoria do Oásis...
A verdade, é que cada vez é mais irrelevante o que uns (governo) e outros (oposição) acham. Felizmente o país cada vez menos depende deste "achismo" e cada vez mais a economia a ele ligada funciona em circuito fechado.
Penso até que estão a ponderar a possibilidade de criar um decreto de lei que impeça a economia de crescer a baixo do que é por eles estipulado/estimado/desejado/inventado (riscar o que não interessa)...Já conseguiram ser criativos ao ponto de tentarem um "decoupling" entre inflação e subida real dos preços, por isso podemos esperar de tudo.
Os ilustres governantes deviam direccionar o seu discurso para expôr a real situação da economia portuguesa e os riscos com que ela se vai deparar nos próximos tempos, e deixarem-se de "wishful thinkings".
escrevi no http://vilaforte.blog.com que a declaração do PM faz lembrar o homem que entra em sentido contrário na auto-estrada e diz à mulher que os outros é que vão mal. O resultado já sabemos qual é. PUM!
pedro oliveira
1- Não me parece mal, porém, a postura do Ministro das Finanças. Sabe-se que um dos factores determinantes para a solidez do mercado financeiro é a confiança dos investidores. Ora, o que ele tentou fazer foi evitar o pânico mas de forma desajeitada; talvez mais ao estilo de Maria Rueff "NÃO PANIQUEM!!!".
2- Coisa bem diferente de evitar a escalada de desconfiança é tentar ignorar que existe um problema real a combater colocando uma venda nos olhos dos portugueses. Isso é demagogia e não é correcto por parte do Ministro da Pasta.
Lamento meus caro amigos mas, desta vez vou ter de defender o governo.
O governo está cobertinho de razão. O país é um Oásis... e nós somos os camelos que lá vão beber água.
Meu caro Dr. Tavares Moreira,
Confesso-lhe que fiquei surpreendido com o seu comentário... até que dei uma vista de olhos pelo blog (o que devia ter feito há mais tempo...)!... E, assim sendo, só lhe posso dizer que lhe devo umas desculpas!... ou então o pagamento dos direitos de autor!... Se me disser quanto é, podemos chegar a um acordo!... :-)
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