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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A mulher de César e o BCP

Não tenho elementos objectivos para saber se o Governo interferiu muito ou pouco ou nada, de forma directa, indirecta ou oblíqua na feitura da lista dos Administradores do BCP ontem eleitos. O tempo se encarregará de o esclarecer.
Conheço três dos quatro directores do Banco que foram eleitos; trata-se de pessoas com provas dadas e excelente curriculum nas diversas funções desempenhadas. Conheço também o Presidente, que aliás passou pelo BCP, conhece a cultura da instituição e creio não haver dúvidas quanto à sua competência, honradez e independência.
Também conheço bem quatro dos nomes da lista vencida, os quatro excelentes gestores, dois deles com curriculum no Banco.
Posto isto, verifiquei na Assembleia Geral de ontem que a ideia de que o Governo tomara de assalto o BCP ganhou terreno junto de muitos accionistas. Para eles, a lista de Santos Ferreira significava a estatização do BCP, enquanto a de Miguel Cadilhe a independência do BCP face ao Governo. Foram muitas as vozes que o expressaram. E assumiram-no no voto, já que a lista de Miguel Cadilhe, perdendo estrondosamente em função do capital votante, ganhou em número de accionistas presentes.
Mais uma vez se prova que à mulher de César não basta ser honesta, tendo também que parecê-lo.
Mas se o Governo não terá parecido honesto a muitos, a atitude de alguns partidos, entre os quais o PSD, também deixou muito a desejar. Era o mais que faltava ao Dr. Miguel Cadilhe que o PSD parecesse apoiá-lo partidariamente para a eleição de Presidente de um Banco, de mais a mais, privado!...
Neste render da guarda, as minhas homenagens aos três anteriores Presidentes, Eng. Jardim Gonçalves, que agora é de bom tom criticar, mas a quem se deve a criação de um grande banco português e a modernização do sector financeiro, ao Dr. Teixeira Pinto, que assegurou uma transição difícil, e ao Dr. Filipe Pinhal, que saiu com toda a dignidade, como ainda ontem o demonstrou no discurso que proferiu na Assembleia Geral.
Declaração de interesse: Esclareço ter sido quadro do BCP até Fevereiro de 2002, tendo aí desempenhado funções de Direcção Geral e de Administração de outros Bancos do Grupo.

7 comentários:

Tonibler disse...

Continuo com a suspeita de que há festa num banco português e não é no BCP. De qualquer forma, o BCP não é exactamente o Montepio. Miguel Cadilhe, ou qualquer outro, não ganha na "política" nunca.
Quanto às pessoas, lamento que Jardim Gonçalves não tenha posto o Filipe Pinhal logo de início. Mas isso foi no tempo em que tinha acções do BCP, que as vendi no tempo da OPA ao BPI que era, para mim e pelos vistos para muito mais gente, uma grossa asneira.

Bartolomeu disse...

If ther's a prty... and a banc... and some gangester's... so... this is the music who's missing
http://youtube.com/watch?v=p-L0NpaErkk
;))))
have a nice day!

O Reformista disse...

Parece-me mais uma golde share...
(mais uma)

António Alvim

Anthrax disse...

Pois ora aqui está um dos motivos pelos quais deixei de ver notícias.

Cansei-me de assistir a tanta estupidez num curto espaço de tempo.

Note-se que eu não sou ninguém para falar acerca do A, do B ou do C porque não os conheço de lado nenhum (nem tenho qualquer interesse em conhecer). Agora... eu sei e reconheço muito bem quais são as percepções que tenho sobre toda a situação BCP.

Enquanto consumidor dos serviços do banco, estou descontente. Por isso mesmo, nas férias passadas levantei o dinheiro todo que tinha numa das contas e fui abrir uma conta no Deutsch Bank. Agradou-me substancialmente o tratamento que recebi e os pacotes de serviços que têm. Além disso, não tem aquele ar de banco do povão (para compor o ramalhete só faltava mesmo era oferecerem um cafézito enquanto se espera na salinha). Neles depositei, além do meu dinheiro, a minha confiança (cuja qual, neste momento, o BCP não me merece).

O passo a seguir, será dar por terminada a minha relação (de 11 anos) com o BCP e fazer transitar o meu ordenado para outro banco. Actualmente, na minha mira estão - outra vez - o Deutsch Bank e o renovado BANIF. Vou pesquisar as condições.

Há coisas que não considero, de todo, aceitável e uma delas é a promíscuidade (aparente ou efectiva) entre poder político e instituições privadas (principalmente bancárias). Da mesma forma, também não é aceitável uma instituição bancária ceder aos caprichos e colocar-se nas mãos de um especulador. Mas pior do que estas duas coisas juntas, é a inoperância de uma instituição que não zela, nem luta pelos seus próprios princípios. É como ceder a uma doença.

Eu tenho uma forma muito própria de ver as organizações. Para mim, as organizações são um organismo vivo e dinâmico que estabelece relações multi-direccionais (como qualquer ser humano faz ao nível individual). É um organismo que dá e que recebe, sendo que para ser saudável tem de existir um equilíbrio, quer ao nível das relações internas, quer ao nível das relações externas. Desta forma, quando há uma disfunção interna o organismo fica debilitado e susceptível a agressões externas.

Bom, a verdade é que na minha óptica, o BCP sofre de uma disfunção interna há algum tempo e colocou-se a jeito para ser agredido. Há também quem lhe chame "Paradoxo de Ícaro", quiseram aproximar-se muito do sol e perderam as asitas. Enfim, é comum acontecer a quem olha demasiado e demasiado tempo para o seu umbigo.

Não tenho pena do que aconteceu ao BCP. Tenho pena é de lá ter ainda o meu dinheiro, mas essa é uma questão será resolvida dentro em breve. Não coopero com instituições sem "thymos" (como diz Fukuyama).

Sei que é chato, mas isto é o que penso acerca do BCP.

PA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PA disse...

enganei-me !
não era neste post.
sorry.

Suzana Toscano disse...

É de facto uma história comprida e complicada, é natural que muito boa gente, mesmo sem desistir de ler as notícias, como fez Anthrax, não tenha conseguido perceber o que é que era e o que é que parecia mas não era. Daí a importância de coincidirem, como diz muito bem o Pinho Cardão. Quanto aos que sairam, concordo com o que diz, há um longo trabalho que foi feito, que era o exemplo sempre que se queria ilustrar um caso de sucesso, que serviu de modelo a muitos outros. Uma coisa não apaga a outra, embora a nossa tendência seja sempre para nos regozijarmos com o falhanço dos que se distinguiram.