O Jorge partiu. Estava à espera da notícia depois de há umas semanas, com chocante á-vontade, me ter comunicado o paradoxo de ter resistido anos e anos à condenação de um cancro no pulmão e agora sucumbir a uma outra doença que a medicina conhece bem, mas para a qual não encontrou ainda remédio. Foi num almoço onde apareceu, tranquilo, bem disposto e entusiasmado com o trabalho que tinha em mãos. Compreendo hoje que aquele encontro - que tantas vezes adiámos e que sempre renovávamos através dos recados mútuos comunicados pelo barbeiro comum transformado em mensageiro - foi, afinal, uma despedida. A partir de certa idade vamo-nos acomodando à ideia da partida e conformando com a erosão que a morte provoca na vida dos que permanecem. Não nos tornamos indiferentes, porém, a estes estes gestos de imensa coragem de quem não quer omitir o último tributo à amizade. Obrigado, Jorge. E até sempre.
2 comentários:
José Mário
Resignamo-nos a uma imensa saudade com o sentido de respeito que também nos merecem os nossos amigos, das nossas idades, muitos deles na força dos seus projectos de vida, que mais perto ou mais longe fizeram parte da construção da nossas vidas. Uma parte que se vai embora e deixa um vazio que não é substituível. Uma tristeza que nos consome.
Zé Mário, tem alguma razão quando diz que vamos aprendendo a viver com a falta dos que fizeram parte da nossa vida, de uma maneira ou de outra, que pontuavam o nosso universo. Vamos sobretudo aprendendo a dar mais valor ao que ainda temos talvez por isso mesmo, porque afinal a sua ausência lembra-nos todos os dias que a nossa felicidade depende sobretudo dos laços que vamos tecendo com os que nos rodeiam.
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