Finalmente começa a desfazer-se a opacidade dos eufemismos oficiais. O que levou ao desaparecimento do BANIF e a que chamaram resolução, foi a operação de compra e venda parcial de ativos, tendo como adquirente o SANTANDER, para além da autonomização de outros que supostamente não interessaram ao comprador que - imagino eu - os teria de descontar no valor da transação por corresponderem a riscos consideráveis ou a produtos tóxicos. O que ocorreu foi, pareceu-me logo na nunciação dos contornos do negócio, a liquidação de um banco. Atípica, mas liquidação. Jorge Tomé vem agora chamar-lhe "liquidação forçada" e diz porquê. E o que diz, faz, para mim, todo o sentido.
É importante que se sucedam estes depoimentos, independentemente das audições parlamentares sobre o caso e das conclusões a que conduzirem. São leituras decisivas para a compreensão de uma operação que ainda deixa estupefactos muitos dos que não percebem (eu estou entre esses) que risco sistémico para o País e para a Europa resultariam da continuidade do pequeno banco com a estrutura de capital resultante da intervenção do Estado. Pelo menos até que se encontrasse solução capaz de garantir o retorno do esforço público (feito exatamente para suportar a sobrevivência do banco). Se a estas revelações juntarmos as recentes declarações críticas do governador do BdP sobre as regras visando a segurança do sistema bancário no espaço europeu entradas agora em vigor, o que vai sendo conhecido já basta como indício de que quem decide nestes domínios, dentro e fora de portas, parece definitivamente atacado de uma esquizofrenia que nos está a sair muito cara.
11 comentários:
Os riscos sistémicos têm razões que a razão desconhece.
Sobretudo, quando há um Monopólio Bancário Mundial que cria o dinheiro a partir do nada, estabelece as taxas de juro e, pé ante pé, se vai apropriando de toda a riqueza do planeta...
Caro Ferreira de Almeida, duas perguntinhas capciosas, a primeira retórica e no seguimento do seu post, a segunda mais relevante:
1) O BANIF precisava realmente ser liquidado, vendido, resolvido, chame-se-lhe o que se quiser chamar? Pelo seu texto penso que concorda comigo em como não precisava.
2) É suposto, na óptica de Bruxelas, haver sequer algum banco Português?
Boa segunda pergunta a que não sei responder. Dizem-me que quando a falta de racionalidade das decisões atinge um certo nível, a irracionalidade algum propósito prossegue. Se eu me deixasse encantar por teorias conspirativas diria que estava aí uma boa explicação: o BCE entende que Portugal é um país de risco excessivo para a banca.
Quanto à primeira pergunta, pese embora a modéstia do que sei sobre estas matérias, não consigo entender como é que o risco de perda de 700 ou 800 milhões justifica a perda efetiva de mais de 2 mil milhões por parte do vendedor. Ficando ainda com o que não tem mercado. Também isto deve ter uma explicação, nem que seja a captura do BCE por uma qualquer sinistra formação de burocratas que da realidade conhecem o que passa nas séries do Netflix sobre o mundo da finança.
Caro Ferreira de Almeida,
Sem querer entrar em detalhes num assunto tão melindroso, interrogo-me sobre as razões que terão ditado a rejeição, pela maioria parlamentar que apoia o Governo, da realização de uma auditoria externa (forense) ao BANIF, recomendada, entre outros, por António Horta Osório, como medida indispensável ao esclarecimento do processo que conduziu ao fim do banco.
Ora, não pode haver uma auditoria porque isso ia atrapalhar a Mariana na sua investigação parlamentar.
Quanto ao mercado financeiro, há um problema. Um negócio que existe desde que os fenícios cruzavam o mediterrâneo ou, na sua versão moderna, desde que os florentinos geriam as fortunas da Europa, só entrou em crise geral depois de termos reguladores que evitam crises gerais. Curiosamente, ninguém estranha que todos os bancos tenham problemas e que todos os reguladores façam cada vez mais leis em que os bancos têm ainda mais problemas. A não ser para acharem que a culpa é dos bancos. Mas, como dizia o outro, a estupidez humana, ao contrário do Universo, não tem fim....
O BANIF morreu por coisa nenhuma, para que o governador do BP tenha emprego e possa dar emprego a mais uns milhares de inúteis. Essa é a verdade.
Meu caro Tavares Moreira, não quis dizê-lo, mas é a estranheza que nos causam ações e omissões como essa do Parlamento, que torna mais relevantes declarações como a de Jorge Tomé.
Caro João Cruz, subscrevo o sentido do seu comentário, salvo no que respeita ao papel do Dr. Carlos Costa. Já houve um tempo em que eu pensava que ele condicionava; hoje, e perante os factos e as suas últimas e desanimadas declarações, julgo que é mais um dos condicionados.
O meu pouco conhecimento sobre estes domínios como o da generalidade dos cidadãos, bem como a complexidade das relações estabelecidas no âmbito de um sistema financeiro assente em realidades muito desiguais, como continuam a ser as instituições sedeadas nos diferentes Estados, não me inibe de opinar que neste meio caminho andado para a união financeira (em especial na zona do euro) os bancos centrais parecem ser meras secções do BCE. E o BCE parece um alfobre de Centenos que julgam que a realidade é a que pintam nos seus papeis de cenário.
Oxalá que nesta opinião esteja a ser vítima das minhas dificuldades em atender o que, por exemplo, no plano do Direito deixou de ser simples de entender relativamente a aspetos fiduciários ou a garantias contratuais, essenciais ao subsistema bancário.
Caro JMFA, eu, do vice do Banco de Itália vi reacções violentas face ao BCE exactamente nos testes que levaram ao calote das obrigações do Novo Banco. O BCE são os bancos centrais, se todos estiverem submissos então a tragédia será certa.
Toda a regulação é um disparate. Nada do que o banco de Portugal obriga os bancos faz qualquer sentido. E não vem de agora, vem desde os anos 80.
O Centeno, esse, era da zona inútil do banco de Portugal, a escola dos ministros das finanças que destroem o país. A regulação é da zona prejudicial, aqueles que não esperam pela política para o tentarem
Caro JMFA, eu, do vice do Banco de Itália vi reacções violentas face ao BCE exactamente nos testes que levaram ao calote das obrigações do Novo Banco. O BCE são os bancos centrais, se todos estiverem submissos então a tragédia será certa.
Toda a regulação é um disparate. Nada do que o banco de Portugal obriga os bancos faz qualquer sentido. E não vem de agora, vem desde os anos 80.
O Centeno, esse, era da zona inútil do banco de Portugal, a escola dos ministros das finanças que destroem o país. A regulação é da zona prejudicial, aqueles que não esperam pela política para o tentarem
O meu caro João Cruz tem mesmo a certeza que o BCE são os bancos centrais? Ou melhor, para lá da orgânica, o poder do BCE residirá mesmo no Conselho de governadores e na Comissão Executiva? Ou, tal como acontece com a Comissão da UE, prisioneira da burocracia, o poder efetivo terá outras fontes internas?
Caro Pires da Cruz,
Atenção a essa narrativa histórica, nomeadamente à citação dos anos 80 como origem destes problemas...
Na 2ª metade dos anos 80 e até ao início dos 90 resolveram-se, de forma eficaz, fragilidades graves que existiam em algumas instituições - do tipo caixas económicas em especial - e deu-se início a um programa de inspecções a bancos, "in sito", a doer, que teve resultados muito importantes até ao momento em que resolvi cessar aquelas funções (Maio/92).
Do que se passou depois não me cabe comentar deixo essa tarefa para agentes mais qualificados e independentes...
Caro Tavares Moreira,
A referência aos "anos 80 "cingia-se à origem da maluqueira regulatória em Basileia, nada referente ao Banco de Portugal que se comportava na altura como uma bolsa de liquidez mantendo o mercado financeiro em funcionamento. O "pântano" das caixas económicas gerou UM problema grave, não sei se anterior ao seu tempo. Aquilo que estamos a falar hoje é se existe UM que não seja um problema grave. Mas que fique claro que a a referência "anos 80" se cingia ao início da construção de tragédia a nível europeu, não ao Banco de Portugal. Nem sei se a expressou que usou, "fragilidades", se pode aplicar hoje a algum membro do mercado bancário, tal é o cenário de loucura generalizada.
Caro JMFA,
Sei que o BdP faz barbaridades que saem exclusivamente do seu livre arbítrio. E sei-o de fonte segura. O Banco de Espanha faz aquilo para que foi criado. O Banco de Portugal não. O Banco de Inglaterra, fora do euro, lida com problemas gravíssimos de regulação, quer por causa dos esquemas de combinação, quer por causa do terrorismo, quer por causa da crise de 2008. Em nada, mesmo em nada, se pode classificar a acção do BdP pelos padrões do Banco de Inglaterra, julgado pelos locais como inaceitável. Para termos um banco central assim, mais vale fazer o outsourcing aos espanhóis. Despedem-se os empregados do BdP, com manifestas vantagens para o futuro das finanças do estado(sebe-se lá que criatura está lá a ser criada para ser o próximo ministro...), e entrega-se a regulação a um regulador de facto, daqueles que sabe que só existe se o mercado lá estiver.
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