O Governo erigiu, e bem, a competitividade como uma das suas preocupações prioritárias.
O objectivo último do “choque tecnológico” seria a substituição do modelo económico baseado na mão de obra barata e no baixo valor acrescentado por um modelo baseado na competitividade e em produtos de grande valor acrescentado, cujo desenvolvimento seria possibilitado pela utilização do conhecimento e das novas tecnologias.
Ao Ministro Mariano Gago, que tutela as Universidades, a Investigação e a Ciência, foi cometida grande responsabilidade nesta matéria, porquanto lhe compete criar uma massa crítica de cientistas e investigadores de elite, que trabalhem com objectivos e no meio empresarial, se interessem pela investigação aplicada e considerem que o desenvolvimento de novos produtos, até à comercialização, e o aperfeiçoamento dos existentes é a melhor forma de realização profissional e de serviço prestado ao país.
Creio que começou muito mal.
Pelo que li na comunicação social, e com vista a apoiar o choque tecnológico, possibilitando a preparação de mais mestres e doutores, anunciou que as propinas a pagar pelos alunos de mestrados e doutoramentos serão niveladas e mais baixas.
Esta decisão é, em si, um verdadeiro atentado à competitividade
Nada mais falso, demagógico e revelador da nossa tacanha mediocridade.
Em vez de se fomentar a competição entre as Universidades públicas, pelo menos naqueles segmentos de ensino, lá vem mais uma vez o tabelamento, a uniformização, a ideologia da igualização.
Os professores contratados, no país ou no estrangeiro, tenderão a ser piores, as exigências diminuirão, cairá o nível dos formandos e tenderá a tornar-se indiferente a escolha de uma ou de outra Escola.
A tímida avaliação das Escolas pela via do mercado fenece de vez, e a competitividade, que traz qualidade, leva mais um rude golpe, e agora da entidade que mais deveria bater-se por ela.
Haverá porventura mais mestres e doutores, mas, certamente, piores mestres e piores doutores, a quem menos foi exigido para obterem o grau e que menos exigiram de si próprios para o obter.
Os Estados Unidos, que deveríamos seguir como exemplo nesta matéria, se os complexos culturais de quem manda nas Universidades e na Investigação o permitissem, tem a maior taxa de registo de patentes por milhão de habitantes.
Essa elevada taxa deve-se, para além da organização dos meios e dos investimentos, à preparação dos investigadores e dos candidatos a investigadores, que consideram como um investimento pessoal e financeiro toda a preparação que fizeram ou estão a fazer para neles se poderem realizar profissionalmente.
Esse facto tornou-os exigentes para consigo próprios e para com as Universidades em que se prepararam.
Em Portugal, o espírito é lamentavelmente ao contrário.
A ideia prevalecente não é a do esforço e do investimento individual, mas a de que o Estado é que tem a obrigação de formar investigadores e estes fazem o favor ao Estado de frequentar as suas Universidades e assim terem direito a um emprego nos organismos públicos, onde a investigação é “à la carte”. Obviamente que o Ministro aumenta a sua corte, torna-se mais considerado, mas presta um péssimo serviço ao país.
Melhor faria o Ministro se, em vez de tabelar preços de propinas, deixasse o mercado dos doutoramentos funcionar e apoiasse financeiramente quem, tendo carências económicas, mas qualidades de inteligência, de vontade e de trabalho, pretendesse formação académica superior.
Teríamos assim doutores de valor acrescentado e não apenas doutores de valor normalizado.
O que o Ministro vai fazer não é mais que os empresários tradicionais do têxtil continuam a fazer: fabricar produtos sem valor acrescentado.
O que é verdadeiramente lamentável.
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