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terça-feira, 10 de maio de 2005

A sorte das reclamações

O post da Suzana trouxe-me à memória um episódio vivido há uns meses no aeroporto de Lisboa a propósito de uma reclamação contra uma companhia de aviação que se recusava a resolver um problema só a ela imputável.
Pedido o livro de reclamações à funcionária do balcão que se esforçou todo o tempo por sacudir o incómodo, lá informou que não existia qualquer livro, dizendo de resto ter instruções para não assinar quaisquer declarações, mesmo as que reduzissem a escrito a forma como se propunha, em nome da empresa, resolver o problema. O supervisor tinha regressado a casa e já só voltaria no dia seguinte, estando incontactável.
Convencido de que não seria ali que a questão se resolveria, dirigi-me à esquadra da PSP.
Seria ocioso contar todas as peripécias desde o momento que ali entrei até que abandonei. Algumas verdeiramente hilariantes, que contadas depois, contribuiram para desanuviar o ambiente entre o grupo de amigos que viveu a situação. Conto só que às tantas apareceu um graduado da PSP que, brioso, se interessou por saber o que se passava, que fazia eu ali, às tantas da noite, perturbando a serenidade felizmente habitual. Fiz o relato, e como necessitava unicamente que os factos ocorridos fossem registados em auto e as pessoas neles intervenientes identificadas, pedi-lho, explicando que era essa a única forma de poder demonstar a fuga à responsabilidade por parte de quem a tinha.
A solicitude depressa se esvaneceu, considerando não serem os factos qualificáveis como ilicito criminal, o que impedia a polícia de intervir. Mas fez mais, não fosse o cidadão irritado, participar. Ou pior, que lhe passasse pela cabeça pregar dois tabefes na funcionária da companhia de aviação, dando ssim o sugerido motivo para a intervenção policial. Passou-me então para as mãos uma fotocópia de algo que me me pareceu um manual de procedimentos onde, entre outras pérolas, se pode ler o que não resisto a citar:

"Em cumprimento do determinado no Despacho nº 08/98, de 17/01 de S.Exª o MAI, solicito ainda aos Srs. Graduados que não se eximam a receber as participações dos cidadãos, informando-os, contudo, que esta Polícia procederá ao seu arquivo, fazendo disso menção no expediente".

Confesso que na altura, ouvida a explicação dada em tom severo e magistral e lida a fotocópia, estive para sugerir que para além da prestação de tão valiosa informação, a PSP distribuísse logo aí o papel para registar este tipo de participações. Do macio, daquele que é suposto separar-se pelo picotado. Facilitava as coisas e contribuia para a politica de reciclagem...

Confesso também que fiquei, apesar de tudo, satisfeito por saber que a nossa PSP arquiva de preceito (certamente em nome do combate à burocracia e ao excesso de garantias) e mais do que tudo... faz disso menção no expediente. Exultemos, pois.

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