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segunda-feira, 16 de maio de 2005

O critério editorial

O Prof. Massano acaba de se referir ao tema, como ontem a ele se referiram o F. Almeida e o D. Justino.Eu próprio já o abordei aqui várias vezes. O assunto é manifestamente importante.
Prevalecendo-me do facto de, no desempenho da minha actividade profissional, ter estado 6 anos e meio num órgão da comunicação social, julgo ter a estrita obrigação de partilhar algo do que aprendi sobre a matéria...
O critério editorial é uma coisa muito importante. Em primeiro lugar, por ser coisa que não abunda na natureza.Com efeito, o critério editorial é um dom que só os jornalistas têm.
É um elemento diferenciador do seu ADN: não se tendo esse elemento, não se tem critério jornalístico. É escusado tentar!...
Poderá perguntar-se se alguém, não tendo esse elemento no seu ADN, pode ser jornalista e ter critério editorial. Deixarei a resposta para um outro “post”. Mas o critério editorial tem algumas especificidades. Como estamos em Portugal, o gene de tal critério jornalístico tem que ser burocraticamente enquadrado: ele só se manifesta depois de o seu portador estar inscrito no Sindicato!...
A inscrição é o marcador do gene: sem inscrição e sem cédula, o critério não se revela no ADN, pelo que o seu exercício é ilegal.
Apesar de genético, o critério jornalístico pode perder-se: só se mantém nos jornalistas bactereologicamente puros.
Estes são os que sempre viveram no ambiente das redacções, das noitadas e dos bares próprios de jornalistas.
Há factos, no entanto, que o potenciam, como, por exemplo, ser Assessor de um Presidente da República socialista.
Mas também há factos que fazem, inexoravelmente, perder o dom. Por exemplo, quem experimentou ser Assessor de um Primeiro-Ministro social democrata perde imediatamente o gene.
Para não se dizer que isto é teoria, dou o exemplo do Jornalista Fernando Lima: não podia ser Director do DN, porque a proximidade com Cavaco, há 10 anos, o fez perder, inexoravelmente, o gene do critério editorial.
O critério jornalístico está como o olho clínico para os médicos, mas com uma diferença: enquanto nem todos os médicos têm olho clínico, todos os jornalistas têm critério.
É por esse facto que muitas vezes o título da 1ª página não condiz com o título da 4ª página e a notícia não condiz com nenhum dos títulos: a situação é explicável por lutas no interior da redacção sobre qual o critério mais afinado. Concluindo-se que todos são afinados, a notícia reflecte todos. Isso é critério jornalístico.
Além do mais, se não discutimos o medicamento prescrito pelo olho clínico do médico, porquê discutir o título, se ele é determinado por um ADN específico?
O critério jornalístico é ainda a “ultima ratio”, quando, em conversa amiga ou discussão acesa, o jornalista não consegue explicar a razão de ser de determinada notícia, de determinado título ou a escolha de um comentador em detrimento de outro: “critério editorial, meu amigo!...”

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