Sempre me impressionou muito o episódio da Torre de Babel e o modo como a incapacidade de falarem uma língua comum pôs termo à ambição dos homens construirem uma torre que chegasse ao céu. Continuamos, persistentemente, a tentar construir torres que nos conduzam ao Paraíso (ou ao poder?) mas o obstáculo de encontrar uma linuagem que nos una continua intransponível.
A construção de uma Europa mais e mais alargada, com princípios de bem estar e de desenvolvimento social cada vez mais inclusivos, é um sonho de que não podemos desistir, mas a língua que julgámos comum já quase não é entendida por ninguém - sobram algumas palavras que já não encontram eco em muitos que se sentiram confiantes e e os discursos que se ouvem são já tão estilizados que não se apreende o sentido.
Por coincidências da vida profissional, estive estes últimos dias em Paris e pude assistir "ao vivo" ao ambiente que rodeou este referendo, uma espécie de "detonador" de um descontentamento latente, uma espécie de raiva surda que esconde a impotência ou o medo. Impotência para mudar e, em simultâneo, conservar o que se tem. Medo de ter que avançar sem saber ao certo se o futuro é esperança ou desespero. Os debates a que assisti, alguns muito interessantes e com pessoas muito bem informadas, mostram bem como é complexa a encruzilhada em que nos encontramos e o esforço imenso que será necessário para progredir num caminho comum. Será que, como conta uma história índia, andámos depressa demais e o nosso espírito ficou para trás? Ou estaremos condenados a desistir de uma língua comum e abandonar a ambição que nos movia?
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