Horas mortas ... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido ..., e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca, Poesia Completa, Publicações D.Quixote, Lisboa, 2001, p.336
1 comentário:
Ontem e hoje atravessei o Alentejo. Senti tristeza pela desolação. Recordo-me que há alguns anos, por esta altura, atravessei o mesmo espaço completamente colorido de verde. Ao ver a foto e ao ler o poema de Florbela Espanca senti um duplicar ou triplicar da tristeza.
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