Não consigo compreender como é que algumas pessoas com responsabilidades sociais e religiosas são capazes de afirmações tão baixas a tocar a própria obscenidade. Recentemente, três autoridades religiosas vieram a terreiro de uma forma pouco consentânea com o seu estatuto. Um a ameaçar a torto e a direito, através de anúncio, as pessoas que apoiassem o aborto ou que utilizassem práticas contraceptivas. Outro, a fazer afirmações sobre o valor da vida humana, hierarquizando-a em função do momento em que se encontra, com prioridade para os embriões! Agora vem um terceiro a afirmar que, fruto das legislações, irão ocorrer abortos aos milhões e que os contentores hospitalares vão transbordar de crianças (é verdade, disse crianças) mortas e corpos esquartejados de bebés, lançados em lixeiras. Mas que loucura, meu Deus! Será que estamos perante um caso de insanidade? Será que os médicos são animais ou carrascos e os hospitais matadouros?
Há uma corrente de fundamentalismo religioso traduzida pelo comportamento de alguns responsáveis. É certo que a proporção de mentecaptos, perversos, loucos, desonestos, entre outros aspectos menos positivos, é uma constante em todas as classes e grupos profissionais. Mas há classes que, pelas suas elevadíssimas responsabilidades sociais, deviam ter mais tento na língua e comportarem-se à altura do seu ministério. No mínimo o que posso afirmar é que estamos perante uma baixeza ofensiva da dignidade dos seres humanos.
Compreendo que hajam correntes que se oponham a certos comportamentos. É legítimo e é de respeitar, desde que se comportem com elevação.
Relativamente ao assunto do aborto, chamo a atenção, apenas, para o seguinte pormenor: pratica-se aos milhares entre nós, infelizmente, reconheço. Conheço muitas mulheres que o praticaram. Muitas, mesmo. Os médicos são depositários de segredos muito importantes. Que me lembre, todas, sem excepção, são mulheres extraordinárias, muitas, católicas praticantes, socialmente influentes, maternalmente competentes, femininas, respeitadoras e consideradas nos diferentes empregos. Não me compete apregoar o quer que seja, em termos morais, ao comportamento e motivo das senhoras. Nada. Recordo-me das palavras de um eminente escritor norte-americano sobre os médicos. Aos médicos não compete apregoar qualquer tipo de moral, mas sim dar a absolvição a todos quantos os procuram.
Para mim, as senhoras que me confiaram os seus segredos, merecem o máximo respeito e consideração.
Escrevo este pequeno desabafo, porque o que tem sido dito é uma ofensa para muitas mulheres. São dignas. Pelo menos aos meus olhos.
1 comentário:
aborto, quanto a mim é um assunto difícil. As suas palavras, no entanto, estou com elas e obrigado pela sua partilha.
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