Outro dia profundamente intenso… e interessante, como verão.
A primeira reunião foi na
House of Representatives, às 10 da manhã, uma das duas câmaras que compõem o Congresso (a outra é o Senado, em que estive à tarde). De manhã, o encontro foi com o Dr. W. Christopher Leahy,
Policy Coordinator and Counsel do
Committee on Energy and Commerce,
Subcommittee on Commerce, Trade and Consumer Protection.
Fiquei a saber como se trabalha no Congresso, nomeadamente a interligação entre a
House of Representatives e o Senado, e as relações de ambos com os
Departments do Governo dos EUA; como se trabalha em comissão e no plenário desta Câmara e, enfim, a interligação do
staff das Comissões (a que pertence o meu anfitrião, na Comissão acima mencionada) com o
staff dos Deputados e o
staff dos Senadores. E assim soube que, ao contrário do que sucede em Portugal, se trabalha muito mais em reuniões de Comissão do que em Plenário; não é que este não reúna, não é isso. Agora, o que se passa é que, tal como sucede no Parlamento Europeu, só os deputados que têm a ver com o debate em questão é que lá estão. Os outros, estarão ocupados com outras tarefas e, sem dúvida, com uma produtividade bem mais elevada do que se estivessem no Plenário a assistir a um debate que, provavelmente, pouco lhes diria… Acho que por aqui é perceptível a diferença para o que se passa na nossa Assembleia da República, a que pertenço. Já no passado tentei sem sucesso, caminhar neste sentido; podem estar certos que quando regressar, o continuarei a fazer, quiçá com mais intensidade…
Enfim, ainda apurei que é exigida exclusividade aos membros do Congresso (quer os Deputados que formam a
House of Representatitives, 435 no total, eleitos a cada dois anos em círculos nominais; quer os Senadores, 100 no total, 2 por cada Estado com mandatos de 6 anos e que são eleitos a cada dois anos, 1/3 de cada vez), e que cada um deles aufere, em termos líquidos, em média, cerca de 3 vezes mais do que um Deputado Português e tem um
staff à sua disposição de cerca de 30 membros, entre secretárias, assessores, adjuntos… para além de um
plafond de despesas de representação. Ora aqui está uma forma com a qual me identifico (quem me conhece melhor sabe que penso assim – já pensava antes de ser deputado… –, e que se devia exigir exclusividade aos deputados, melhorando substancialmente as suas condições financeiras e de trabalho, incluindo
staff… que é, a nível individual, virtualmente inexistente). Ah, e já agora: nos EUA, quando um Deputado ou Senador cessa funções, tem direito a um subsídio de reintegração, proporcional ao tempo em que esteve a servir o país nessas funções (lembram-se do que fez o Engº Sócrates nesta matéria, ainda há uns meses a esta parte?... E não, não estou a falar disto porque me atingiu também a mim…– nunca o fiz até agora, e só devido ao que hoje soube aqui nos EUA o estou a fazer). Enfim, condições que reputo de acertadas, e que permitem que um Deputado, eleito pela população, cumpra o seu dever com o máximo de dignidade.
Enfim, condições que só posso qualificar como correctas ou apropriadas (invejáveis, para nós), e que permitem que um Deputado, eleito pela população, cumpra o seu dever com o máximo de dignidade.
Outro pormenor, que também marca a diferença para o que se passa em Portugal: nos EUA, só as duas Câmaras do Congresso podem ter iniciativas legislativas – o Governo não pode. “Só” tem poder executivo. Claro que isto confere aos eleitos pelo povo uma importância acrescida e faz com que, obrigatoriamente, o Governo esteja em permanente contacto com ambas. Claro que uma ideia legislativa pode partir do Executivo – mas nunca poderá ser este a apresentá-la. Isso terá sempre que ser feito através do Congresso.
Finalmente, devo dizer que por aqui ninguém entende como é que uma Câmara de Deputados, como a Assembleia da República, pode ser dissolvida. “Como?”, perguntam os americanos. “Os 'eleitos pelo povo' podem ser impedidos de terminar o seu mandato por
outro 'eleito pelo povo' (nota minha: o Presidente da República)? Qual a legitimidade?” Não, absolutamente impensável para “eles”… e, acrescento eu, elucidativo. De facto, se pensarmos bem… tendo ambos sido eleitos pelo povo…
Bem, chega de falar de política e da classe política!
No caminho para a reunião seguinte, às 13:30, passei pela
Congress Library (fantástica), pelo
Supreme Court (imponente) e detive-me em frente à Casa Branca, a famosa
White House (não podia deixar de o mencionar!...). O almoço foi uma
pizza numa dessas cadeias de
fast food que por aqui proliferam (ainda mais do que em Lisboa) e seguiu-se então uma reunião no
Council of Economic Advisors do Presidente Bush, com uma equipa de três
advisors liderada pela Dra. Christine A. McDaniel,
Senior Economist for International Trade deste mesmo
Council. Foi igualmente interessante, mas a visão que me foi dada quer da economia dos EUA e dos seus problemas e perspectivas, quer do comércio internacional e da globalização, foi muito a “linha oficial”, sem grandes desvios (se é que me faço entender…). Assim, tendo sido interessante, podia na verdade ter sido… bem melhor.
Agora, a seguir sim, foi um verdadeiro espectáculo:
The Brookings Institution, uma “think tank”, e a reunião com o
Chairman, Prof. Barry P. Bosworth. Foi uma hora de troca de impressões, mas ainda lá podíamos estar a esta hora!... Que senhor dinâmico (apesar dos cabelos brancos), que raciocínio fantástico, que visão mais moderna da economia! Enfim, falámos de tudo, EUA, Portugal, Europa, Ásia, opções de política económica
in an ever changing world… realmente fantástico! Acho que constituiu um ponto tão alto como a reunião no FMI, ontem. Sem dúvida os melhores, pelo menos até agora.
A seguir, voltámos à zona do Congresso, desta vez para uma reunião no Senado (
Senate), com o Dr. Stephen Schaefer,
International Trade Counsel, do
Committee on Finance. Uma conversa muito semelhante à que já tinha tido de manhã na
House of Representatives, desta vez relacionada com o Senado, e que também foi muito profícua.
Enfim, depois passámos pelas instalações do
Delphi International Program of World Learning (que administra o Programa através do qual fui convidado pelo
Department of State do Governo dos EUA), e que visou passar em revista os Programas para as cidades de Seattle, Dallas, Boston e New York, ou seja, para o resto do Programa, a partir de Sábado, Abril 29, dia em que parto de Washington, DC (ou só DC, como “eles” dizem) para Seattle.
Como ontem já tinha referido que aconteceria, tive depois o jantar com os meus conhecidos (e amigos) portugueses que cá estão em DC, Nuno Mota Pinto, André Lince de Faria, Rita Ramalho e o seu namorado (o brasileiro Marcos, quadro do FMI, como o André) e o Dr. António Gamito, Conselheiro na Embaixada de Portugal em DC, que conheci neste jantar. Só faltou, em relação ao café de ontem, a Rita Sá Couto, o que foi pena, mas pronto, paciência… Foi excelente, num restaurante libanês na zona de Georgetown. Boa disposição, convívio óptimo, as experiências internacionais de cada um (deles!) nos EUA e não só, e, claro, depois, não podia faltar o nosso país, a situação que atravessamos, etc. Por fim ofereceram-me o jantar!... A todos o meu público muito obrigado por um serão inesquecível e que guardarei sempre como ponto alto da minha presença em DC.
O Nuno, que simpaticamente já me tinha vindo buscar ao hotel, veio depois cá deixar-me, e agora é hora de dormir, até porque, acima não referi, mas quando acabei a reunião no Senado estava positivamente de rastos… E neste sentido de dizer que “isto” não é propriamente turismo, falta-me acrescentar ao
post de ontem que é, de facto, um Programa muito cansativo, mas a oportunidade é única, e vale bem o sacrifício das “saudades” de aqui estar sozinho… Isto, claro, para além dos eventos que estes fantásticos americanos – e são mesmo, cada vez mais tenho a certeza disso! – me vão proporcionar extra-Programa, a maioria dos quais porque manifestei interesse. Já assim foi com a visita ao Pentágono de segunda-feira passada, e assim será amanhã, quando assistir, às 20 horas locais (1 da manhã em Lisboa), ao primeiro jodo do
play-off da NBA (pois é, é verdade!...), no
Verizon Center, entre os Washington Wizards e os Cleveland Cavaliers (este apontamento foi só para vos fazer crescer água na boca…). Quando posso, vejo as transmissões que a SportTV faz dos jogos da NBA, e nunca assisti a nenhum ao vivo. Ora, penso eu, deparando-se-me esta oportunidade, não seria idiota em não aproveitar?!...
Enfim, no
post de amanhã faço o relato!
Antes de terminar, só uma nota que já deixei num comentário ao meu
post de ontem (que aqui quero enfatizar), e que tem a ver com a suspeição da “nossa” comentadora Marga, que supõe que a minha viagem aos
States saiu do bolso dos contribuintes portugueses, isto é, de todos nós (aliás, devo confessar que nem percebo bem o intuito da suspeição…). Ora, vamos lá esclarecer o assunto, para que não fiquem dúvidas. Creio que no meu
post “0” referi que era convidado do Governo dos EUA. Para mim, quando me convidam, tal significa que não tenho que me preocupar com nada, nem com aspectos financeiros – a não ser que mo digam explicitamente. Como também referi no meu
post de terça-feira, Abril 25, nesse dia foi-me entregue o meu “
per diem”, a quantia que o
Department of State estimou que, em média, eu gastaria por dia durante a minha estadia. E que, portanto, cobrirá, em média, as minhas despesas de hotéis, alimentação, e transportes (claro que se, por exemplo, eu quiser comer muito bem a todas as refeições, não chegará; mas também se comer
fast (ou
junk)
food a toda a hora, ainda sobrará…). Como o
Department of State ainda paga as passagens de avião, cara Marga, são de facto os contribuintes que financiam a minha viagem, é certo, mas os contribuintes… norte-americanos, e não portugueses! Pelo que folgo muito com a sua preocupação em relação ao destino dos dinheiros pagos pelos contribuintes dos EUA!... Questão encerrada?!...
Até amanhã a todos!