Estômago e Cérebro

Todos, os quase todos, sabem o que é a sensação de fome, a qual, sendo despertada pela libertação de uma hormona no estômago, denominada grelina, acaba por se dirigir a toda a velocidade ao cérebro, obrigando-nos a procurar alimentos. Quando o estômago começa a encher diminui a sua produção. A par desta hormona existem outras que têm efeito oposto e são libertadas no intestino, produzindo a sensação de saciedade. Deste modo, deveria existir um equilíbrio entre a que estimula a fome e as que produzem efeito oposto. Acontece que, em muitas pessoas, este equilíbrio não é alcançado, facto que poderá justificar a manutenção da fome, acabando, consequentemente, por promover a obesidade. Claro que há outros fenómenos na génese da obesidade.
A forma de comer e o tipo de alimento podem provocar este desequilíbrio, nomeadamente, o facto de os hidratos de carbono serem absorvidos rapidamente e antes da produção da hormona inibidora do apetite, ao contrário do que ocorre quando alimentos ricos em proteínas e gorduras chegam ao intestino. Neste último caso a sensação de fome desaparece mais rapidamente.
Há um aspecto muito interessante associado à grelina. Além de estimular o apetite, esta hormona favorece e estimula a memória. Quando se ministra grelina ou se consegue aumentá-la, em animais de experiência, é possível verificar aumento da capacidade da memória e maior facilidade na aprendizagem.
Muitas pessoas utilizam a “técnica” de não comer quando têm de enfrentar situações delicadas ou exigentes. “Perdem o apetite”. Quem sabe se não é uma forma de auto-estimulação. No fundo, “opta-se” por uma fome controlada e passageira, porque, quando é intensa e duradoira, tem efeitos muito negativos, comprovando a afirmação de Virgílio, na Eneida, segundo o qual, “ a fome é má conselheira”.
Os portugueses habitualmente misturam os alimentos, batatas, salada, feijão, carne, arroz e peixe. Se tomarmos em linha de conta os últimos achados poderemos obter melhores resultados no emagrecimento. Por exemplo, o que aconteceria se os portugueses ingerissem em primeiro lugar a carne, as verduras, os legumes e depois o arroz, as batatas e o feijão? Poderiam melhorar a libertação das diferentes hormonas e, desta forma, contribuir para o controlo da epidemia de obesidade ao reduzir a sensação de fome.
O emagrecimento nacional é um imperativo face à nossa realidade e contribuiria, também, para melhorar as capacidades intelectuais! Na prática, o “emagrecimento” existe, como é fácil de constatar pela maioria das pessoas, só que não tem impacto na gordura circundante dos lusos abdomens, só para falar de uma parte do corpo.
Barbosa Lima Sobrinho afirmou, um dia, o seguinte: “Ninguém consegue ser subversivo após uma feijoada”. Presumo que a mesma afirmação se poderá aplicar, também, a um bom cozido à portuguesa ou a um apetitoso prato de bacalhau. Sendo assim, corremos o risco de continuar a engordar por um lado e a “emagrecer” por outro, ao arrepio do que seria desejável…