Portugal sofreu, em termos demográficos, modificações muito importantes nas últimas décadas traduzidas num rápido envelhecimento e numa forte redução da fertilidade. Estes fenómenos ocorreram, igualmente, noutros países, mas com uma ressalva, como já tinham alcançado um estatuto de riqueza e de desenvolvimento tornou-se mais fácil lidar com os problemas inerentes à nova situação.
Trabalhar mais anos e reduzir o valor das pensões – medidas anunciadas pelo primeiro-ministro – já tinham sido equacionadas há mais de trinta anos. É óbvio que, se tivessem sido tomadas atempadamente em consideração, teriam evitado não só situações desagradáveis para os actuais trabalhadores, mas também a emergência de "reformados prematuros".
A desertificação e o envelhecimento de muitas regiões do país estão na base de algumas medidas curiosas assumidas por alguns responsáveis autárquicos. A mais recente prende-se com a autarquia de Vila de Rei que começou a "importar" jovens casais brasileiros com filhos pequenos. Aparentemente, é compreensível a aflição da presidente da câmara face ao despovoamento e envelhecimento do seu concelho. Mas, podemos perguntar, será que o sangue tropical irá expressar-se no aumento da fertilidade? A sociologia explica que, rapidamente, as populações imigrantes acabam por adquirir os hábitos e costumes da nova realidade social. Estamos perante uma transfusão sanguínea meramente paliativa. Se a causa da hemorragia não for tratada, em breve, serão necessárias novas transfusões, porque os descendentes dos jovens colonos irão comportar-se de forma idêntica aos autóctones.
O governo está ciente (só agora!) que é preciso “estimular” a natalidade, sem sombra de dúvida, a melhor solução para combater o envelhecimento. Medidas já enunciadas vão nesse sentido, embora muito timidamente. Quer penalizar, em termos de taxa social única para a Segurança Social, caso não tenham filhos ou apenas um, ou, numa perspectiva oposta, beneficiar quem tiver três ou mais filhos. Claro que começam logo com as excepções. Os que ultrapassarem a idade fértil não serão abrangidos. Assim, a partir dos 50 anos, nada! Fora de prazo! Não sei quais as razões para esta discriminação. Da parte feminina, vá que não vá, mas da parte masculina, alto lá! Então, não se toma em linha de conta o sábio provérbio de que "homem velho e mulher nova filhos até à cova"? Será que o governo dispõe de dados que possibilitem inferir uma eventual falta de libido ou de potência sexual, entre os portugueses? Estão velhos, mas não estão mortos, penso eu! Se for um problema de potência é possível, na maioria dos casos, a sua resolução, desde que os respectivos fármacos sejam comparticipados. Provavelmente, o efeito mediático de uma medida destas seria suficiente para garantir a reeleição de qualquer governo ou facultar a subida da oposição ao poder!
A notícia, segundo a qual, em 2005, se venderam menos 700 mil preservativos do que em 2004, é preocupante. Podemos interpretar este fenómeno de várias maneiras. É de lamentar se a diminuição corresponder a descuido na sua utilização, o que não abona nada a favor da prevenção da sida, por exemplo. Se for sinónimo de menos relações sexuais, então, há algo que não vai bem no nosso reino. Quanto à existência de um mercado negro de preservativos é muito pouco provável, mas nunca se sabe! Quanto ao método ABC (abstinence, be faithful, condom), não acredito que se tenha instalado em Portugal. Se assim fosse já seríamos conhecidos como o Uganda da Europa, o que daria muito nas vistas! Também não há provas de que tenha havido qualquer açambarcamento no ano anterior, pelo que, à falta de melhor, opto pela diminuição da actividade sexual. E porque não? Envelhecimento, falta de futuro, instabilidade, tristeza, ansiedade, muitos ansiolíticos e antidepressivos, entre outros, podem dar cabo de "coisinhas" muito importantes...
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