Recordo-me de na segunda metade de 1999 ter iniciado, com este título, a publicação de uma série de artigos no Diário Económico, com intervalos de mais ou menos três semanas, nos quais tentei chamar a atenção para os graves erros de política económica que, na minha opinião, acarretavam sérios riscos para o desempenho futuro da economia portuguesa.
Esses artigos tinham este mesmo título “Para onde vamos?”.
Na altura, as minhas chamadas de atenção foram consideradas quase uma heresia.
Fui mesmo apelidado de “ave agoirenta” pelo actual Presidente da Assembleia da República, numa intervenção feita no Parlamento, para além de muitas outras farpas que recebi de pessoal do “establishment”.
Vivia-se ainda então um período de euforia despesista, tínhamos acabado de entrar no primeiro pelotão do euro (expressão muito usada nesse tempo), as taxas de juro tinham baixado muito, entramos numa espiral de endividamento, parecia que tudo era fácil e o discurso oficial estimulava a despreocupação em relação ao futuro.
Mas não era preciso ser profeta para perceber que aquela euforia não poderia durar muito, pois assim como não há “almoços grátis” também não é possível passar a vida a gastar muito mais do que aquilo que se produz.
Para além disso, a participação numa zona monetária como a do euro formulava grandes exigências, especialmente a países como o nosso que nas duas últimas décadas tinha vivido uma fase de grande instabilidade macroeconómica. E parece que ninguém, entre nós, se dava conta disso.
Isto passou-se há quase 7 anos.
O que aconteceu entretanto, todos sabemos, a tal “ave agoirenta” estava cheia de razão, infelizmente.
Afastado de qualquer forma de intervenção política há cerca de 18 meses, por opção pessoal, tenho vindo a assistir, tranquilamente, a toda uma série de episódios e de mensagens políticas que durante este período se vêm sucedendo a um ritmo mais ou menos frenético.
Apercebo-me de que existe o propósito, a nível oficial, com uma amplíssima colaboração dos “media”, de passar uma imagem de que tudo está a ser feito para inverter o rumo dos acontecimentos num país em manifesta crise de confiança e em muito grave crise económica.
Raro é o dia em que não é anunciado um novo projecto ou lançada uma nova ideia, para suscitar debate e para transmitir a impressão de que as coisas estão a mudar, de que existe um novo rumo, na direcção de um progresso inevitável e da superação da crise que teima em perseguir-nos.
Em muitos aspectos parece-me que estamos a reviver o ambiente de 1999, é certo que com outros matizes, com outros actores, com uma encenação porventura mais sofisticada.
Mas, com franqueza, também me apercebo de que nos encontramos hoje numa situação bem mais complexa do que a que vivíamos há 7 anos.
E que a avassaladora campanha de imagem com que nos tentam convencer de que as coisas estão a mudar tem muito de artificial e muito pouco de substancial.
Parece-me que vai ficar muito pouco, de todas as promessas de renovação, de reestruturação, de simplificação e ainda menos de saneamento das finanças públicas.
Confesso que sinto extrema dificuldade em descortinar uma saída airosa para a situação em que nos encontramos, não obstante o optimismo do discurso oficial.
Entendi, assim, que faria sentido voltar a usar a epígrafe “Para onde vamos?”, nos primeiros textos que vier a publicar, ao longo dos próximos tempos, neste prestigiado blog da “quarta republica” para o qual fui amavelmente convidado. E no qual militam bons Amigos e companheiros de um projecto político iniciado com muita esperança no dealbar de 2002 mas que terminaria sem glória no final de 2004, após um primeiro e forte solavanco sofrido em meados desse ano.
Vamos a ver se sou capaz de transmitir uma mensagem que não seja desta vez apelidada de pio de “ave agoirenta”…Ou se aqueles que me lançaram esse apelido desta vez têm mais cautela… Para onde vamos?
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