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sexta-feira, 28 de abril de 2006

Reflexões Norte-Americanas

Meus caros, depois de ver as reacções que o meu último post (relativo a ontem, quinta, Abril 27), provocou (sobretudo a reconciliação da Marga com o Anthrax – ainda bem!!!), não podia deixar de partilhar convosco, enquanto tenho meia hora até à próxima reunião, com o Embaixador de Portugal aqui nos States, algumas reflexões. Umas provocadas pela Marga, outras ainda ao nível político-parlamentar, e que têm também a ver com o comentário do José Mário Ferreira de Almeida.

Cara Marga, comecemos por si.

Depois das desculpas (aceites, mas nem tinha que as pedir, no hard feelings!!!), pergunta-me você por que estou tão activo no blog só agora que saí do país. Sabe, em parte, isso justifica-se exactamente por isso – por estar longe de Portugal. Na verdade, tenho feito alguns posts bem longos (peço desculpa, mas a variedade tem sido grande, e como o objectivo a que me propus foi partilhar convosco o que vou vendo e aprendendo por aqui), e que dão algum trabalho. Mas quando os estou a escrever, sinto que estou em contacto com Portugal, muitos amigos meus e familiares (entre os quais os meus pais), para além dos nossos "Republicanos" militantes têm seguido as minhas peripécias através destes posts… E isso é muito importante… Para quem está fora, quase diria que não tem preço… Mesmo com o Programa cheio (mas fantástico) que tenho vindo a cumprir, chego à noite cansado, mas não me deito sem mandar daqui notícias…
Já é diferente a realidade quando estou em Portugal. Primeiro, não há este “huge ocean ahead”, como “eles” dizem, que nos separa… Estou aí (não sei se me faço entender…). E é certo que poderia publicar no blog muito mais do que o faço, eu sei. E muitas vezes me lembro de o fazer, quando tomo nota de alguns acontecimentos que por certo mereceriam comentários. Mas depois, por isto ou por aquilo, penso “é mais logo” ou “é amanhã” e… de repente, já passou o timing… Isto para além de que ser Deputado e ao mesmo tempo estar ligado ao BES – como penso que todos sabem que estou – tem também os seus custos em termos de tempo… E ainda há a coluna no Jornal de Negócios de quinze em quinze dias, que também dá algum trabalho (mas muito gozo!...) e, portanto, como tenho o hábito de cumprir as minhas obrigações profissionais (e nem admitia que fosse de outra forma…) muitas vezes, quem perde é a família, porque os fins de semana são bem mais curtos e, por vezes, se bem que excepcionalmente, praticamente inexistentes. Daí que o blog, com muita pena minha, também sofra um pouco.
Estarei agora eu desculpado, cara Marga? Enfim, o que lhe posso prometer é que este meu tour pela América também teve o mérito (entre outros…) de tornar a minha actividade republicana bem maior, e isto é contagiante… pelo que, quando regressar, estou certo que me verá a publicar muito mais vezes.

Vejamos agora a reflexão mais político/parlamentar. Estava consciente de que quando abordei, no meu post de ontem, a questão dos Deputados nos EUA e em Portugal, as suas condições (incluindo financeiras), a organização de trabalhos, etc. estava a tocar numa questão que é tudo menos consensual. E que, sendo eu Deputado, as minhas opiniões podem ser deturpadas e mal-interpretadas.
Mas resolvi correr o risco. Desde logo, porque nunca tinha manifestado opinião sobre o assunto.
Ora, quando comparei realidades tão díspares, era difícil ficar calado…
Poderão dizer: contra mim falo, porque não estou em exclusividade parlamentar. É verdade. É-me permitida esta opção e, desde que cumpra com o meu dever para ambas as instituições (como julgo que tenho cumprido), estou tranquilo. Aliás, chegou-me aos ouvidos que a “Visão” publicou um trabalho ontem sobre a actividade dos parlamentares, em que eu apareço como um dos mais interventivos. O que é sempre positivo (ainda que eu ache que tenho beneficiado pelo facto de as questões do défice e da economia continuarem na ordem do dia… mas disso, não tenho eu culpa, não é?). Porém defendo, realmente, que os parlamentares deviam ter exclusividade, como acontece com os membros do Governo – o que obriga a condições, financeiras e não só, como observei no post de ontem… – bem diferentes das actuais. E depois, aí, quem quiser quer, quem não quiser, segue a sua vida noutras funções (se me fosse colocado, logo avaliaria a situação, até porque gosto realmente do que faço, quer enquanto Deputado, quer no BES).
Mas há aqui outro ponto, e percebo quando o nosso comentador PP refere a delicadeza da questão da disparidade dos rendimentos existente em Portugal e da melhoria das condições dos Deputados. Claro que é delicado, e é também por isso que ponderei antes de escrever sobre isso, como já acima referi. Mas julgo que o problema é bem mais profundo do que isso. Primeiro: acho que isso se devia aplicar a toda a classe política, isto é, também a Governantes, e mesmo órgãos autárquicos, e não apenas a Deputados. Dou um exemplo, para perceberem onde quero chegar. Então mas existe lá alguém mais importante para um país do que um Presidente da República ou um Primeiro-Ministro?... Eleitos pelo povo, não é verdade?! Mas então, não deveriam dispor das condições dos melhores, ou então muito perto disso? Que responsabilidade maior existe ao nível nacional do que gerir os destinos de um país?!... Ora, por exemplo, na Malásia (que não me parece seja um dos países mais avançados do Mundo…), o salário do Primeiro-Ministro corresponde a 80% da média do salário dos 20 CEO melhor remunerados no país. E, uma vez determinado este valor, daí para baixo é estabelecida uma tabela para todos os outros cargos políticos, isto é, outros membros do Governo, Membros do Parlamento, Autarcas, etc.
É que, meus amigos, se assim não for, duvido que se consiga, de facto, atrair os melhores para o exercício da vida política activa, e julgo que é o destino do país em questão que fica em jogo. E é toda uma população que poderia viver melhor, mas não vive…
Escusado será dizer que, concordando com a exclusividade de funções para qualquer titular de cargo político, sou naturalmente favorável a que, quando as suas funções cessem, tenham direito a um subsídio de reintegração. Afinal, quanto mais tempo se está a defender o interesse público (dos eleitores) e não na vida produtiva (chamemos-lhe assim), mais dificuldades se tem depois em “regressar” ou entrar. Como referi no post de ontem, nos EUA isto também sucede, e é proporcional ao tempo em que se esteve investido em funções, isto é, quanto mais tempo, maior esse subsídio. Afinal, o mesmo sistema que vigorava em Portugal e que recentemente foi abolido (parece que uma parte muito considerável do que fazemos é em sentido contrário ao que devíamos fazer, não é?!...).

Quanto à idade de reforma, e às condições da reforma em si, não vejo por que não devam os políticos regular-se pelas regras “normais”… Os mesmos descontos, as mesmas condições, a mesma idade de reforma de qualquer outro cidadão do regime geral. Curiosamente (ou talvez não....), também assim sucede nos EUA.

Julgo que só desta forma, proporcionando "outras" condições (a nível funcional e financeiro) conseguiremos atrair não só os melhores para a arena política, como atraí-los em maior número relativamente ao que hoje sucede. E, assumindo-se uma qualquer referência nacional (veja-se o exemplo da Malásia), estamos a guiar-nos por padrões internos, que têm a ver com a nossa realidade, e não de quaisquer outras paragens. De outro modo, continuaremos alegremente a empobrecer, ano após ano, legislatura após legislatura, mandato após mandato, a qualidade média dos eleitos pelo povo.

Obviamente, o facto de tudo “isto” sobre o qual tenho vindo a reflectir não se passar, não justifica o que se passou recentemente no Parlamento, que em nada dignifica (antes pelo contrário) quer os Deputados, quer os políticos em geral.

Aliás, foi mesmo devido a este assunto que há pouco soube que o Jornal “24 Horas”andou a visitar o nosso blog e resolveu meter-se comigo, através de uma senhora chamada Gracinha de Sousa Botelho, que não conheço de lado nenhum, mas que se admitiu fazer considerações sobre os meus relatos e a viagem que, apesar do nome que possui, não têm… qualquer gracinha (foi em Abril 27, na coluna “Quentes e Boas”). Sobretudo quando refere – e isto não poderia deixar de passar em claro – que fazer esta viagem foi um excelente motivo para "me baldar" ao Parlamento. Além de ser de profundo mau gosto, cara Senhora Gracinda de Sousa Botelho, eu não tenho o costume de me baldar seja ao que for. Tenho compromissos, e procuro sempre respeitá-los. O convite para esta viagem surgiu no final do ano passado, devido, em boa parte, ao facto de ser Deputado na Assembleia da República. Logo que se colocou a questão, verifiquei quer com o Grupo Parlamentar do PSD, quer com o BES, se seria possível realizar a viagem, e qual a melhor altura para o fazer. E foi assim que se chegou a este período, que acaba em 14 de Maio. Portanto, saio devidamente autorizado e as minhas ausências foram atempadamente justificadas. E mesmo aqui nos EUA, tenho acompanhado (à distância, claro…), quer a actividade parlamentar, quer a minha área no BES, quer mesmo a nível partidário. A este nível, por exemplo, tenho pena de não votar nas primeiras eleições directas para Presidente do PSD!... Mas quando elas foram marcadas, já este compromisso estava há muito assumido…
O que não posso aceitar é que se escreva que arranjei esta desculpa para me “baldar” ao Parlamento… Francamente!… Mas é o estilo de alguns jornalistas em Portugal, que nem se incomodam a apurar a verdade, o que interessa é que a notícia seja “picante”…

Enfim, partilho estas reflexões convosco e, sobretudo, na questão “dos políticos” sei que me estou a expor – mas até a escrever o “Diário” isso acontece, como ficou provado pela notícia do “24 Horas”! Portanto… o assunto já não é novo, muito se escreve sobre ele – sobretudo em vésperas de actos eleitorais – e há sempre quem esteja a favor e contra…

E é tudo. Até mais logo, quando escrever o post relativo ao dia de hoje, a seguir ao jogo da NBA (e perdoem-me a prolixidade)…

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