Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Vai-te catar!


A componente social dos congressos e reuniões científicas é muito importante, porque permite rever velhos amigos, travar novos conhecimentos e passar uns bons momentos.
Os jantares são uma constante, não deixando de constituir, nalgumas circunstâncias, uma importante fonte de angústia. Em primeiro lugar, porque me obriga a permanecer sentado durante horas a fio, o que é um incomodo, fazendo com que compreenda melhor os miúdos que, ao fim de algum tempo, começam a sentir bichos-carpinteiros e desejos de se levantarem. Em segundo, porque não sabemos quem nos vai calhar na mesa. Como as mesas comportam, de um modo geral, oito pessoas, ou mais, é fácil de concluir a dificuldade em estabelecer conversas, agravadas pelo barulho de fundo e de outras mesas. Mas há, igualmente, outros aspectos que merecem atenção especial. É o caso do palavroso que, numa vaidade sem limites, monopoliza a conversa impedindo a intervenção dos restantes.
A linguagem é uma característica humana que tem, entre outros aspectos, uma função muito especial que é a de manter a união entre as pessoas. O mecanismo de união que precedeu a linguagem como factor determinante da interacção social foi o catamento, fenómeno típico dos primatas.
Voltando aos jantares de congresso, se a conversação for uma forma de catamento social, então, a linguagem permite-nos catar vários indivíduos ao mesmo tempo. Mas há limites para esta forma de catamento, ou seja, três indivíduos. Assim, se a conversa envolver mais do que quatro pessoas, rapidamente dividir-se-á em duas ou mais ao fim de meio minuto. Deste modo, seria melhor, que, na altura em que se constituíssem as mesas, fosse eleito um presidente e um secretário, os quais definiriam os tempos e a entrada na conversa! Com esta metodologia, aumentava-se o número de ouvintes e limitavam-se as intervenções de algum “chato” que, democraticamente, também tem direito a falar. Aqui está a justificação para criar assembleias sempre que estejam presentes mais do que um orador e três ouvintes!
Robin Dubar, no seu livro, A História do Homem – uma nova história da evolução da humanidade, traça considerações muito interessantes em termos de psicologia evolutiva. A certa altura diz que falar é uma forma de descansar, enquanto ouvir é duro. Acredito plenamente, até, porque já senti vontade, e mais do que uma vez, de dizer ao palavroso insuportável que me calhou na rifa: - vai-te catar!
Afinal, fiquei a saber que é uma atitude própria de um vulgar primata…

1 comentário:

Massano Cardoso disse...

Estou bem arranjado!...