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segunda-feira, 17 de abril de 2006

Na melhor das hipóteses… sou uma não-entidade!...

Não se riam, que os meus amigos também são!...Ora leiam!...
Na semana da Páscoa, o Teatro Carlos Alberto, do Porto, promoveu um ciclo dedicado à dramaturgia de Luísa Costa Gomes, iniciado com a peça Um Filho, encenada por Ana Tamen.
Segundo o DN, a peça coloca, nas palavras de Luísa Costa Gomes, esta questão fundamental : "Quem sou eu quando não sei quem o outro é?". O outro, neste caso, é o "filho", alguém que penetra no seio de uma família e desarruma as ideias feitas, guardadas "muito limpinhas nas estantes da sala."E quem é este "filho", podemos perguntar e pergunta uma das personagens… Será "uma criança ilegítima? Um bastardo? Um filho da mãe? O fruto de folias fora da lei?". Para Ana Tamen trata-se de uma "criatura neutra", uma "não entidade", sem qualquer tipo de interesses ou aspirações.
A encenadora, que considera Um Filho como peça de "camadas"…aponta as "fissuras" que existem no casal, que existem no interior de qualquer família ou indivíduo, como o elemento que se vai revelando (e escancarando) pela acção da "criatura".
Meus amigos, todos somos filhos e, pelos vistos, todos tivemos o desplante de abusivamente penetrar no seio de uma família e de desarrumar as ideias feitas, guardadas muito limpinhas nas estantes da sala…Se querem saber quem são, se uma criança ilegítima, ou um bastardo, ou um filho da mãe, ou o fruto de folias fora da lei, não há como ver a peça…
Mas, meus amigos, se os nossos pais foram pessoas de bem e de bons costumes, restar-nos-á concluir, na melhor das hipóteses, que somos uma "criatura neutra", ou, bem pior, uma "não entidade", sem qualquer tipo de interesses ou aspirações!...
Resumindo, e no bom vernáculo adequado à peça: segundo a distinta encenadora, ou somos filhos da puta, ou “não entidades”, sem qualquer tipo de interesses ou aspirações, não há alternativa!...
Mas filhos da puta ou “não-entidades” que asseguram o pagamento da peça, da autora e da encenadora…evidentemente!...
E , já agora, a pergunta: e a encenadora e a autora o que são?
Assim vai o nosso teatro!...

8 comentários:

Tonibler disse...

Caamarada Pinho Cardão,

É uma peça que esbraceja sem tessitura ficcional que a torne parte de um fluxo de uma ficção com antes e depois! Não me diga que não reconheceu logo o padrão...Quem poderemos ser quando não sabemos quem o outro é? Já agora, quem é a Luisa Costa Gomes?...


PS:Bem, se fizer hobby disto (de ler as críticas e explicações destas "obras d'arte") tem material para um best seller! De certeza! Continue!...

Anónimo disse...

Como pode o Pinho Cardão pedir para não rir?
Aliás, o post fez-me lembrar um diálogo anedótico, entre um filósofo e um discipulo, acerca do "eu".
Por decoro - sim, que este blog é muito sério! - não a posso contar. Mas estou convencido que alguns dos que por aqui passam e conhecem a estória, ao ler o post do meu Amigo, não deixarão de rir ... duas vezes!

Anthrax disse...

Mas... pode-se dizer palavrões neste blogue???... Agora fiquei perdido...

Bom, de qualquer forma, estou a ver que o Dr. PC anda muito virado para a «coltura» deste país. Pois acho que faz muito bem, há que levantar a voz contra estas manifestações pseudo-culturais e mais, pena é que os teatros não tenham livros de reclamações ou um questionário de avaliação no fim da peça, porque os resultados deveriam ser bastante interessantes.

Tirando isso, odeio ver questões filosóficas tratadas de forma tão mundana, vulgar e ordinária. Irrita-me tanto que me começa, logo, a tremer o olhinho.

Massano Cardoso disse...

No contexto em que foi utilizada não considero ter havido uso inapropriado da palavra, e, por este motivo, não deve ser interpretada como um palavrão.
Achei curioso a afirmação do Anthrax, segundo o qual, o nosso estimado Pinho Cardão anda virado para a “coltura” do país. O exemplo descrito não deve ser encarado como um problema “coltural” mas mais “coitoral”…

Anthrax disse...

Olá olá Sr. Professor :)

Deixe-me esclarecer aqui um ponto (de vista e que é meu), apesar de ter dito que era o Dr. PC que estava mais virado para a "coltura", penso que na realidade ele está mesmo é virado para a cultura (ou para aquilo que andam a fazer dela).

Quem, efectivamente, está virado para a "coltura" sou eu. Mas isso é porque sou mais agressivo que o dr. PC e até acho que estes "fait divers" até se resolviam bem e de forma pacífica se eu tivesse uma "Colt" na mão.

Eh eh, estou "brincating" :)

Tirando isso, acho que cada um tem o direito de se exprimir como quiser e muito bem entender desde que o faça ou com os seus próprios recursos, ou com o apoio de algum mecenas. Viver à pala dos dinheiros públicos (fundos para os quais eu tenho de contribuir), é que não.

Virus disse...

EHP!... Mas é pra isto que vai o meu dinheiro???!!!...

Bom... bem visto Tonibler, quem é a Luísa Costa Gomes?

Eu cá não sei, mas que ela não deve ter filhos (ou então não sabe que os tem) lá isso não deve! E se os tem... bom... adiante...

De qualquer forma, e numa nota mais séria, subscrevo o que o Anthrax comenta sobre a questão colocada por esta peça de teatro (?!), no entanto (e a meu ver) ela passa completamente ao lado da verdadeira questão dos nossos dias, e essa questão deveria ser antes colocada de outra forma que deveria ser:

"COMO SABER QUEM O OUTRO É, SE EU NEM SEI QUEM EU SOU?"

E esta é a grande questão da nossa sociedade, que de alguma forma estes blogs (como a 4R) tentam ajudar a esclarecer, onde todos nós podemos "aparecer" e dizer o que, e quem, realmente somos... sem medo de represálias ou abusos de outros (desde o Estado até aos indivíduos).

Arrebenta disse...

A Paixão de Israel


Como Cidadão do Mundo, e, particularmente, como exilado interno lusitano, venho, através deste texto, associar este blogue a um dos momentos mais negros da nossa História Nacional.

Como está largamente documentado na Rua da Judiaria, celebram-se, no dia 19 de Abril, os 500 anos do infame massacre perpetrado pelos nossos antepassados sobre os antepassados dos nossos concidadãos de credo judaico. Um pouco por todo o lado se pede que nos associemos, e nesse dia acendamos, no Rossio, uma vela evocativa. Contudo, mais importante do que essa vela, convém que saibamos reacender a vela de uma memória interior.

Não me vou ater aqui a pormenores históricos, estão devida, e lapidarmente, descritos na Rua da Judiaria: em 1506, terão, por alto, sido chacinados e queimados vivos cerca de 4 000 dos nossos compatriotas, mais do que compatriotas, vizinhos de Lisboa, tão-só por uma diferença de credo, algumas referências de texto, e diferentes denominações daquele deus único dos 3 Monoteísmos.

Quando me falam de Judeus, de Cristãos e de Muçulmanos, imediatamente me acorre à ideia o Califado de Córdoba, onde, nos tempos intermédios da Reconquista, essas três religiões se uniram, para dar lugar a uma das mais espantosas florações culturais da Península, onde os pensares eram comuns, as sinagogas moçárabes, os príncipes cristãos versados nas línguas mouras, o filosofar árabe assimilado por todas as teologias, e as Igrejas de Cristo um lugar de cultos partilhados. Tudo o resto foi, depois, uma mera sombra cultural.

Portugal, país ingrato, mostrou-se sempre exímio em mutilar as suas melhores cabeças: num tempo de acolhimento, começou por juntar os restos dos perseguidos Templários com o ancestral Saber Judeu. Daí terá resultado a nossa única epopeia, a dos Descobrimentos, até que príncipes mal aconselhados, ao sabor das conveniências, resolveram substituir a Convivência pela Intolerância, obrigando ao exílio, à mentira da pele de uma religião forçada (o que é um cristão-novo, senão mais uma alma humilhada?...), e, por fim, a essa indesculpável hecatombe, iniciada em 19 de Abril de 1506.

Toda a nossa épica sucumbe nessa forçada Segunda Diáspora, onde as melhores mentes judaicas acabaram por levar o seu saber para as terras da tolerante Holanda, tornando-a na nova potência, que rapidamente substituiu o soçobrado Império Português.

Faz parte da cruz judaica a régua de dois saberes: 1) a de que mais tarde, ou mais cedo, ele será perseguido; 2) a de que, posto que essa perseguição inexoravelmente virá, lhe convém estar, ao máximo, preparado para ela. Isto gerou Judeus ricos, e Judeus sábios, e à volta disto, semeou-se sempre uma infindável história de mal disfarçadas invejas.

Quando ligo a televisão, tudo o que sinto de repulsa pelo presente xadrez de ódios do Próximo e do Médio Oriente consegue estender-se até esse dia de há 500 anos atrás. Dir-se-á que estão distantes, e que são povos que nos são quase alheios; todavia para quem invoca, repetidamente, o lema do país dos brandos costumes, relembro que esses bárbaros de há meio milénio atrás, também foram nossos antepassados, ou, por palavras outras, para que conste, que todos nós, Portugueses de hoje, deles descendemos, e descendemos em linha directa de culpa.

Anthrax disse...

Ó dr.PC! Estava a brincar quando perguntei se podíamos usar palavrões. Não os uso no meu blogue e muito menos no dos outros. Quando estou verdadeiramente possesso ponho asteriscos :) (que na maior parte das vezes representam as expressões mais utilizadas quando, por exemplo, uma pessoa bate com o dedo pequeno do pé na borda da cama).

De resto, estou perfeitamente de acordo consigo no que toca ao tópico da cultura.