O Ferreira de Almeida evocou o 28 de Setembro de 1974. Como qualquer grande data, esse dia da Intentona, ou Inventona, tem as suas histórias ou trágicas ou pitorescas. Aqui vai uma verdadeira, com o protagonista ainda vivo, ainda que já padecendo de muita velhice e de outros achaques correlativos.
F. T. era um dos grandes agrários, como então se dizia, deste país. Às suas herdades recebidas por herança juntara as enormes fazendas da mulher.Era rico, dos maiores em Portugal, possuidor de bens que não volatilizam às arremetidas dos mercados, riqueza fundada em bens fundiários e acrescida anualmente dos enormes proventos da cortiça.
Era um homem discreto. O seu nome nunca aparecia nos jornais, sendo uma ou outra vez notícia uma ou outra das suas casas agrícolas. Não sendo criador de touros, também não via o nome nos cartazes, como muitos dos seus amigos, aquando das festas taurinas.
Era poupado e tostão mal gasto não fazia parte da sua cartilha. Todavia, quando a família se juntava, fazia sempre questão de pagar o almoço!...
Não era exibicionista e os seus carros eram modestos. Tinha como luxo um motorista, que o acompanhava sempre nas visitas às herdades, para ver os trabalhos das sementeiras ou das colheitas, para falar com os capatazes ou superintender na recolha da cortiça. Não lhe pagava nem muito nem pouco, mas o motorista sentia-se bem ao acompanhar o patrão nas conversas e desabafos compartilhados durante os frugais almoços de sandes de chouriço ou presunto e de uns belos tragos de vinho à sombra dos sobreiros ou das azinheiras.
No dia 28 de Setembro de 1974 mandou carregar na sua carrinha 4L o que restava de uma valiosíssima antiguidade, sob a forma de peças de uma mesa e de umas cadeiras, para as vir restaurar em Lisboa. Com o motorista, pôs-se a caminho da capital.
Em pleno Alentejo, uma barricada mandou-o parar. Vários camaradas se aproximaram: donde vêm, para onde vão, o que trazem, têm armas, para que quer essa tralha que aí traz, vão à manifestação?, etc, etc. Pois, vinham de Beja, iam para Lisboa, as cadeiras eram para compor, não queriam saber de política. Mas deviam, pois por isso é que os latifundiários estavam a explorar os trabalhadores e a boicotar a economia. E seguiu-se uma sessão de pedagogia política!...
Por último, acercou-se um outro indivíduo e pediu-lhes a identificação. O nosso agrário esquecera-se da carteira e não tinha qualquer documento. Mau, disse o camarada, não o deixo passar sem identificação. A discussão chamou a atenção de um camarada supervisor, que também se aproximou. Que se passa? O sujeito não quer identificar-se... Não é isso, esqueci-me dos documentos….Mostre lá a bagagem!... Já a viram... Mostre lá, ande!...Visionada a tralha, avaliado o conteúdo, a ordem do camarada supervisor: nem eu queria esta porcaria, deixa lá passar, que este é dos nossos!...
F. T. era um dos grandes agrários, como então se dizia, deste país. Às suas herdades recebidas por herança juntara as enormes fazendas da mulher.Era rico, dos maiores em Portugal, possuidor de bens que não volatilizam às arremetidas dos mercados, riqueza fundada em bens fundiários e acrescida anualmente dos enormes proventos da cortiça.
Era um homem discreto. O seu nome nunca aparecia nos jornais, sendo uma ou outra vez notícia uma ou outra das suas casas agrícolas. Não sendo criador de touros, também não via o nome nos cartazes, como muitos dos seus amigos, aquando das festas taurinas.
Era poupado e tostão mal gasto não fazia parte da sua cartilha. Todavia, quando a família se juntava, fazia sempre questão de pagar o almoço!...
Não era exibicionista e os seus carros eram modestos. Tinha como luxo um motorista, que o acompanhava sempre nas visitas às herdades, para ver os trabalhos das sementeiras ou das colheitas, para falar com os capatazes ou superintender na recolha da cortiça. Não lhe pagava nem muito nem pouco, mas o motorista sentia-se bem ao acompanhar o patrão nas conversas e desabafos compartilhados durante os frugais almoços de sandes de chouriço ou presunto e de uns belos tragos de vinho à sombra dos sobreiros ou das azinheiras.
No dia 28 de Setembro de 1974 mandou carregar na sua carrinha 4L o que restava de uma valiosíssima antiguidade, sob a forma de peças de uma mesa e de umas cadeiras, para as vir restaurar em Lisboa. Com o motorista, pôs-se a caminho da capital.
Em pleno Alentejo, uma barricada mandou-o parar. Vários camaradas se aproximaram: donde vêm, para onde vão, o que trazem, têm armas, para que quer essa tralha que aí traz, vão à manifestação?, etc, etc. Pois, vinham de Beja, iam para Lisboa, as cadeiras eram para compor, não queriam saber de política. Mas deviam, pois por isso é que os latifundiários estavam a explorar os trabalhadores e a boicotar a economia. E seguiu-se uma sessão de pedagogia política!...
Por último, acercou-se um outro indivíduo e pediu-lhes a identificação. O nosso agrário esquecera-se da carteira e não tinha qualquer documento. Mau, disse o camarada, não o deixo passar sem identificação. A discussão chamou a atenção de um camarada supervisor, que também se aproximou. Que se passa? O sujeito não quer identificar-se... Não é isso, esqueci-me dos documentos….Mostre lá a bagagem!... Já a viram... Mostre lá, ande!...Visionada a tralha, avaliado o conteúdo, a ordem do camarada supervisor: nem eu queria esta porcaria, deixa lá passar, que este é dos nossos!...
2 comentários:
Delicioso!
uma história como só o dr pc sabe contar...
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