Em Espanha, a entrada dos sistemas de pontos foi acompanhada de uma diminuição acentuada de acidentes rodoviários fatais. O receio em ser penalizado, com os consequentes amargos de boca, fez com que os automobilistas espanhóis passassem a ser mais cuidadosos. Perante esta situação, os cidadãos questionam por que motivo as autoridades não tomaram esta atitude mais cedo, já que podiam ter sido poupadas muitas vidas. Aqui está uma pergunta pertinente e que se prende com o papel dos governos que adiam ou demoram a tomada de iniciativas que visam a protecção, saúde e bem-estar das pessoas. Não há dúvida que a função regulamentadora da lei – que muitos consideram como uma intromissão na vida das pessoas e até como um "atentado" aos direitos de cada um – acaba por ter efeitos muito positivos na saúde e bem-estar. Vejam-se os exemplos da introdução dos cintos de segurança, o estabelecimento dos limites da alcoolemia, as inspecções periódicas obrigatórias dos veículos automóveis, o uso das cadeirinhas e os cuidados especiais no transporte de crianças, na redução dos acidentes e das suas consequências. Claro que o mais difícil, e mais complexo, está ainda por fazer, que é "educar" as pessoas.
A melhoria da educação cívica leva muito tempo a produzir efeitos, mas, de qualquer modo, as medidas legais que acabamos de descrever, além de terem um efeito directo, também exercem pressão na interiorização de uma melhor consciencialização cívica.
Outro aspecto de natureza regulamentar prende-se com a proibição de fumar. Alguns países já adoptaram medidas nesse sentido. Entre nós, aguarda-se com natural ansiedade a publicação da lei. Parece que começa a haver alguns recuos face à pressão dos interesses da indústria da hotelaria e da restauração. Se tal acontecer é muito mau sinal, porque os trabalhadores deverão ser protegidos das agressões dos clientes, assim como os não-fumadores. Começam a surgir evidências de que as medidas legais de restrição ao consumo de tabaco se acompanham de diminuição de mortalidade e morbilidade. Perante estes elementos, os cidadãos (conscientes) poderão perguntar: se o Estado sabia que estas medidas eram positivas para proteger a saúde, por que razão não as tomou há mais tempo?
Outro aspecto, importante em termos de saúde, diz respeito à alimentação. Más práticas aliadas a uma patética globalização estão a criar uma perturbadora epidemia de obesidade a que não escapam as crianças nem povos, tradicionalmente, "magros". Hoje, é possível ver chilenos, portugueses, chineses e outras comunidades a rebentarem pelas costuras, bamboleando bóias abdominais como se fosse a coisa mais natural do mundo! Come-se mal, e com tendência para uma uniformização, o que é um perfeito disparate. Comer o mesmo prato em Montevideu, Pequim, Maputo ou em Coimbra, com os mesmos ingredientes e idêntico sabor, é uma realidade que tende a generalizar-se em detrimento da alimentação tradicional, a qual devia ser incentivada. Não devemos esquecer que a alimentação tradicional respeita vários factores, nomeadamente a interacção entre o nosso património genético e as condições ambientais, próprias da região onde nascemos e vivemos.
Sabendo da impossibilidade em regulamentar a alimentação, em termos de hábitos, como é óbvio, mesmo assim os legisladores têm a obrigação de intervir no controlo da qualidade dos alimentos e na proibição de alguns produtos, por exemplo, a utilização de óleos e azeite ricos em ácidos gordos trans que abundam na restauração e cujos efeitos na saúde são muito perigosos. Podíamos focar outros aspectos, desde a utilização excessiva de sal a muitos aditivos artificiais, passando pelos contaminantes naturais e não naturais. Um dia, os cidadãos perguntarão, por que razão só "agora" é que o Estado tomou estas iniciativas? Em termos práticos, o Estado já deveria ter tomado medidas regulamentares, porque já sabia dos seus impactos na saúde. Mas, ao não fazer, como pedir responsabilidades aos seus actores?
Na política, vão saindo uns, outros vão entrando, a um ritmo tal, que cada um acaba por tirar a água do capote, com a maior naturalidade, sempre que se pensa em responsabilidade!
Responsáveis políticos que respeitem a saúde e bem-estar dos cidadãos são bem-vindos. Não os que adiam, mas também não os que querem vender gato por lebre, porque também os há, infelizmente...
A melhoria da educação cívica leva muito tempo a produzir efeitos, mas, de qualquer modo, as medidas legais que acabamos de descrever, além de terem um efeito directo, também exercem pressão na interiorização de uma melhor consciencialização cívica.
Outro aspecto de natureza regulamentar prende-se com a proibição de fumar. Alguns países já adoptaram medidas nesse sentido. Entre nós, aguarda-se com natural ansiedade a publicação da lei. Parece que começa a haver alguns recuos face à pressão dos interesses da indústria da hotelaria e da restauração. Se tal acontecer é muito mau sinal, porque os trabalhadores deverão ser protegidos das agressões dos clientes, assim como os não-fumadores. Começam a surgir evidências de que as medidas legais de restrição ao consumo de tabaco se acompanham de diminuição de mortalidade e morbilidade. Perante estes elementos, os cidadãos (conscientes) poderão perguntar: se o Estado sabia que estas medidas eram positivas para proteger a saúde, por que razão não as tomou há mais tempo?
Outro aspecto, importante em termos de saúde, diz respeito à alimentação. Más práticas aliadas a uma patética globalização estão a criar uma perturbadora epidemia de obesidade a que não escapam as crianças nem povos, tradicionalmente, "magros". Hoje, é possível ver chilenos, portugueses, chineses e outras comunidades a rebentarem pelas costuras, bamboleando bóias abdominais como se fosse a coisa mais natural do mundo! Come-se mal, e com tendência para uma uniformização, o que é um perfeito disparate. Comer o mesmo prato em Montevideu, Pequim, Maputo ou em Coimbra, com os mesmos ingredientes e idêntico sabor, é uma realidade que tende a generalizar-se em detrimento da alimentação tradicional, a qual devia ser incentivada. Não devemos esquecer que a alimentação tradicional respeita vários factores, nomeadamente a interacção entre o nosso património genético e as condições ambientais, próprias da região onde nascemos e vivemos.
Sabendo da impossibilidade em regulamentar a alimentação, em termos de hábitos, como é óbvio, mesmo assim os legisladores têm a obrigação de intervir no controlo da qualidade dos alimentos e na proibição de alguns produtos, por exemplo, a utilização de óleos e azeite ricos em ácidos gordos trans que abundam na restauração e cujos efeitos na saúde são muito perigosos. Podíamos focar outros aspectos, desde a utilização excessiva de sal a muitos aditivos artificiais, passando pelos contaminantes naturais e não naturais. Um dia, os cidadãos perguntarão, por que razão só "agora" é que o Estado tomou estas iniciativas? Em termos práticos, o Estado já deveria ter tomado medidas regulamentares, porque já sabia dos seus impactos na saúde. Mas, ao não fazer, como pedir responsabilidades aos seus actores?
Na política, vão saindo uns, outros vão entrando, a um ritmo tal, que cada um acaba por tirar a água do capote, com a maior naturalidade, sempre que se pensa em responsabilidade!
Responsáveis políticos que respeitem a saúde e bem-estar dos cidadãos são bem-vindos. Não os que adiam, mas também não os que querem vender gato por lebre, porque também os há, infelizmente...
2 comentários:
« Hoje, é possível ver chilenos, portugueses, chineses e outras comunidades a rebentarem pelas costuras, bamboleando boias abdominais como se fosse a coisa mais natural do mundo! »
Puxa Professor, que visão dantesca! :))
Ok, dantesca mas, infelizmente, verdade. Ainda se só víssemos esse inferno nas praias, era como o outro. Mas, vê-se em todo o lado. Então nos centros comerciais, é de fugir!
Tirando isso, não posso deixar de concordar consigo em qualquer um dos aspectos focados, incluindo na questão da proibição de fumar. Eu sou fumador e não me choca nada cumprir as regras cada vez que me desloco a Bruxelas ou a Dublin (nem tenho crises de ansiedade, nem palpitações, nem nada disso).
Mas atenção que isto, não é a mesma coisa que discriminar pessoas só porque fumam (como fez o outro irlandês idiota). Nestes sítios, ninguém está a proíbir as pessoas de fumar, apenas dizem que se querem fumar têm de o fazer noutro sítio.
Caro Professor Massano Cardoso
Apenas uma pequena achega quanto à diminuição de sinistralidade em Espanha com os "pontos".
É verdade que diminuiu a sinistralidade e quase que se já se alcançou o objectivo do Governo de diminuir em 25%.
Mas, tambem aumentou a fiscalização e, agora, com meios sofisticados como seja radares móveis instalados em carros anónimos. Os "pontos" apenas fez com que os automobilistas cumprissem mais as normas, em especial os limites de velocidade.
Não vale limitar se não fazemos cumprir eficazmente a lei.
A proposito, se estou sozinho e posso, dificilmente (nunca), cumpro os limites, já andei e ando por essa Europa e só fui "apanhado" quatro vezes e sabe aonde? Em Espanha. Porquê? Porque fiscalizam e bem
Cumprimentos
Adriano Volframista
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