Não, não estou a referir-me ao nosso astuto comentador Tonibler, mas sim ao ainda Primeiro-Ministro e Leader do Partido Trabalhista Britânico, conhecido por Tony Blair.
Se as previsões e compromissos não falharem – em política não há impossíveis – Blair deixará a liderança do Partido primeiro (lá para Maio/2007) e logo a seguir a chefia do Governo britânico (Julho/2007).
Vale a pena, parece-me, tentar abstrair do turbilhão de notícias que se têm sucedido para meditar sobre alguns aspectos mais pessoais do enredo que conduziu ao anúncio da provável saída prematura de Blair, confirmada esta semana no congresso do Partido Trabalhista reunido em Manchester.
Tenho a noção de que por trás desta história estão, com certeza, a ambição, a intriga e a traição, condimentos quase obrigatórios nestas guerras internas pela sucessão das lideranças políticas.
Neste caso, avulta a figura de Gordon Brown, Chanceller do Tesouro (Ministro das Finanças) e agora, como de há muito se admitia, sucessor mais provável de Blair na chefia do Partido e do Governo (até ao termo do mandato deste, lá para 2008/9).
Brown tem manobrado no sentido de forçar a partida antecipada de Blair, tornou-se agora claro para toda a gente.
As suas relações com Blair nos últimos anos não foram boas, e Blair, que de inocente não tem nada, deve de há muito ter percebido as ambições de Brown.
Curiosamente, como todo o sucessor nestas circunstâncias, Brown pretende agora dar público testemunho da sua amizade “sólida” com Blair e elogiar aquele a quem espera em breve suceder.
Fê-lo na sua intervenção desta 2ª Feira no Congresso. Quem parece não ter gostado nada desse elogio foi a mulher de Blair, Cherie, que terá murmurado, para algumas pessoas ouvirem, qualquer coisa como isto “Isso é uma mentira!”.
A divulgação deste murmúrio parece ter tido forte impacto nos media britânicos, começando a ganhar relevo o estatuto de “traidor” atribuído a Brown, com inevitáveis repercussões para a sua imagem e popularidade.
Tento imaginar como se sentirá Blair hoje, depois de ter obtido um feito único na história da política britânica, com três vitórias consecutivas para os Trabalhistas em eleições parlamentares.
E agora obrigado a abandonar a liderança do Partido e do Governo sob a pressão dos seus correlegionários e em consequência das manobras de um dos seus mais directos colaboradores e seu provável sucessor.
Blair, que é um político nato e brilhante, conseguiu ontem fazer um discurso de “despedida” no Congresso que arrebatou a plateia, merecendo hoje os mais rasgados elogios da imprensa britânica. The Guardian”, “Daily Telegraph”, “The Times”, “The Sun”, são unânimes em considerar esse discurso como notável, para fazer história e eclipsando o discurso algo enfadonho de Brown, na véspera.
Blair deve naturalmente sentir-se desiludido e talvez amargurado, com certeza desejoso de ver G.Brown tropeçar e estatelar-se quando começar a sentir a crueza das dificuldades do cargo futuro para as quais não terá as qualidades do antecessor.
A sua mulher não menos, com certeza.
Não sei bem porquê, mas tenho a impressão de que Blair ainda virá a dar cartas na política britânica, quer Brown venha a suceder-lhe ou não.
3 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Um link para o nosso blogue na palavra "Tonibler" ajudava nas audiências.
Obrigadinho...
Sim, que não hajam confusões...;)
Há uns meses a SIC Notícias passou uma reportagem da BBC sobre a reforma educativa que Blair estava a propôr ao parlamento chamada "Higher Standards, Better Schools for All" (meter no Google e vão parar ao site da reforma).
Além do programa nos envergonhar a nós portugueses pela forma como a Grande Política é feita (não é com pactos de regime, é com cada um dos deputados a saber exactamente no que estão a votar), o programa mostrava o complicado jogo de forças que é o Partido Trabalhista, originalmente uma união de sindicatos. Imaginemos que o sindicato dos professores, em Portugal, não só era contra as reformas do governo como era o próprio partido do governo. A Maria de Lurdes não durava dois dias.
A Blair cabia a missão de aprovar a Lei, não com a maioria dos votos dos deputados, mas com a maioria dos votos dos deputados trabalhistas, porque a aprovação estava garantida pelos votos conservadores. A reportagem ia dando a evolução das opiniões dos deputados da ala esquerda à ala direita. Uma das opiniões de uma dirigente da ala esquerda do partido (uma espécie de BE) foi espantosa, qualquer coisa como: "...não temos a menor dúvida que o PM acredita que esta á a melhor solução para o país e para os nossos filhos. Nós não temos é a mesma opinião."(se fosse em Portugal estavam logo a chamar-lhe trafulha incompetente, ao bom estilo Louçã)
Perante o cenário bastante provável de a lei ser aprovada por causa dos conservadores com a oposição dos trabalhistas, que representava a demissão de todo o governo, o reporter pergunta a Blair "porque é que não retira a Lei". Este responde "porque continuo a acreditar que é o melhor para o país" (se fosse em Portugal o PM formava uma comissão para deixar tudo na mesma).
Tony Blair ficará na história do Reino Unido como ficou Churchill, Tatcher ou Major. A democracia inglesa proporciona isso, a possibilidade de cada um fazer o que é melhor para o país, mesmo que pareçam um bando de vaidosas à procura de subir. Quando a coisa é a sério, os políticos ingleses "levantam-se à ocasião" como eles dizem e, assim, fazem história. Porque são responsáveis de facto!
Aquilo que devia envergonhar os portugueses é que para fazer história, um político cá precisa de matar ou de morrer.
bom tonibler,isso que diz acerca de o partido trabalhista ser um "complicado jogo de forças" é um pouco redundante.todos os partidos são assim . a diferença do labour é que os sindicatos perderam a sua força apenas porque já não são o principal financiador.o que obrigava os lideres do labour a fazerem uma forte ginada á esquerda.hoje já não é assim e foi isso que permitiu a terceira via.
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